Cabo Verde dá sinais de retoma, mas empresas públicas preocupam
A economia cabo-verdiana começa a dar sinais de recuperação, mas a situação financeira das empresas públicas continua a preocupar o FMI, que recomenda urgência numa solução que pare "a drenagem" de recursos do orçamento de Estado.
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Economia FMI
"Tivemos cinco anos de crescimento muito baixo e este ano vemos uma aceleração do crescimento", disse Ulrich Jacoby, chefe da equipa técnica do Fundo Monetário Internacional (FMI), que hoje terminou, na cidade da Praia, a missão anual a Cabo Verde.
Em declarações aos jornalistas durante uma conferência de imprensa conjunta com o ministro das Finanças de Cabo Verde, Olavo Correia, Ulrich Jacoby adiantou que a missão faz uma "avaliação positiva das perspetivas de crescimento do país".
Avaliação sustentada, segundo o responsável do FMI, no "forte programa" de investimento direto estrangeiro de 600 milhões de euros a implementar nos próximos anos, na "melhoria contínua" dos indicadores de confiança, nos altos níveis das remessas e na expectativa de um aumento da procura interna ao longo do ano.
Questionado pelos jornalistas sobre se o crescimento poderá atingir, os 7 por cento estimados pelo Governo, Ulrich Jacoby lembrou que as previsões do FMI apontam para um crescimento entre 3,5 a 4 por cento, considerando que o valor do crescimento irá depender das reformas e politicas implementadas no país.
O chefe da missão do FMI alertou, por outro lado, para a importância de reduzir uma dívida pública "muito alta" (126% do Produto Interno Bruto) que, nos últimos anos, combinada com os baixos índices de crescimento económico "deteriorou consideravelmente os rácios e aumentou"o risco financeiro do país.
"O stock da dívida é muito alto, mas felizmente Cabo Verde tem uma dívida exclusivamente em empréstimos concessionais, com prazos dilatados de pagamento e baixas taxas de juro, e portanto não há falta de liquidez. Os indicadores da dívida não revelam problemas, no entanto, consideramos que é prudente começar a tratar deste problema agora", defendeu Jacoby.
O chefe da missão do FMI sublinhou o compromisso do Governo em reduzir a dívida, bem como a intenção de reduzir os projetos de investimento, priorizando os que perspetivam "maior retorno em crescimento e emprego".
"O governo tem uma agenda enorme, mas dado a dívida elevada, o espaço fiscal é muito limitado e apreciamos os esforços das autoridades para fazer mais com menos", disse.
Ulrich Jacoby alertou ainda para a "brusca deterioração" da situação financeira das empresas públicas Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) e Instituto Fundiário e de Habitação (IFH), responsável pelo programa habitacional "Casa para Todos".
"A TACV representa um risco orçamental e está a drenar recursos do orçamento que poderiam ser melhor aplicados na agenda do desenvolvimento. Reconhecemos os esforços das autoridades em tratar deste problema e na procura de soluções nos próximos meses por forma a estancar a drenagem de recursos do orçamento", disse, adiantando que o mesmo problema se coloca no IFH.
"A longo prazo será importante para Cabo Verde aumentar a produtividade para fomentar o crescimento, o que inclui melhorar a eficiência do setor público, tornar as empresas públicas mais eficientes, privatizando-as ou entrado em parcerias público-privadas", defendeu chefe da missão do FMI.
Ulrich Jacoby defendeu também a flexibilização do mercado laboral, considerando o novo código do trabalho, que deverá entrar em vigor no próximo mês, "um passo na direção certa".
"Cabo Verde tem um enorme potencial de crescimento, tem uma procura turística crescente. É importante ter os trabalhadores qualificados que a economia precisa, aumentar o crescimento inclusivo e a participação das mulheres no mercado de trabalho", disse.
A missão do FMI esteve em Cabo Verde durante duas semanas para proceder à avaliação da situação económica e financeira do país, no quadro do Artigo IV do FMI.
Durante a missão de duas semanas, a equipa técnica esteve reunida com o Governo, Banco de Cabo Verde, representantes da Assembleia Nacional e do setor privado, além de representantes sindicais e dos parceiros de desenvolvimento de Cabo Verde.
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