No sábado, cerca de 5.000 pessoas participaram nas ruas de Iquique numa marcha anti-migração. A ação acabou por degenerar em confrontos e em atos de violência contra os imigrantes venezuelanos, que viram vários dos seus pertences, nomeadamente tendas, roupas e carrinhos de bebé, a serem queimados por pessoas que participavam na marcha.
As autoridades chilenas informaram que a polícia começou hoje a fazer um levantamento das pessoas afetadas pela violência, bem como uma avaliação dos bens que foram queimados e destruídos.
"Também foi solicitado como diligência que fossem recolhidas as imagens das câmaras municipais de videovigilância que possam ter captado os acontecimentos", afirmou, em declarações aos jornalistas, a procuradora Jócelyn Pacheco.
Os acontecimentos de sábado, que chocaram a sociedade chilena, já suscitaram a preocupação e as críticas do relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos dos Migrantes, Felipe González, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Amnistia Internacional.
A marcha de sábado, durante a qual foram ouvidas muitas frases de teor xenófobo, aconteceu um dia depois da polícia ter dispersado várias famílias de imigrantes, incluindo crianças, que estavam acampadas numa praça de Iquique.
A cidade chilena de Iquique é a primeira grande zona urbana que os imigrantes encontram quando entraram no Chile através da Bolívia.
A passagem fronteiriça entre a pequena cidade chilena de Colchane e a Bolívia, uma zona de grande altitude e onde pelo menos 12 pessoas já morreram desde o início do ano, tornou-se nos últimos meses uma rota frequente para migrantes que tentam chegar ao Chile de forma irregular.
Por causa da sua estabilidade política e económica, o Chile é encarado como um dos países da América do Sul mais atrativos para os migrantes da região.
No Chile, existem 1,4 milhão de migrantes, o que equivale a mais de 7% da população, com os venezuelanos a serem maioritários, seguidos pelos peruanos, haitianos e colombianos.
Com o objetivo de travar as entradas irregulares, o Presidente chileno, o conservador Sebastián Piñera, promulgou em abril uma nova lei migratória mais rígida que exige que os cidadãos estrangeiros obtenham vistos nos respetivos países de origem.
A nova lei também permite que as autoridades chilenas possam deportar migrantes e, desde abril, mais de meio milhar de pessoas de diferentes nacionalidades foram expulsas do país.
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