O Governo já anunciou um conjunto de medidas em reposta aos incêndios florestais, para apoiar as populações afetadas, mas é necessário "ir mais longe porque não basta repor a situação", considera o presidente da Direção Regional Norte da Ordem dos Economistas, Carlos Brito.
A pedido do Notícias ao Minuto, o economista elencou "cinco áreas que não deverão ser esquecidas pelas entidades responsáveis, tanto ao nível da administração central como da local, sem colocar de lado, como é óbvio, o papel fundamental que as organizações da sociedade civil possam vir a ter".
1. Reconstrução com impacto económico local
"Dar prioridade a empresas e mão-de-obra da região em obras de recuperação de habitações, infraestruturas e caminhos florestais, evitando que sejam as grandes empresas de construção e obras públicas externas à região a absorver a maior parte do investimento."
2. Incentivos ao turismo sustentável
"Criar rotas de turismo de natureza e memória (percursos interpretativos, trilhos de regeneração…) e apoiar o alojamento local e a restauração com campanhas nacionais de promoção sob o mote 'voltar ao interior'."
3. Promoção de atividades económicas alternativas
"Criar um programa de incentivos fiscais e de apoios para novos negócios rurais (apicultura, frutos secos, ervas aromáticas e outros produtos endógenos) e fomentar a criação de redes de cooperação locais para explorar recursos de forma conjunta e eficiente."
4. Investimento em silvicultura de valor acrescentado
"Apoiar a reflorestação com espécies de maior valor económico e mais resilientes aos incêndios (castanheiro, nogueira, sobreiro…) e estimular a criação cadeias curtas de transformação."
5. Emprego de emergência e formação
"Fomentar a criação de brigadas locais de reflorestação e limpeza, nomeadamente com base em voluntariado e mão de obra disponível dos trabalhadores afetados pelos incêndios, e promover ações de formação em gestão florestal e prevenção de incêndios como nova oportunidade profissional."
Governo já anunciou 'pacote' de apoios
Vale lembrar que o Governo reuniu-se, na quinta-feira, num Conselho de Ministros extraordinário, em Viseu, e aprovou 45 medidas de apoio imediato às populações e autarquias afetadas pelos incêndios.
"Para além deste pacote de apoios que serão certamente bem-vindos, em particular se forem concedidos de forma célere e pouco burocratizada como está a ser prometido, creio que será importante ir mais longe porque não basta repor a situação. Para além disso, será necessário tornar o território mais resiliente a catástrofes como a que estamos a viver atualmente em Portugal", considerou, momentos antes, Carlos Brito.
O economista adiantou que o "grande objetivo será tornar os territórios mais resilientes ao risco de incêndios, evitando que situações como a deste ano se venham a repetir".
"Neste contexto dos incêndios rurais, as alterações climáticas, em parte responsáveis pela situação, devem ser encaradas como uma variável exógena. Ficam as grandes variáveis sobre as quais é possível (e desejável!) atuar: reordenamento do território, atratividade do interior, reflorestação em novos moldes e melhor prevenção", concluiu.
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