"A crise em curso no Afeganistão está a intensificar as necessidades humanitárias e a aumentar os riscos de deslocação, tanto dentro do país, como através das fronteiras para os países da região", afirmou o diretor-geral da OIM, António Vitorino, num comunicado.
"A população afegã, já sobrecarregada por décadas de conflito, pela pandemia de covid-19, por uma subsequente recessão económica e por uma seca severa, está a precisar urgentemente de apoio", reforçou o representante da agência que integra o sistema das Nações Unidas, a propósito da atual situação que atravessa o Afeganistão, país controlado novamente pelos talibãs desde meados de agosto.
O apelo hoje lançado aos doadores internacionais é feito ao abrigo de um plano de ação abrangente traçado pela OIM para o Afeganistão e os países circundantes, cujo objetivo é ajudar as populações mais vulneráveis, combinando intervenções humanitárias, de desenvolvimento e de paz.
"Embora os movimentos atuais da população através das fronteiras sejam moderados, o risco de colapso económico e de uma maior deterioração da situação socioeconómica e de segurança no Afeganistão não pode ser descartado, o que pode levar a que mais pessoas comecem a sair para países da região, como a República Islâmica do Irão, Cazaquistão, Paquistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão", apontou a OIM.
Atualmente, os números da OIM apontam para a existência de cerca de 5,5 milhões de pessoas deslocadas dentro do território afegão, incluindo aquelas que vivem em situações prolongadas e 664.000 novos deslocados internos devido aos acontecimentos mais recentes.
A estes somam-se cerca de 924.744 repatriados afegãos indocumentados que regressaram do Irão e do Paquistão, ao longo dos primeiros sete meses deste ano, e mais de 2,2 milhões de refugiados e 3,5 milhões de cidadãos afegãos sem documentos que se encontram em países vizinhos, principalmente no Irão e no Paquistão.
Numa entrevista à RTP, transmitida na quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que as estimativas apontam que cerca de 18 milhões de pessoas no Afeganistão precisam de ajuda humanitária.
Neste momento, de acordo com a agência dedicada às migrações, a OIM é o maior fornecedor de abrigos de emergência e de itens não alimentares no Afeganistão, prestando ajuda humanitária a mais de 34 mil pessoas que foram obrigadas a sair das respetivas casas por causa dos conflitos e de desastres naturais no período entre 15 de agosto e 30 de setembro.
Durante o mesmo período, a OIM refere que equipas médicas prestaram uma assistência direta a mais de 11 mil pessoas no território afegão, incluindo consultas (nomeadamente de saúde reprodutiva), aconselhamento psicossocial e rastreios à doença covid-19.
"Enquanto os governos de outros países preparam respostas para a crise afegã, o plano de ação da OIM é necessário para ajudar a assegurar que o impacto regional da crise possa ser mitigado, as necessidades humanitárias e de proteção dos afegãos possam ser atendidas e a resiliência das comunidades de acolhimento, tanto dentro como fora do Afeganistão, possa ser reforçada para um desenvolvimento inclusivo e sustentável a longo prazo", destacou a OIM.
A agência liderada pelo português António Vitorino acrescentou ainda que irá trabalhar em estreita colaboração com outras agências da ONU, governos, sociedade civil e parceiros para coordenar a concretização no terreno deste plano de ação.
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