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Um em cada seis euros da ajuda ao desenvolvimento não chega aos visados

Um em cada seis euros de Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) destinada pelos países da União Europeia (UE) aos seus parceiros menos desenvolvidos em 2021 não chegou às pessoas a quem se destinava, segundo um relatório hoje divulgado.

Um em cada seis euros da ajuda ao desenvolvimento não chega aos visados
Notícias ao Minuto

12:53 - 24/10/22 por Lusa

Economia União Europeia

De acordo com o 18.º relatório AidWatch da CONCORD Europe, que monitoriza anualmente a quantidade e a qualidade da APD da UE e dos seus Estados-membros, uma em cada seis euros dos orçamentos de APD da União e dos seus 27 membros "não chegou às pessoas que mais precisam", sublinha a Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD), membro daquela organização, num comunicado divulgado hoje.

A UE e os seus Estados-membros comprometeram-se a dedicar, pelo menos, 0,7% do Rendimento Nacional Bruto (RNB) à APD até 2030, mas em 2021 a APD europeia ficou em apenas 0,48% do RNB, ligeiramente abaixo dos 0,50% registados em 2020 e não obstante a situação social e económica resultante da crise pandémica nos países recetores.

Por outro lado, de acordo com o relatório, apenas 0,12% do RNB dos Estados-membros da UE foi para os países menos avançados (PMA) e apenas três dos 46 PMA estavam entre os 10 principais beneficiários da APD da UE.

A APD portuguesa ficou bastante longe da média europeia, tendo-se fixado em 0,18% do RNB.

De acordo com o relatório, assinala a Plataforma, em 2021 a APD também "foi mais propensa a não chegar onde é mais necessária".

A APD inflacionada -- ou APD que não contribui diretamente para o desenvolvimento sustentável nos países parceiros -- aumentou para 11,8 mil milhões de euros, invertendo uma tendência decrescente de quatro anos, muito por efeito da pandemia.

De acordo com o relatório, os países doadores -- depois de acumularem 3,5 vezes mais vacinas contra a covid-19 do que o necessário para proteger a população da UE -- passaram a reportar a "partilha" de doses excedentárias como APD, aumentando consideravelmente os números finais.

"O cerne da questão é: as vacinas compradas com uma abordagem 'eu primeiro' e não com base num esforço genuíno para apoiar a vacinação global contra a covid-19 em países parceiros não devem ser reportadas como tal", afirma Réka Balogh, diretora de Políticas da HAND, Associação Húngara para o Desenvolvimento e Ajuda Humanitária, citada no relatório da CONCORD.

No caso de Portugal, o reporte da doação de doses excedentárias de vacinas anti-covid-19 teve também um impacto significativo no aumento dos valores totais da APD em 2021.

A verba reportada por Portugal ao abrigo das várias iniciativas de partilha de vacinas com países parceiros representou, segundo o Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da OCDE (CAD/OCDE), cerca de 7% do total da APD portuguesa que, dessa forma, atingiu um montante global superior em 4% ao registado em 2020, ainda que dentro dos mesmos 0,18% do RNB em ambos os exercícios.

Este aumento resultou, portanto, de um contexto particular, não integrando "o compromisso estruturado de Portugal para o reforço do seu contributo em termos de financiamento para o desenvolvimento", assinala a Plataforma das ONGD.

Acresce que, a nível internacional, os atuais padrões de reporte de APD podem inflacionar ainda mais o que é entendido como ajuda por efeito da guerra na Ucrânia.

Os países doadores "já se encontram a redirecionar fundos essenciais" à APD para responder ao fluxo de pessoas refugiadas provocado pela invasão russa da Ucrânia, assinala o relatório, sustentando que os fundos para responder a esta emergência "devem ser novos e adicionais, não comprometendo o destino primeiro da APD".

Embora não exista ainda estimativa oficial sobre o impacto desta situação no caso concreto da APD portuguesa, a presidente da Plataforma, Ana Patrícia Fonseca, citada na nota da organização, sublinha ser "importante" que "o auxílio prestado a todas as pessoas que veem em Portugal um lugar de acolhimento e refúgio seja efetivado com fundos novos e adicionais e que a APD portuguesa se concentre nos países parceiros da Cooperação Portuguesa, reforçando o compromisso coletivo [dos portugueses] com o desenvolvimento global".

De acordo com o relatório, os PMA continuam a suportar o peso das crises, enquanto os países doadores continuam a não cumprir os seus compromissos.

As crises globais estão a dificultar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas até 2030, pelo que o relatório levanta a questão de se saber se os 0,7% do RNB para APD -- meta estabelecida há mais de meio século, em 1970 -- é suficiente.

"A meta perdeu o nível de ambição que tinha até há uma década", considera Lukas Goltermann, consultor de políticas da VENRO, Associação Alemã de ONG de Desenvolvimento e Ajuda Humanitária, citado no relatório.

"Nos últimos anos, emergiram novos desafios globais que precisam urgentemente de respostas mais robustas por parte dos países desenvolvidos. A meta de 0,7% deve ser a base, não o teto", acrescentou.

A CONCORD Europe é a Confederação Europeia de ONG que trabalham na área do desenvolvimento sustentável e na cooperação internacional, composta por 26 plataformas nacionais (incluindo a Plataforma Portuguesa das ONGD), 25 redes internacionais e 7 membros associados que representam mais de 2.600 ONG europeias.

Leia Também: UE com 1.200 casos de desinformação sobre Ucrânia e Estados-membros

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