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Revisão de resultados das eleições legislativas no Mali provoca protestos

Centenas de malianos protestaram hoje na capital, Bamako, e no interior do país após uma revisão dos resultados das eleições legislativas realizadas em março e abril ter dado mais 10 lugares ao partido no poder.

Revisão de resultados das eleições legislativas no Mali provoca protestos
Notícias ao Minuto

20:58 - 04/05/20 por Lusa

Mundo Mali

No dia 30 de abril, o Tribunal Constitucional do Mali validou alguns dos recursos apresentados por candidatos, que tinham alegado irregularidades realizadas durante as eleições.

De acordo com os mais recentes resultados, o partido do Presidente maliano, Ibrahim Boubacar Keita, o União para o Mali (RPM, na sigla em francês), conquistou 53 dos 147 lugares da Assembleia Nacional, em vez dos 43 anunciados na semana anterior pelo Ministério do Interior.

De acordo com a agência noticiosa France-Presse, a alteração dos resultados levou centenas de jovens a manifestarem-se em vários locais da capital, considerando que a vitória da oposição foi "roubada".

A maior ação de protesto ocorreu em Sikasso, no sul do país, junto à fronteira com Burkina Faso e Costa do Marfim.

"Roubaram-nos a vitória aqui em Sikasso em benefício do partido no poder. Foi por isso que queimámos pneus e bloqueámos o trânsito. Éramos mais de mil na rua", disse o estudante Oumar Coulibaly, citado pela AFP.

Centenas de pessoas participaram também em protestos em Kati, a cerca de 15 quilómetros de Bamako, depois de o deputado eleito, Bourama Traoré, ter sido preso, segundo uma associação local.

"Depois de lhe roubarem a sua estrondosa vitória, privam-no da sua liberdade", afirmou o porta-voz da associação Faso Kanu, Hamady Camara, citado pela AFP.

Houve ainda manifestações em Kayes (oeste) e Sévaré (centro).

As duas voltas das eleições legislativas do Mali foram realizadas dentro das datas previstas, apesar do contexto de violência e da pandemia de covid-19 que já conta com 580 casos confirmados, incluindo 29 mortes.

"Numa democracia, nada bate a plena legalidade constitucional e o desenvolvimento normal das instituições", afirmou o chefe de Estado pouco dias antes da segunda volta, num comunicado à nação.

A campanha eleitoral acabou por ser afetada pela pandemia, uma vez que as autoridades proibiram concentrações com mais de 50 pessoas.

A atual legislatura foi eleita em 2013 e o seu mandato deveria ter terminado no final de 2018, ainda assim, as dificuldades enfrentadas no país levaram à sua prorrogação até maio de 2020.

Numa primeira instância, estas eleições foram adiadas pela greve dos magistrados, sendo depois adiadas regularmente devido à insegurança no país, perpetrada por grupos 'jihadistas', violência intercomunitária e o tráfico de droga.

A legislatura agora eleita terá como objetivo a consolidação do acordo de paz de Argel, assinado em 2015 entre grupos armados independentistas e o Governo central maliano.

O acordo prevê uma maior descentralização através de uma reforma que deve passar pela assembleia, algo que tem sido dificultado pela contestação da atual constituição parlamentar, cuja legitimidade é colocada em causa.

A instabilidade que afeta o Mali começou com um golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e organizações fundamentalistas tomaram o poder do norte do país durante 10 meses.

Os fundamentalistas foram expulsos em 2013 devido a uma intervenção militar internacional liderada pela França, mas extensas áreas do país, sobretudo no norte e no centro, escapam ao controlo estatal e são, na prática, geridas por grupos rebeldes armados.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 4.000 pessoas foram mortas em ataques terroristas em 2019 no Mali, Burkina Faso e Níger, tendo o número de pessoas deslocadas aumentado 10 vezes, ficando próximo de um milhão.

Além de uma força conjunta do G5 Sahel - composta por militares de Mali, Burkina Faso, Níger, Chade e Mauritânia -, a região conta também com a operação Barkhane, uma missão das Forças Armadas francesas no Mali, e da Minusma, a missão da ONU no Mali.

Em janeiro, o ministro da Defesa português, João Gomes Cravinho, anunciou o reforço do contingente na Minusma com mais cerca de 70 militares da Força Aérea Portuguesa e uma aeronave C-295, entre maio e outubro.

No final de fevereiro, a União Africana anunciou que está a preparar o destacamento de uma força de 3.000 soldados para o Sahel, de forma a tentar travar a propagação de grupos 'jihadistas' e da insegurança na região.

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