"Fala-se muito sobre soft-skills, como trabalhá-las e usá-las a nosso favor em processos de recrutamento e seleção, no entanto, existe outro denominador, muito menos abordado, que pode ser decisivo na hora de um recrutador ou responsável de recursos humanos optar por um candidato: a linguagem não-verbal. Esta vai além da forma como um candidato comunica e se expressa por palavras, e influencia a imagem e perceção que o recrutador cria do mesmo.

Existem muitas nuances que podem ter impacto durante uma entrevista. De um modo geral, deve evitar-se comportamentos que denunciem nervosismo ou falta de confiança, por exemplo, esfregar excessivamente as mãos ou olhar ligeiramente para o lado ao formular uma resposta.

Também importa controlar microexpressões de stress, como franzir a testa ou morder os lábios e interior das bochechas. Falando no contexto de entrevistas por videochamada, cada vez mais comuns, é relevante também o ambiente em que o candidato se encontra e deve optar-se por locais bem iluminados e com fundos neutros, como uma parede branca. No caso de tal não ser possível, é importante que o fundo esteja bem organizado. Outro fator a considerar é, sempre que possível, olhar diretamente para a câmara do computador, de forma a dar a impressão de que se está a olhar nos olhos do entrevistador.

Adicionalmente, para tirar o maior partido da poderosa ferramenta que é a linguagem nãoverbal, deve fazer-se uma análise crítica do anúncio a que nos candidatamos, de forma a percebermos o que se pretende, a nível comportamental, de um “candidato ideal”. Os pontos principais a reter são o setor de atividade, o nível de experiência e as tarefas referidas no descritivo funcional. A partir daqui, conseguimos extrair várias informações importantes e, assim, ajustar a forma como, desde logo, nos apresentamos.

Tomemos como exemplo a função de Responsável de Segurança e Ambiente, em dois contextos completamente diferentes: o setor financeiro e o setor industrial. No primeiro, predomina um ambiente corporativo, logo, procura-se um perfil mais focado na gestão documental e sensibilização para boas práticas, capaz de criar empatia e envolvimento. Desta forma, numa entrevista, recomenda-se o uso de roupas mais claras, se possível lisas, que transmitem organização, ponderação e calma. Ao nível da postura, é importante a proximidade, por exemplo, pousando as mãos em cima da mesa e inclinando o tronco levemente para a frente, na direção do interlocutor. Já no setor industrial, o ambiente é de fábrica, com maior produção de resíduos e maior propensão a acidentes. Assim, procura-se um candidato mais firme, assertivo e diretivo, para garantir que as normas são cumpridas. Neste caso, pode optar-se por roupas de linhas retas e cores mais escuras, e assumir-se uma postura mais firme e uma gesticulação exemplificativa com as mãos, que passa a ideia de ser uma pessoa mais prática e “mãos-namassa”.

A mesma linha de pensamento poderá ser utilizada com os restantes dois fatores principais a reter, ou seja, quando são requeridos mais anos de experiência, inferimos que se procura alguém com uma maior maturidade, e deve adotar-se comportamentos que se associam a essa característica. De igual forma, se um descritivo funcional emprega mais verbos como “garantir”, “supervisionar” ou “dirigir”, deve assumir-se uma postura mais assertiva, enquanto se os verbos mais utilizados forem “acompanhar”, “gerir” ou “orientar”, deve optar-se por uma postura mais
envolvente e empática.

Com um mercado de trabalho em constante mudança, há muito que a exclusiva avaliação de um curriculum deixou de sustentar decisões. A capacidade de adaptação ao ambiente e o alinhamento com a cultura e os valores da empresa, por exemplo, são hoje prioridades na busca do candidato ideal. Os recrutadores procuram, cada vez mais, ler nas entrelinhas, pelo que passar as mensagens certas através da forma como nos apresentamos e da postura que adotamos é absolutamente fundamental."