Argentina tenta salvar acordo que evite o calote total da dívida

A Argentina estendeu até 24 de julho o prazo para um acordo com os credores externos numa tentativa de reabrir negociações depois do fracasso nesta semana na reestruturação da dívida de 66.238 milhões de dólares (59.260 milhões de euros).

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Lusa
20/06/2020 13:49 ‧ 20/06/2020 por Lusa

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Argentina

A quinta extensão de negociações chegou quando estava inicialmente previsto o anúncio de uma última oferta, pré-negociada com os credores, para a sua formalização num acordo na próxima semana. Em vez disso, as negociações foram suspensas, os credores ameaçaram executar a dívida e o acordo é agora uma incógnita.

"A Argentina e os seus consultores pretendem aproveitar esta extensão para continuar as discussões e permitir que os investidores continuem contribuindo para uma reestruturação bem-sucedida da dívida", anunciou, através de uma nota oficial, o Ministério da Economia.

As quatro extensões anteriores não superavam 10 dias. A extensão agora de mais de um mês revela a dureza das negociações.

O tom do anúncio foi um convite aos credores a retornarem à mesa de negociação depois de uma rotura que deixou o país à beira de um 'default' total da dívida, o nono da sua história.

A tensão ficou evidente na noite de quarta-feira, quando as negociações foram suspensas. As partes estavam a aproximar-se quanto aos números, mas o desencontro em termos legais e o fim dos acordos de confidencialidade significaram a suspensão das negociações.

"Como os números do Governo e os números dos credores estavam muito próximos, esperava-se um acordo. Mas ao retirarem a confidencialidade, descobrimos que não havia hipóteses de acordo e apareceram credores furiosos", explicou à Lusa a economista Elizabeth Bacigalupo, da consultora Abeceb, uma referência na Argentina.

Os 13 credores mais duros, reunidos no grupo Ad Hoc, tinham emitido um comunicado no qual classificavam as negociações como um "fracasso" e ameaçavam recorrer aos tribunais de Nova Iorque.

"Devido ao fracasso das negociações, o nosso Grupo está a considerar todos os direitos e recursos disponíveis", advertiram.

"Fizemos tudo o que foi possível para um acordo viável com o governo argentino, mas as autoridades optaram por rejeitar a nossa solução sustentável e sensata", afirmaram.

Esta posição foi uma resposta ao comunicado do Governo que os acusava de proporem ajustes na oferta argentina "amplamente inconsistentes".

"A Argentina não pode comprometer-se de maneira razoável com esses ajustes, alguns dos quais amplamente inconsistentes com o quadro de sustentabilidade da dívida", indicou o Ministério da Economia.

"Os credores ainda têm a expectativa de um acordo. Por isso, não executam ações contra a Argentina nos tribunais de Nova Iorque", observou Elizabeth Bacigalupo.

O novo prazo de 24 de julho para reabrir o diálogo e tentar um acordo significará um aprofundamento do 'default' argentino, oficializado no dia 22 de maio, quando o país não pagou 503 milhões de dólares (450 milhões de euros) relativos os juros de três títulos públicos.

Nos próximos dias 28 e 30 de junho, vencerão outros 317 milhões de dólares (283 milhões de euros) relativos a dois títulos e a Argentina não os pagará.

A diferença entre o que a Argentina aceita pagar e o que os credores querem ronda os 6.800 milhões de dólares (6.083 milhões de euros), cerca de 300 milhões de dólares (268 milhões de euos) ao ano, menos de 0,1% do PIB argentino.

"Ainda acreditamos que haverá acordo, mesmo que tudo esteja agora parado, porque entrar num 'default' permanente por esse montante seria ridículo. Uma diferença irrisória com consequências muito mais graves para o país", avaliou Elizabeth Bacigalupo.

A diferença não é apenas monetária. Dos três comitês de credores, dois têm posições mais duras e exigem que as denominadas Cláusulas de Ação Coletiva sejam mais favoráveis aos credores e menos ao Governo para que o este precise de 85% de adesão dos credores se, no futuro, quiser reestruturar novamente a dívida e não os 66% atuais que as autoridades argentinas pretendem.

A exigência é uma espécie de seguro contra um novo calote.

O país dispunha-se agora a reconhecer 50 cêntimos por cada dólar de dívida. Por sua parte, os credores pretendem um número em torno de 55 cêntimos por dólar.

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