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Famílias das vítimas do massacre de Conacri exigem julgamento de autores

As famílias das vítimas do massacre em setembro de 2009 pelas forças de segurança da Guiné-Conacri ainda esperam pela justiça e exigem que os seus autores sejam julgados, sublinharam hoje seis organizações de defesa dos direitos humanos.

Famílias das vítimas do massacre de Conacri exigem julgamento de autores
Notícias ao Minuto

12:02 - 25/09/19 por Lusa

Mundo Guiné-Conacri

As forças de segurança guineenses mataram mais de 150 pessoas que se manifestavam num estádio na capital, Conacri, em 28 de setembro de 2009. Centenas de pessoas foram feridas e mais de cem mulheres foram vítimas de estupro e outras formas de violência sexual numa sequência de eventos relacionada com esse massacre.

As organizações Associação de Vítimas, Pais e Amigos do Massacre de 28 de setembro (AVIPA), Igualdade de Direitos para Todos (MDT), Organização Guineense de Direitos Humanos (OGDH), Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), Amnistia Internacional e Human Rights Watch (HRW) lançaram hoje um vídeo em que apelam ao julgamento dos responsáveis.

"Decorreu uma década desde o massacre no estádio de Conacri, mas aqueles que perderam seus filhos, filhas, pais ou mães, têm para sempre o horror daquele dia gravado na memória", afirmou Asmaou Diallo, presidente da AVIPA, citado numa nota divulgada pela HWR. "Dez anos é já muito tempo de espera, quando se tem sede de justiça", acrescentou. "Temos o direito de pedir contas aos responsáveis por essas atrocidades".

Pouco antes do meio-dia de 28 de setembro de 2009, várias centenas de membros das forças de segurança da Guiné-Conacri abriram fogo sobre dezenas de milhares de pessoas reunidas pacificamente num estádio para uma manifestação contra a candidatura presidencial de Moussa Dadis Camara, então líder de uma junta militar que havia tomado o poder através de um golpe militar no final de dezembro de 2008, após a morte do Presidente Lansana Conté.

Na sequência do massacre, as forças de segurança violaram mulheres, individualmente ou em gangues, atacando-as sexualmente com objetos como cassetetes e baionetas, especifica-se no comunicado.

Em seguida, as mesmas forças encobriram de forma organizada todo o conjunto de crimes e a extensão dos assassínios, selando espaços e removendo corpos do estádio e morgues para os enterrar em valas comuns, muitas das quais ainda não foram identificadas.

Uma investigação interna, iniciada em fevereiro de 2010 e concluída no final de 2017, "avançou lentamente através de obstáculos políticos, financeiros e logísticos", segundo o comunicado da HWR.

"Num país onde a impunidade prevalece quando as forças de segurança estão implicadas em crimes, a conclusão da investigação enviou um sinal forte e deu esperanças à abertura de um julgamento que poderia fazer justiça às vítimas", acrescenta-se na nota.

Em abril de 2018, o Ministério da Justiça guineense criou uma comissão para organizar o julgamento e o Tribunal de Recurso de Conacri foi entretanto identificado como o local onde será realizado.

No entanto, quase dois anos após o encerramento da investigação, a data do julgamento ainda não foi marcada. A comissão organizadora do julgamento, que deveria reunir-se uma vez por semana, tem-se reunido de forma intermitente, assinala a nota das organizações não-governamentais.

Por outro lado, apesar de o Supremo Tribunal da Guiné-Conacri ter rejeitado em julho último todos os recursos relacionados com o fim da investigação, os juízes que presidirão ao julgamento ainda não foram nomeados.

Foram acusados, pelo menos, 13 suspeitos, incluindo atuais e antigos funcionários de alto nível, entre os quais Dadis Camara - atualmente exilado no Burkina Faso - e o seu vice-Presidente, Mamadouba Toto Camara. Alguns dos suspeitos acusados continuam a ocupar posições de poder, incluindo Moussa Tiegboro Camara, responsável pela luta contra o tráfico de droga e o crime organizado no país.

Abubakar 'ToumbaDiakité, ajudante de campo de Dadis Camara, também foi acusado e extraditado para a Guiné em março de 2017, após ter escapado à justiça por mais de cinco anos. Quatro outras pessoas estão detidas na prisão central de Conacri desde 2010, 2011, 2013 e 2015, respetivamente, em regime de detenção provisória e para lá do limite legal máximo previsto na lei guineense - de 18 a 24 meses.

Em 14 de agosto último, Mohammed Lamine Fofana, ministro da Justiça guineense, reiterou o compromisso do Presidente Alpha Condé em relação à realização do julgamento e anunciou o início dos "preparativos concretos" para a organização do mesmo.

O Governo guineense e os parceiros internacionais da Guiné-Conacri, incluindo a União Europeia e os Estados Unidos, disponibilizaram fundos para a realização do processo. O Tribunal Penal Internacional (TPI) abriu um exame preliminar da situação na Guiné-Conacri em outubro de 2009.

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