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Lisboa, 03 fev - Cerca de 500 homens e mulheres sozinhos, sem casa e sem dinheiro foram acolhidos em 2012 no Centro de Alojamento Temporário Mãe d´Água (CATMA), em Lisboa, que não conseguiu dar resposta a 200 situações por falta de vagas.
A diretora do centro, Marisa Melo, disse à Lusa que o número de situações apoiadas em 2012 foi idêntico ao do ano anterior, mas, devido ao aumento de pedidos, resultantes do contexto socioeconómico do país, a instituição não conseguiu responder a todos os casos de "emergência grave".
Mas não ficaram sem atendimento: os casos foram sinalizados pelos técnicos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e foram acionadas outras respostas.
O centro da SCML recebe homens e mulheres isolados, maiores de 18 anos, sinalizados pela linha de emergência da Misericórdia de Lisboa, pela Proteção Civil, polícia e hospitais por estarem numa situação de sem-abrigo ou de domicílio instável.
Também acolhe pessoas em trânsito pela cidade que, "por motivos de assalto ou perda de documentos, ficam numa situação de fragilidade e não têm meios suficientes para poder regressar", explicou Marisa Melo.
O perfil dos utentes tem vindo a mudar: "Este ano assistimos, e acho que tem a ver com o contexto socioeconómico do país, a situações de pessoas, maioritariamente homens, com idades entre os 46 e os 55 anos, que sempre tiveram uma vida organizada, sempre trabalharam e que, de um momento para o outro, se viram sem trabalho".
São pessoas com uma "uma baixa qualificação profissional, poucas habilitações literárias, sem suporte familiar", que ficaram sem trabalho, a maioria na área da restauração e construção civil, com vínculos precários, descreveu a responsável.
"Sem suporte familiar, sem trabalho e com alguma dificuldade de acesso às prestações sociais, nomeadamente o subsídio de desemprego, facilmente caem numa situação deste tipo", adiantou.
Mas também há casos de deportados, inquilinos que foram alvo de ações de despejo e mulheres expulsas da família.
"Há histórias de vida muito díspares. Regra geral, as pessoas chegam numa situação de isolamento social, de instabilidade pessoal, associada, algumas vezes, a percursos de toxicodependência, de abuso de álcool, mas essencialmente são situações agravadas por ruturas familiares e instabilidades pessoais", contou a psicóloga Sara Mourão.
Muitos são casos de solidão, outros ainda mantêm uma rede familiar ou social, mas não é suficiente para a sua integração.
Durante a semana, o centro abre as portas às 18:30 e encerra às 09:30 do dia seguinte. Ao fim de semana, está sempre aberto. Tem 21 vagas para homens e nove para mulheres e mais seis reservadas para situações de emergência.
O prazo máximo de permanência é seis meses, mas às vezes é ultrapassado.
"Tendo em conta a fragilidade das situações que recebemos, muitas das vezes não conseguimos que sejam reintegradas neste espaço de tempo", disse Marisa Melo, lembrando que muitas das pessoas chegam ao centro excluídas dos vários subsistemas da sociedade e o trabalho dos técnicos "é tentar reintegrá-las".
Sobre o sucesso da intervenção, disse que não pode haver "a pretensão de dizer que todas as situações se autonomizam, mas há casos em que se consegue uma integração plena".
HN//CC.
Noticias Ao Minuto/Lusa