São Tomé e Príncipe. Legislativas marcam ano de primeiro furo do petróleo
As eleições legislativas, no último trimestre vão marcar o ano em São Tomé e Príncipe, com incertezas sobre o regresso do líder da oposição, a renovação da 'nova maioria' no poder e expetativas sobre a primeira perfuração petrolífera.
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Mundo São Tomé e Príncipe
A eleição de Carlos Vila Nova para a Presidência da República, com o apoio da Ação Democrática Independente (ADI, na oposição), em setembro de 2021, aumentou a incerteza dos são-tomenses para as eleições legislativas de outubro de 2022.
"Pode-se cometer o erro de tirar ilações de uma eleição presidencial numa eleição legislativa", adverte o analista político Celsio Junqueira, referindo que "os partidos políticos gostam de tirar dividendos de tudo o que seja positivo para as suas ações políticas."
Junqueira não tem dúvida que "o ADI vai usar essa estratégia" e "projetar para a possibilidade de ganhar as eleições legislativas com base neste movimento que deu origem à vitória de Carlos Vila Nova".
O regresso do seu líder, Patrice Trovoada, ausente do país desde 2018 depois de ter falhado a formação de um novo Governo na sequência das legislativas e o seu reconhecimento formal pelo Tribunal Constitucional é uma das questões que o partido deverá resolver com a realização do congresso eletivo antes das legislativas.
Celsio Junqueira acredita que o regresso de Patrice Trovoada é quase uma certeza, uma vez que considera ser "muito difícil ir as eleições estando no estrangeiro".
A 'nova maioria' composta pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP/PSD), PCD-MDFM-UDD, que, segundo o primeiro-ministro, sofreu um "ligeiro abalo" com a derrota do seu candidato na segunda volta das presidenciais, também apresenta incertezas.
Segundo as promessas do primeiro-ministro e líder do MLSTP/PSD, 2022 será o ano de remodelação governamental, apesar do receio de queda do Governo na Assembleia Nacional pela eventual falta de consenso entre o seu partido e a coligação PCD-MDFM-UDD que suportam o executivo no parlamento.
Bom Jesus prometeu também uma "interpartidária" para reativar a coligação e "preparar novas estratégias" para as legislativas, num ano em também deverá ser conhecido o novo ministro da Defesa e Ordem Interna, substituído interinamente pelo próprio primeiro-ministro desde agosto.
As eleições de 2022 terão pela primeira vez a participação dos são-tomenses residentes na diáspora que vão poder eleger e serem eleitos, quer em listas de partidos tradicionais ou através da criação de novos partidos.
"Partidos como o MLSTP/PSD e o ADI, que são do arco da governação e que podem governar sozinhos, estão preparados para disputa acérrima do poder em São Tomé e Príncipe, até porque no próximo ano vai haver o primeiro furo na nossa zona económica exclusiva, o que atiça mais os 'beligerantes políticos' na disputa pelo poder", antevê Celsio Junqueira.
O primeiro furo de petróleo deverá acontecer em março de 2022, no bloco 6 da zona económica exclusiva de São Tomé e Príncipe onde operam a petrolífera anglo-holandesa Shell e a portuguesa Galp a cerca de 100 quilómetros da costa, numa área de 5.024 quilómetros quadrados em águas territoriais são-tomenses com cerca de 2.500 metros de profundidade, numa extensão cinco vezes superior à área das ilhas de São Tomé e Príncipe.
"A natureza deste tipo de projetos, historicamente, diz-nos que apenas um em cada dez projetos é economicamente viável. Então, isso quer dizer que um poço pode não provar o potencial do próprio bloco ou até do país", disse Vanessa Gasparinho, representante da Galp e da Shell em São Tomé e Príncipe.
Celsio Junqueira considera que "o primeiro furo [de petróleo] atiça mais os beligerantes políticos na disputa pelo poder, ou seja, vindo a possibilidade de entrada de um volume de receitas como é o petróleo, a disputa entra num novo patamar."
Os funcionários públicos também estarão com expetativas sobre mais receitas, tendo em conta a nova proposta de salário mínimo que será apresentada pelo Governo em janeiro de 2022, na sequência de memorando de entendimento com a Organização Nacional dos Trabalhadores de São Tomé e Príncipe (ONSTP).
Após o recuo na implementação da revisão de reajuste salarial, rejeitado pela própria ONSTP, os trabalhadores queixam-se de aumento do custo de vida, também agravada pela pandemia de covid-19.
Se o Governo falhar nas negociações do salário mínimo, poderá iniciar o ano com uma paralisação geral da administração pública, já em janeiro, tal como já anunciou a maior central sindical do país.
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