Centeno critica "hábito" de reescrever a história com dados censurados
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, criticou hoje o que diz ser o hábito de reescrever a história com dados censurados, numa altura em que as declarações do seu antecessor no supervisor têm provocado polémica.
© Reuters
Economia Centeno
Mário Centeno falava na conferência "Banca do Futuro", em Lisboa, organizada pelo Jornal de Negócios, quando elogiou a evolução do sistema financeiro nos últimos anos.
Sem referir nomes, o governador do Banco de Portugal (BdP) afirmou: "Só há uma dimensão em que mantemos o velho hábito: o hábito de reescrever a história com os dados censurados e, na verdade, vos digo que parece que gostamos muito disso".
O ex-ministro das Finanças é um dos visados do livro "O Governador", publicado pela Dom Quixote, que resulta de um conjunto de entrevistas do jornalista do Observador Luís Rosa a Carlos Costa, que liderou o Banco de Portugal entre 2010 e 2020, e tem provocado polémica.
Durante a sua intervenção, Mário Centeno vincou que o sistema bancário português está hoje muito diferente do que estava há alguns anos.
"A evolução do setor bancário português ao longo dos últimos anos caracterizou-se por um reforço da posição de capital, dos níveis de liquidez, de melhoria da qualidade do crédito e de aumento da rendibilidade", disse.
Segundo Centeno, "os passos que foram dados nos últimos anos foram determinantes para um futuro de sucesso".
"No final de 2015, ¾ dos ativos e dos depósitos da banca portuguesa estavam em instituições com o futuro comprometido", exemplificou.
O governando do BdP defendeu que não existe qualquer sociedade moderna que consiga crescer neste ambiente.
"Esta não é uma tarefa do Banco Central ou do Governo. É e foi uma tarefa coletiva, que tirou o país do lixo, dos procedimentos por défice excessivo e da incerteza do que seria a classificação de uma única agência de rating canadiana", disse.
Para Centeno, "este processo acelerou a limpeza dos mais de 17% de créditos improdutivos, malparados, com que a banca portuguesa convivia infelizmente nessa altura", o que diz ter permitido atrair para a banca portuguesa capital dos quatro cantos do mundo.
"Hoje vivemos felizmente os frutos dessa inversão. Eu gosto mesmo de pensar que hoje vivemos o futuro. Os prémios de juro que pagávamos, deixamos de pagar, os crónicos défices orçamentais que tínhamos deixamos de ter, dívida publica e privada, que não parava de crescer caiu. Entre famílias e empresas são menos 70 mil milhões de euros, em termos reais, na última década", vincou.
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