Cartum, 08 nov 2021 (Lusa) - O general Abdel-Fattah al-Burhan, líder do golpe de Estado no Sudão, afirmou que não vai ocupar uma posição governamental após as eleições planeadas para 2023 e reiterou hoje que vai entregar, nesse ano, o poder a civis.
O anúncio do general não impede outros generais de topo de perderem os seus títulos militares para se tornarem candidatos.
No final do outubro, os militares dissolveram o Governo de transição do país e prenderam mais de 100 funcionários do Governo, líderes políticos e um grande número de manifestantes e ativistas.
Desde então, pelo menos 13 manifestantes foram mortos devido às forças de segurança do país, segundo médicos sudaneses e as Nações Unidas.
No domingo, as forças de segurança lançaram gás lacrimogéneo a mais de 100 manifestantes, a sua maioria professores, que se encontravam em Cartum a protestar contra o golpe de Estado.
Em comentários difundidos no domingo pela rede de notícias televisivas por satélite da Al-Jazeera, Burhan disse que as forças de segurança não foram responsáveis pela morte de manifestantes.
O general afirmou que as forças militares foram obrigadas a assumir o poder por causa das disputas entre partidos políticos que poderiam conduzir a uma guerra civil.
Mas o golpe de Estado ocorreu semanas antes do general ter de entregar o poder no maior órgão governativo a civis.
O Sudão tem estado no meio de uma frágil transição para a democracia desde que uma revolta popular forçou os militares a retirar o autocrata de longa data Omar al-Bashir e o seu Governo islâmico em abril de 2019. Durante semanas antes do golpe de Estado, tinham aumentado as tensões entre os líderes militares e civis sobre o ritmo da transição.
Desde o golpe, têm havido manifestações em grande escala em todo o país, exigindo o regresso de um Governo civil.
Burhan disse também na entrevista com a Al-Jazeera que os militares não cessarão "qualquer atividade política enquanto esta for pacífica" e dentro dos limites da declaração constitucional de 2019.
O documento foi aprovado em agosto de 2019 após meses de negociações prolongadas entre os militares e o movimento de protesto que levou à revolta contra al-Bashir. Estabeleceu o agora proposto Governo de transição que inclui um Conselho Soberano civil-militar e um Gabinete, liderado pelo antigo economista das Nações Unidas Abdalla Hamdok, para gerir os assuntos do dia-a-dia.
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