De acordo com relatos, dezenas de professores convergiram durante a manhã para o Ministério da Educação, em Cartum, "para um protesto silencioso", tendo sido dispersados pelas forças de segurança com recurso a granadas de gás lacrimogéneo.
"A polícia chegou e disparou gás lacrimogéneo contra nós", disse Mohammed al-Amine, um professor de geografia.
O sindicato dos professores denunciou violência e relatou várias detenções de manifestantes nas suas fileiras, mas sem registo de feridos.
Antes da manifestação, jovens tinham bloqueado estradas com tijolos e pedras de calçada, enquanto as lojas permaneciam fechadas.
"Há menos movimento nas ruas, mas o bloqueio não é total", disse uma testemunha em Omdurman, cidade próxima de Cartum.
Os militares sudaneses tomaram o poder em 25 de outubro, tendo dissolvido o governo de transição - composto por civis e militares - e detido dezenas de funcionários do governo e políticos, incluindo o primeiro-ministro Abdalla Hamdok.
Os ativistas pró-democracia começaram hoje dois dias de desobediência para obrigar os militares a cumprirem a promessa de instituição de um governo civil e da realização de eleições livres e democráticas.
Desde a dissolução pelo general Abdel-Fattah al-Burhan de todas as instituições do país e a prisão de quase todos os civis com quem partilhava o poder, as ruas do Sudão voltaram a ser palco de movimentos de resistência.
Desde "greves gerais" a manifestações, os sudaneses fazem-se ouvir, enquanto prosseguem as negociações entre os militares, líderes civis e mediadores locais ou internacionais para encontrar uma solução para a crise.
Até agora, porém, as conversações não levaram à formação de um novo governo, nem ao regresso do anterior, bruscamente demitido pelo general Burhan, nem mesmo à adoção de uma posição clara sobre a retoma da transição democrática.
O golpe militar de outubro alterou a frágil transição do país para um governo democrático, dois anos depois de uma sublevação popular ter derrubado o então presidente Omar al-Bashir.
Desde o golpe militar, a comunidade internacional intensificou os seus esforços de mediação para encontrar uma saída para a crise, que ameaça desestabilizar ainda mais a já agitada região do Corno da África.
A Associação de Profissionais do Sudão, que liderou o levantamento popular contra al-Bashir, considerou, na sexta-feira, que as iniciativas de mediação que "buscam um novo acordo" entre os líderes militares e civis iriam "reproduzir e agravar" a crise do país.
Esta associação prometeu manter os protestos até que um governo civil pleno seja empossado para liderar a transição democrática.
O general Abdel-Fattah al-Burhan dissolveu em 25 de outubro os órgãos do governo de transição democrática, criados depois do derrube de Omar al-Bashir em abril de 2019, e declarou o estado de emergência em todo o país.
O chefe do exército ordenou na quinta-feira a libertação de quatro ministros detidos no dia do golpe, em aparente resposta ao aumento das pressões internacionais para que se seja retomado o processo de transição democrática.
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