Etiópia. Biden e Ahmed falaram sobre como chegar ao cessar-fogo no Tigray
O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, falou hoje com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, sobre como acelerar o caminho para um cessar-fogo, e lamentou as vítimas causadas pelos ataques aéreos lançados pelo Exército.
© AMANUEL SILESHI/AFP via Getty Images
Mundo Etiópia
Numa conversa telefónica, Biden e Abiy conversaram sobre a guerra que há mais de um ano decorre na região de Tigray, no norte da Etiópia, entre o Exército e os separatistas da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF) e, segundo a agência Efe, os dois líderes insistiram na necessidade de um cessar-fogo.
Os dois políticos "conversaram sobre formas de acelerar o diálogo até um cessar-fogo negociado, a urgência em melhorar o acesso humanitário a toda a Etiópia e a necessidade de fazer frente às preocupações sobre os direitos humanos de todos os etíopes afetados", disse a Casa Branca, em comunicado.
"O Presidente Biden expressou a sua preocupação que as constantes hostilidades, incluindo os recentes ataques aéreos, continuem a causar vítimas e sofrimento entre os civis, e reafirmou o compromisso dos EUA de trabalhar com a União Africana e parceiros regionais para ajudar os etíopes a resolver pacificamente o conflito", acrescenta-se ainda na nota citada pela Efe.
A conversa dos líderes norte-americano e etíope acontece no mesmo dia em que se soube que cerca de 50 pessoas, deslocadas internas devido ao conflito, morreram na sexta-feira num bombardeamento, de acordo com uma fonte das Nações Unidas.
"Cerca de 50 pessoas morreram como resultado do bombardeamento, incluindo 12 crianças, segundo fontes médicas do hospital Shire [cidade na região centro-norte da província]", disse o porta-voz do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), Saviano Abreu, citado pela Efe.
O bombardeamento provocou ainda 138 feridos, acrescentou Saviano Abreu, que destacou a impossibilidade do OCHA em confirmar mais detalhes do bombardeamento, incluindo o número de vítimas na ação, que teve como alvo um campo de refugiados em Dedébit.
Os rebeldes da TPLF responsabilizaram o Exército governamental, através de um comunicado divulgado domingo.
"A falta de cuidados médicos e de combustível está a complicar a assistência aos feridos", disse ainda o porta-voz do OCHA.
Fontes humanitárias confirmaram que o bombardeamento em Dedébit, por um lado, e a falta de combustível, por outro, levaram algumas organizações a suspender as suas atividades naquela região.
A guerra no Tigray eclodiu em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o Exército federal para a província no norte do país, com a missão de retirar pela força as autoridades locais da TPLF, que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.
Abiy Ahmed declarou vitória três semanas depois da invasão, quando o Exército federal capturou a capital, Mekele. Em junho deste ano, porém, as forças afetas à TPLF já tinham retomado a maior parte do território do Tigray, e continuaram a ofensiva nas províncias vizinhas de Amhara e Afar.
Em novembro, as forças de Tigray e forças insurgentes aliadas da Oromia (outra província etíope) começaram a retirar das áreas ocupadas para a região de origem. Em contrapartida, o poder em Adis Abeba comprometeu-se em não voltar a invadir a província rebelde.
O Exército federal está nas fronteiras de Tigray e retomou o controlo de várias posições anteriormente nas mãos das forças da TPLF em Amhara e Afar.
O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.
A ONU estima, por outro lado, que entre novembro e dezembro tenham sido detidas entre 5.000 e 7.000 pessoas, incluindo membros do seu pessoal, sobretudo de etnia tigray.
Os intensos esforços diplomáticos, incluindo os da União Africana, para alcançar um cessar-fogo, não produziram até agora qualquer progresso decisivo.
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