Liga Árabe tenta consenso sobre Montes Golã, apesar de divergências
A Liga Árabe reúne-se no domingo na Tunísia para tentar acertar uma posição comum perante o reconhecimento dos EUA do controlo israelita dos Montes Golã, no meio de muitas divergências e rivalidades.
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Mundo Negociações
Os Estados do Golfo, em particular a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, devem levar para a reunião de Tunes um discurso de tentativa de amenizar qualquer declaração de condenação à decisão dos Estados Unidos, procurando preservar as boas relações com a Casa Branca.
No entanto, o secretário-geral adjunto para os Assuntos Económicos da Liga Árabe, Kamal Hassan Ali, já reconheceu esta semana que esta será "uma cimeira de difíceis desafios económicos e políticos", salientando o aumentar de divergências entre os 22 membros provocado pela decisão norte-americana sobre os Montes Golã.
Se os Montes Golã são o principal desafio político, a construção de um mercado comum energético e um plano de desenvolvimento sustentável são dois temas económicos com nós difíceis de desatar na Liga Árabe, levados para a mesa de Tunes.
Desde terça-feira que representantes dos Estados-membros estão reunidos, para suavizar o caminho de entendimentos, mas as declarações que os média árabes têm difundidos dão pouca esperança a posições consensuais.
O porta-voz da Liga Árabe, Mahmoud Afifi, disse hoje que o bloco de países mantém o objetivo de apresentar uma declaração final sobre os Montes Golã.
Contudo, Ahmed Abd Rabou, especialista em Médio Oriente da Universidade de Denver, nos EUA, disse à agência Associated Press que duvida que tal seja exequível, perante as enormes divergências entre países com agendas políticas muito diferentes.
Países como o Iémen e a Líbia já disseram que o tema central desta cimeira está deslocado dos seus centros de interesse, confrontados com profundas crises políticas e militares internas e ainda a procurar ajuda internacional para se reconstruírem, após uma longa luta contra o Estado Islâmico.
Outro tema incómodo na cimeira de Tunes é a discussão sobre a readmissão da Síria na Liga Árabe, depois de a sua participação ter sido suspensa em 2011, por causa de parcerias na guerra contra o Estado Islâmico.
Ainda assim, alguns governos árabes já amenizaram a sua oposição ao governo sírio de Bashar al-Assad - os Emirados Árabes Unidos até reabriram a sua embaixada em Damasco, em dezembro - e poderão abrir caminho a uma reconciliação a curto prazo.
Mas a decisão não deverá acontecer ainda durante o encontro de domingo, como disse Mahmoud Khemiri, porta-voz da cimeira.
A instabilidade no grupo também decorre de manifestações que têm voltado com força às ruas da Argélia e do Sudão, pedindo a renúncia de dois dos líderes mais antigos do bloco, oito anos depois de os protestos da Primavera Árabe terem varrido a região, ameaçando o futuro da ordem política há muito defendida pela Liga.
Na Argélia, Abdelaziz Bouteflika, no cargo desde 1999, cancelou a eleição presidencial de 18 de abril e retirou a sua candidatura, mas anunciou um processo de transição que os opositores temem possa prolongar-se indefinidamente.
No Sudão, os protestos foram desencadeados por uma grave crise económica que rapidamente se transformaram em apelos para a saída de cena do líder, Omar al-Bashir, que tomou o poder num golpe militar apoiado pelos aliados árabes, em 1989.
Outro tema que pode ensombrar a cimeira diz respeito ao assassínio do jornalista Jamal Khashoggi na embaixada saudita em Istambul, em 2018, cuja investigação e responsabilidade associada ao príncipe herdeiro do reino de Mohamed ben Salman causa divisões entre os países da Liga Árabe.
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