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Despedimentos no setor mineiro levam incerteza social em Moçambique

Os numerosos despedimentos no setor mineiro em Tete, aliados ao arrefecimento da indústria extrativa nesta província do centro de Moçambique, têm endurecido a situação social, com relatos de aumento da criminalidade e separações familiares, disseram fontes locais à Lusa.

Despedimentos no setor mineiro levam incerteza social em Moçambique
Notícias ao Minuto

08:15 - 01/08/16 por Lusa

Economia Tete

"O recrutamento no setor mineiro foi paulatino, mas os despedimentos são em queda livre, e isso vem provocando problemas e a agravar males sociais em toda a cadeia", alertou o sindicalista local Fernando Raice, observando que os níveis de segurança caíram tanto na capital provincial, Tete, como em Moatize, centro da atividade de exploração de carvão.

O 'boom' do setor mineiro, desde 2009, aliciou jovens de várias regiões do país e de países vizinhos para Tete, contudo, nos últimos tempos, a indústria extrativa atravessa um período de enormes dificuldades, na sequência da queda do preço do carvão nos mercados internacionais e da crise político-militar no centro do país.

A situação forçou a paralisação de algumas empresas, como as indianas Jindal ICVL e também a Mina de Moatize, depois de as multinacionais Riversdale e Rio Tinto terem desistido da exploração em Tete e vendido as suas concessões.

A brasileira Vale continua em atividade, mas suspendeu pela segunda vez num mês a circulação da sua produção pela linha do Sena até ao porto da Beira, em resultado de ataques contra os comboios da mineira atribuídos pelas autoridades a homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

"Você vê uma empresa com 700 trabalhadores a despedir 500. É uma descida drástica", destacou Fernando Raice.

"Algumas pessoas que caíram no desemprego não são locais. Já estão sem condições de regressar a casa e desenrascam a vida até com atividades ilícitas", contou, por seu lado, à Lusa Ivete Maurício, uma moradora da vila de Moatize, que já teve de perdoar uma divida de renda a seis jovens oriundos de Maputo que alugavam compartimentos da sua casa.

"Uns foram despedidos e regressaram e outros deambulam por aqui sem terem para onde ir. Tem ainda outros que tiveram os salários reduzidos e agora alugam casas mais pequenas e compatíveis com o pouco salário atual", descreveu Marilene Caetano, moradora em Matundo, na cidade de Tete.

Não existem estatísticas de separações relacionadas diretamente com os despedimentos no setor mineiro, mas há persistentes relatos do aumento do número de mães solteiras nos arredores de Tete e Moatize.

"Eu vivia maritalmente com um jovem de Maputo. Quando acabou o emprego ele voltou e me deixou na casa dos meus pais, dizendo que vai tentar criar arranjar condições para vir e me levar junto com a criança", contou Estrela Francisco, 21 anos, acrescentando que os seus pais é que suportam as suas despesas e do bebé que leva ao colo.

No bairro Azul, arredores de Tete, cinco jovens lutam pela vida, vendendo em pequenos bares para ajudar os maridos atingidos pelos despedimentos.

"O meu marido é do Niassa e trabalhava na Vale, agora está a tentar novas oportunidades de emprego, e vamos sustentando as nossas vidas com este pequeno negócio", explicou Floriana Borge.

Além da escassez de alimentos em casa, a vendedora lamenta também a queda de procura de comida e bebidas no seu negócio porque, diz, "muitos jovens que compravam aqui as suas refeições deixaram Tete".

Fernando Raice sublinhou que poucas empresas indemnizaram os seus trabalhadores nos despedimentos, devido ao modelo de contrato celebrados, mas que depois algumas empresas fizeram acordos com os operários para que conseguissem voltar às suas terras de origem.

"Tete sempre foi uma cidade calma e pacífica, mas hoje temos problemas sérios", concluiu o sindicalista, apelando para que as autoridades controlem a situação, sobretudo a criminalidade.

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