Pequim, 09 abr 2020 (Lusa) - Taiwan criticou hoje as acusações do chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), que afirmou ser alvo de ataques racistas envolvendo Taipé, que reclama estatuto de membro na organização contra a vontade de Pequim.
Em comunicado, o ministério taiwanês dos Negócios Estrangeiros, expressou "forte insatisfação" e "pena" pelas declarações do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, realizadas na quarta-feira.
As autoridades de Taipé exigiram que Adhanom Ghebreyesus "corrija imediatamente as suas alegações infundadas" e "peça desculpas" a Taiwan.
As 23 milhões de pessoas de Taiwan foram "discriminadas" pelas políticas do sistema internacional de saúde e "condenam todas as formas de discriminação e injustiça", lê-se no comunicado.
Taiwan é uma "nação madura e altamente sofisticada e nunca instigaria ataques pessoais ao diretor-geral da OMS, muito menos expressar sentimentos racistas", acrescenta.
Em conferência de imprensa, em Genebra, Tedros defendeu na quarta-feira a resposta da agência de saúde da ONU à pandemia da covid-19 e acusou Taiwan de estar vinculado a uma campanha contra ele, alegando que, desde o início do surto do novo coronavírus, foi atacado pessoalmente, incluindo através de ameaças de morte e insultos racistas.
"Este ataque veio de Taiwan", apontou Tedros, ex-ministro da Saúde e dos Negócios Estrangeiros da Etiópia e o primeiro líder africano da OMS.
O responsável disse que diplomatas de Taiwan estavam cientes dos ataques, mas que não se dissociaram.
Tedros não detalhou as bases destas alegações.
China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas.
Taiwan tornou-se, entretanto, numa democracia com uma forte sociedade civil, mas Pequim considera a ilha parte do seu território e ameaça a reunificação pela força.
Tedros foi eleito com o forte apoio da China, um dos cinco membros permanentes com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.
O diretor-geral da OMS elogiou a gestão do surto pelas autoridades chinesas, considerando-a "aberta e transparente", apesar de evidências de que os primeiros relatos de infeções foram abafadas pela polícia de Wuhan, a cidade chinesa de onde a doença é originária.
Por insistência da China, Taiwan foi barrada da ONU e da OMS e perdeu o estatuo de observadora na Assembleia Mundial da Saúde anual.
No entanto, a resposta de Taiwan ao surto tem servido para afirmar a ilha, que funciona como uma entidade política soberana apesar da oposição de Pequim, como um dos Estados que melhor preveniu a doença.
Com mais de um milhão de cidadãos a viver e a trabalhar na República Popular da China, Taiwan contabiliza apenas 379 casos de infeção pela Covid-19, a grande maioria importados do exterior.
As autoridades dos Estados Unidos e de Taiwan reuniram no mês passado para discutir formas de aumentar a participação da ilha no sistema mundial de saúde, provocando a fúria de Pequim, que se opõe a todos os contactos oficiais entre Washington e Taipé.