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"A depressão é terrível. É muito pior do que ter uma doença física"

A depressão é, atualmente, a principal causa de doença e incapacidade a nível global. O alerta foi emitido recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que, para assinalar o do Dia Mundial da Saúde, decidiu centrar todas as atenções na depressão. O Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com o psicoterapeuta Américo Baptista sobre esta doença mental.

"A depressão é terrível. É muito pior do que ter uma doença física"
Notícias ao Minuto

08:35 - 07/04/17 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle Américo Baptista

Falar em depressão é muito mais do que falar em melancolia. É falar em tristeza aliada a apatia, é falar numa doença mental cada vez mais comum, é falar na principal causa de doença e incapacidade a nível global.

Este ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) escolheu a depressão como tema central do Dia Mundial da Saúde, que se celebra esta sexta-feira. Para além de frisar a importância da escolha de tratamentos adequados, o organismo dá destaque à importância da prevenção, especialmente feito através da conversa.

O Lifestyle ao Minuto falou com o psicoterapeuta Américo Baptista sobre esta doença mental e sobre o verdadeiro impacto que tem na vida. Afinal, falar em depressão é falar num estado mental com consequências que podem ser fatais. A cada 40 segundos comete-se um suicídio no mundo.

A depressão é terrível. Veja há quanto tempo estamos a falar e quantas pessoas já se mataram.

Porque é que a depressão se tornou numa doença tão comum?

A depressão tornou-se numa doença tão comum porque, agora, as situações de incerteza são maiores do que eram no passado. Alguma vez ouviu falar em tantos atentados terroristas como há hoje? Alguma vez houve tanto desemprego como há hoje? Portanto, quanto maior é a situação de insegurança em que vivemos, maior são os estados emocionais em que as pessoas se sentem mal.

O stress do dia a dia tem também a sua responsabilidade nesses estados emocionais negativos que desencadeiam a depressão?

O stress está englobado nas situações de incerteza. Eu não faço a mínima ideia do que vai ser o meu dia de amanhã, e como não faço a mínima ideia até estou a tentar resolver as coisas hoje. As pessoas vivem nisto. Eu gostava de dizer que o stress e a incerteza são responsáveis e o fundamental é a incerteza. Eu não sei quanto tempo vou demorar amanhã até chegar ao meu emprego e todos vivemos nisto, todos temos uma agenda para cumprir. As situações de incerteza são cada vez maiores e, por isso, a depressão é cada vez maior.

Há algum tipo de pessoa que seja mais vulnerável a sofrer de depressão?

Não há dúvidas de que há pessoas mais vulneráveis do que outras e que o nós sabemos é que há motivos genéticos que levam as pessoas a ficarem deprimidas com mais facilidade. Mas o que podemos dizer é que qualquer pessoa pode ficar deprimida, pode é precisar de mais ou menos dificuldades do ponto de vista ambiental.

Há uma interação entre aquilo que as pessoas são do ponto de vista genético e biológico e a pressão ambiental, mas o que mudou nos últimos anos não foram os genes. O que mudou nos últimos anos é que nós cada vez temos mais stress, mais incerteza. Os ataques terroristas, por exemplo, são um fator que nos leva a ficar mais assustados, mais deprimidos.

Mesmo sendo uma doença comum, a depressão é, de algum modo, desvalorizada pelas pessoas e/ou pelos médicos?

Eu não posso dizer que seja pelos médicos, porque os médicos têm cada vez mais consciência, mas o que eu tenho algumas dúvidas é que a maior parte dos médicos tenha a consciência de todas as ferramentas terapêuticas que nós temos para tratar a depressão. Os médicos conhecem bem os antidepressivos, mas não conhecem bem os tratamentos psicológicos e os tratamentos psicológicos além de serem tão eficazes como os antidepressivos, têm menores taxas de recaída.

E as pessoas, dão valor aos sinais que vão aparecendo?

As pessoas não têm a obrigação de saber fazer o diagnóstico. Repare, se eu tiver um cancro, ninguém me vai perguntar ‘olhe, você tem um cancro ou não?’. A mesma coisa em relação à depressão.

As pessoas queixam-se de determinados sintomas e os básicos, do ponto de vista da depressão, é ficar apático, sentir-se triste, sentir-se sem energia, sentir-se com menos atividade. As pessoas não têm a obrigação de saberem fazer o diagnóstico, como não têm de fazer para a doença cardíaca, para o cancro e para uma série de situações. Não é obrigação das pessoas saberem diagnosticar o seu estado de saúde, mas é obrigação do médico de família saber diagnosticar as pessoas e saber encaminhá-las, saber que, na verdade, os psicólogos são fundamentais para tratar este tipo de doenças.

Quais são as reais consequências de uma depressão?

Em primeiro lugar, é que as pessoas deprimidas metem baixa. O nível de atividade de uma pessoa deprimida é fundamentalmente muito baixo e isto é comum a todas as pessoas deprimidas.

Mas o aspeto mais grave é outro, é que há uma taxa elevada de pessoas com depressão que se suicidam e aí estamos a falar no caso extremo. Já agora, para ter ideia, uma em cada cinco pessoas vai estar deprimida ao longo da vida, portanto, a taxa é muito elevada.

E a cada 40 segundos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, uma pessoa suicidou-se no mundo. A taxa é elevadíssima. A depressão é terrível. Veja há quanto tempo estamos a falar e quantas pessoas já se mataram.

E uma depressão mal curada, que consequências traz?

As depressões são recorrentes. Numa depressão tratada só com medicamentos, a probabilidade de uma recaída é muito elevada. Numa depressão tratada com uma psicoterapia, com um tratamento psicológico, a possibilidade de recair é muito menor. A probabilidade é esta: Cada vez é pior. A pessoa vai recaindo porque a depressão é, na verdade, recorrente.

Há pouco disse que as pessoas quando têm uma depressão ficam de baixa médica. O emprego é uma das principais causas da depressão?

Quem dá baixa médica são os médicos. Mas a questão, mais uma vez, é a questão da depressão. Se for tratada só com comprimidos, a possibilidade de cair é mais elevada. O problema não está nas pessoas, o problema é do Serviço Nacional de Saúde, é de quem trata deste tipo de situações.

A campanha da Organização Mundial da Saúde tem como tema ‘Vamos Falar’ e é preciso que haja tempo no atendimento a este tipo de pessoas, que se converse sobre o tipo de problemas que levaram a que a pessoa fique deprimida. Sem este acompanhamento psicológico, ou sem este tratamento psicológico, a solução não é possível.

A depressão é a primeira causa de problemas de saúde em todo o mundo. O que falta fazer para a travar?

A depressão é uma das causas mais frequentes de limitação das pessoas no mundo. Falta fornecer os tratamentos adequados, nomeadamente a propósito da prevenção. Por exemplo, quando ficamos tristes e abatidos a prática, até há pouco tempo, era que as pessoas metessem baixa. Nós hoje sabemos que quanto menos atividade [a pessoa deprimida tiver], pior é o prognóstico.

O tratamento contribui para a doença. Se as pessoas forem encorajadas a trabalhar a viver com as eventuais dificuldades, o que habitualmente só acontece com os tratamentos psicológicos, provavelmente estes problemas são diminuídos.

Quando conversámos há uns meses atrás [pode ler a entrevista aqui], o doutor disse os sentimentos negativos são importantes para o nosso bem-estar, mas é preciso saber lidar com eles. O que é que as pessoas podem e devem fazer para que os sentimentos negativos não as dominem?

Em situações de crise, os sentimentos negativos até são ajustados, não nos podemos é deixar levar por eles. Se não me apetecer ir trabalhar e ficar cada vez mais parado, a minha tendência para ficar deprimido aumenta. Mas, por outro lado, se eu conseguir lidar com a situação e apesar das dificuldades que estou a passar no meu dia a dia eu as conseguir enfrentar, a depressão será menor.

Mais uma vez, o apoio médico pode cornificar ou eliminar esta situação, se levar as pessoas, mesmo com dificuldades, a enfrentarem os seus problemas do dia a dia. Mas isto é mesmo muito importante. Se nós fizermos como tradicionalmente se tem feito, ‘não tenho vontade de ir trabalhar e não vou’, estamos a cornificar. Se, apesar de não ter vontade, enfrentar, provavelmente estou a evitar entrar em depressão.

E qual o papel dos familiares e amigos na vida de uma pessoa com sintomas de depressão ou até mesmo já diagnosticada com a doença?

Mais uma vez, a Organização Mundial da Saúde fornece importantes deixas a esse propósito: Vamos falar, vamos compreender essa pessoa, vamos ajudar, vamos encorajá-la. Digamos, não nos vamos lamentar com ela.

Aqui a ideia é nós termos uma atitude pró-ativa e não ficarmos todos muito limitados, porque aborrecimentos todos temos, mas há umas pessoas que conseguem lidar com eles e outras que ficam cada vez mais inativas.

É importante dizer que a depressão é fundamentalmente sentir-me triste e sentir-me sem vontade para fazer o que quer que seja. Pode haver um conjunto muito grande de sintomas, como dificuldades em dormir, dificuldades em pensar, mas o básico é a tristeza e a apatia. Esses são os sintomas nucleares.Muitas vezes vamos ao médico mas não é por nos sentirmos tristes, mas porque nos dói a cabeça. Associada com as dores de cabeça estão os sintomas de apatia e tristeza e isto é o início.

Quando estes sintomas de prolongam pelo menos durante duas semanas nós falamos em depressão. A depressão não é para ser vista como era antigamente, que era vista como uma coisa crónica que não podemos resolver. Nós hoje sabemos perfeitamente como tratar de modo adequado este tipo de pessoas. A depressão é muito pior do que ter uma doença física.

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