Shinzo Abe, um primeiro-ministro com longevidade recorde no poder
O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, que hoje anunciou a renúncia ao cargo devido a problemas de saúde, alcançou recentemente o recorde de longevidade como chefe de Governo no Japão, tendo sobrevivido a inúmeros escândalos.
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Mundo Japão
Depois de um primeiro mandato fracassado entre 2006-2007, interrompido nomeadamente devido a escândalos e uma doença inflamatória intestinal crónica (colite ulcerosa), Abe voltou ao comando do país no final de 2012 e desde então permaneceu no cargo.
Inicialmente, Abe pretendia permanecer como primeiro-ministro até ao final do seu terceiro e último mandato como presidente do Partido Liberal Democrático (PLD), em setembro de 2021.
Shinzo Abe ficou conhecido no estrangeiro sobretudo devido à sua política económica apelidada de "Abenomics", lançada no final de 2012, que combinava flexibilização da política monetária, grande estímulo fiscal e reformas estruturais.
No entanto, na ausência de reformas realmente ambiciosas, este programa teve apenas sucessos parciais e que agora foram ofuscados pela crise económica ligada à pandemia do novo coronavírus.
Segundo Masamichi Adachi, economista do banco UBS, entrevistado pela agência de notícias AFP, Shinzo Abe agiu como "um populista" e não impôs as reformas económicas, necessariamente "dolorosas", o que será uma das principais razões da sua longevidade no poder.
A grande ambição de Abe, herdeiro de uma grande família de políticos conservadores, era rever a constituição pacifista japonesa de 1947, escrita pelos ocupantes norte-americanos e desde então nunca alterada.
Tendo construído parte de sua reputação com base na firmeza em relação à Coreia do Norte, Abe queria a existência de um exército nacional no lugar das atuais "forças de autodefesa" japonesas, mas a Constituição estipula que o Japão deveria renunciar à guerra para sempre.
Também defendeu um Japão descomplexado de seu passado, recusando-se em particular a carregar o fardo do arrependimento pelos atos do exército japonês na China e na península coreana na primeira metade do século XX.
No entanto, Abe absteve-se de ir ao santuário Yasukuni em Tóquio, um foco de nacionalismo japonês, após a sua última visita ao local no final de 2013, que indignou Pequim, Seul e Washington.
As relações entre Tóquio e Seul deterioraram-se claramente nos últimos dois anos, tendo como pano de fundo as suas disputas históricas, enquanto as relações com Pequim aqueceram, embora continuem tortuosas.
Em relação aos Estados Unidos, Abe adaptou-se a cada mudança de Presidente, demonstrando nos últimos anos a sua cumplicidade com Donald Trump, com quem compartilha a paixão pelo golfe. Uma estratégia com resultados mistos e complicada pelo lado imprevisível do chefe de Estados norte-americano.
Shinzo Abe também teve o cuidado de não ofender o Presidente russo, Vladimir Putin, na esperança de resolver a disputa pelas Ilhas Curilas do Sul (chamadas de "Territórios do Norte" pelos japoneses), anexadas pela União Soviética ao fim da Segunda Guerra Mundial e nunca mais devolvidas ao Japão.
Também tentou brilhar no cenário internacional, por exemplo, assumindo o papel de mediador entre o Irão e os Estados Unidos ou sendo o apóstolo do livre comércio.
Regularmente salpicado por escândalos que afetam os seus familiares, Abe costuma aproveitar eventos externos -- os disparos de mísseis norte-coreanos ou desastres naturais - para distrair a atenção e colocar-se como o chefe necessário na adversidade.
Shinzo Abe também se aproveitou a ausência de um rival à sua altura no PLD e da fragilidade da oposição, que ainda não se recuperou da desastrosa passagem pelo poder entre 2009 e 2012.
A sua popularidade, entretanto, diminuiu acentuadamente desde o início da pandemia do novo coronavírus, pois a sua ação foi considerada muito lenta e confusa.
Também se apegou à esperança de manter as Olimpíadas de Tóquio no verão de 2020, que seria um dos pontos altos de sua gestão, mas a realização do evento foi adiada por um ano devido à pandemia de covid-19.
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