"Quase 18.600 crianças abaixo dos cinco anos foram admitidas para tratamento de desnutrição aguda grave entre fevereiro e agosto deste ano, em comparação com 8.900 em 2020, um aumento de 100%, segundo a Unicef [Fundo das Nações Unidas para a Infância]", refere o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), no seu relatório sobre o conflito que se prolonga há 11 meses no norte da Etiópia, hoje divulgado.
A OCHA alertou também para a desnutrição entre mulheres grávidas e lactantes, que "continua também a ser muito elevada, com cerca de 63%", acrescentou o relatório, apontando que desde julho apenas chegaram 897 camiões com ajuda humanitária à região que conta com cerca de seis milhões de habitantes.
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, Prémio Nobel da Paz em 2019, lançou uma intervenção militar em 04 de novembro para derrubar a Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), o partido eleito e no poder no estado.
O Exército federal etíope foi apoiado por forças da Eritreia. Depois de vários dias, Abiy Ahmed declarou vitória em 28 de novembro, com a captura da capital regional, Mekele, frente à TPLF, partido que controlou a Etiópia durante quase 30 anos.
A ONU considera que Tigray está sob um "bloqueio 'de facto' sobre a ajuda humanitária". As autoridades etíopes e os rebeldes pró-TPLF acusam-se de forma mútua de obstruir a prestação de ajuda e de fazer morrer a população à fome.
Além da falta de alimentos, a região necessita urgentemente de medicamentos e de material médico, segundo vários relatórios de agências da ONU.
No relatório, a OCHA acrescenta que nove camiões com medicamentos estavam retidos por falta de aprovação do governo de Afar, que tem atualmente a única estrada terrestre transitável para Tigray.
De igual forma, o documento refere que são necessárias vacinas contra a poliomielite para 887.000 crianças e de vacinas contra o sarampo para 790.000 pessoas e que, caso não haja uma resposta a estas necessidades, tal "conduzirá a uma epidemia".
Em 28 de junho, Adis Abeba anunciou um cessar-fogo unilateral, aceite, em princípio, pelas forças de Tigray.
No entanto, os combates continuaram e as forças eritreias são acusadas de conduzirem vários massacres e crimes sexuais.
As organizações de ajuda humanitária queixam-se que, apesar do cessar-fogo, o acesso continua limitado, sendo constrangido pela insegurança e por bloqueios administrativos.
Em 01 de junho, o Programa Alimentar Mundial advertiu que um total de 5,2 milhões de pessoas, mais de 90% da população de Tigray, necessita de assistência alimentar de forma urgente devido ao conflito.
As Nações Unidas estimam ainda que 1,4 milhões de crianças com menos de cinco anos e mulheres grávidas ou lactantes necessitam de intervenção preventiva ou e tratamento contra a desnutrição.
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