Se Portugal está em crise, o Irão está "muito mais"
Ali pode não ser Babá nem ter 40 ladrões mas vende tapetes junto à mesquita da cidade de Isfahan e, quando lhe falam de crise, aposta que "o Irão tem muito mais" do que Portugal.
© Reuters
Economia Diplomacia
"Se vocês estão no zero, nós estamos no menos vinte", compara, enquanto tenta convencer alguns portugueses a fazerem compras na "Flying Carpet", a loja de tapetes onde trabalha.
Tem lábia de vendedor e, bem humorado, põe a crise em escala: "Nós, os iranianos, só queremos chegar ao zero." Onde, acredita ele, estão os portugueses.
Nas contas de Ali, meio árabe, meio persa, a seguir ao petróleo é o negócio dos tapetes que mais dá ao Irão. Verdade ou não, as lojas sucedem-se, porta sim, porta sim, com promessas de envio para todas as partes distantes.
Mas há outras mestrias em redor da gigantesca praça do Imam. Por sugestão do governador local, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, que está em visita oficial ao Irão, hoje e segunda-feira, conversa com um especialista na arte centenária da miniatura, um trabalho de minúcia que recorre a tintas naturais, por exemplo retiradas de animais como o camelo ou peixes.
Isfahan quer apostar no turismo e Portugal, que tem conquistado vários prémios no setor, pode mostrar-lhe o caminho. A seu favor, disse o ministro Rui Machete ao governador local, a cidade iraniana tem "a beleza dos monumentos".
O governador Zargarpour só lamenta que Rui Machete fique apenas um dia em Isfahan (o ministro parte já esta noite para Teerão), mas já o convidou a voltar, "durante pelo menos uma semana", confessando esperar que este seja "o momento de viragem para o aceleramento das relações" entre os dois países.
O chefe da diplomacia portuguesa -- que está no Irão acompanhado por uma comitiva de 12 empresas, dois escritórios de advogados e uma universidade -- reconheceu que "é mais do que tempo para reforçar laços". Portugal não visitava oficialmente o Irão desde 1976.
Alheios aos encontros de alto nível, os iranianos movimentam-se em torno da praça do Imam. Grupos de jovens, sempre rapazes de um lado e raparigas do outro, sentam-se nos bancos à conversa, enquanto cocheiros passeiam cavalos e o muezzin chama para a oração do meio-dia.
Ahmad tem 21 anos e já cumpriu os dois anos de serviço militar obrigatório. Tem apenas uma irmã, mais velha, e garante que as dificuldades económicas de hoje não permitem famílias para lá de quatro elementos.
Natural de Isfahan, cidade que ama, passa os tempos livres a jogar futebol ou futsal, torcendo pela equipa Esteghlal, de Teerão, a capital.
Prefere música pop e lamenta que o cinema esteja reduzido a filmes iranianos, exibidos "depois de passarem por filtros" para "tirar tudo o que seja política".
Raparigas e rapazes só estão juntos "em segredo", porque "a religião não permite" que seja de outra maneira. Os casamentos ainda se combinam, mas já há quem tenha a sorte de escolher a noiva. Noivo é que será mais difícil.
O véu continua a cobrir o cabelo das mulheres por estas paragens, mas já vão escapando umas quantas melenas e ao tradicional negro vai-se juntando uma panóplia de outras cores.
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