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Hugo Vieira: "Seleção? Estou focado naquilo que posso controlar"

Brilhou na Sérvia e agora até faz os adeptos japoneses falar português, Hugo Vieira continua com fome de golos e só pensa em ganhar e conquistar títulos.

Hugo Vieira: "Seleção? Estou focado naquilo que posso controlar"
Notícias ao Minuto

08:05 - 07/07/17 por Francisco Amaral Santos c/ Carlos Pereira Fernandes

Desporto Exclusivo

Hugo Vieira é mais um português que encontrou, no estrangeiro, o segredo do sucesso. Com 28 anos, o avançado natural de Barcelos está agora no Japão, onde de resto, brilha de forma bem intensa.

Com nove golos em 20 partidas ao serviço do Yokohama Marinos, Hugo Vieira conta, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, de que forma está a viver a experiência asiática, revelando ainda qual o impacto causado pelas sucessivas manifestações portuguesas nas bancadas do estádio do Yokohama.

Numa conversa onde se falou de tudo um pouco, não foram esquecidos temas como a seleção, a passagem pelo Benfica e ainda a possibilidade de um regresso a Portugal que, para já, fica adiado. 

"É inacreditável estar no outro lado do mundo e olhar para bancada e ver centenas de bandeiras portuguesas"

Que balanço faz da experiência no Japão?

Está a ser uma boa experiência. Comecei a jogar, e a marcar, o que é muito importante. Não há muitos jogadores a marcar golos aqui no Japão. Não há muitos matadores aqui, como eles costumam dizer. As coisas estão a correr bem.

Recentemente, publicou uma fotografia nas redes sociais, onde os adeptos aparecem com uma faixa escrita em português. Como é a relação com eles?

É inacreditável estar no outro lado do mundo e olhar para bancada e ver centenas de bandeiras portuguesas e faixas em português, é, de facto, impossível de expressar o que sinto em palavras. São sensações fortes e muito boas.

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Que diferenças encontra entre a realidade japonesa e a realidade sérvia? Isto depois te ter representado o Estrela Vermelha durante tanto tempo...

É diferente. Aqui a competitividade é muito grande. Existem equipas muito fortes que lutam todos os anos para ganhar a Liga dos Campeões asiática e existe muita qualidade. Jogam muito bem à bola. Na Sérvia, existe o Estrela Vermelha, o Partizan e pouco mais [a lutar por títulos]… Aqui não, aqui temos sete ou oito equipas que lutam pelo título. Ainda agora, nós estamos em sexto e estamos a quatro pontos do primeiro…. Aqui, de semana a semana, joga-se uma final. São jogos extremamente difíceis de ganhar, mesmo contra as equipas que não são teoricamente tão fortes. Jogam muito bem futebol e os japoneses são conhecidos por isso mesmo. Correm muito, dão tudo dentro de campo mas também jogam com muita qualidade.

Essa competitividade mais intensa é um acréscimo motivacional?

Não... A minha maneira de estar no futebol é uma, e quem me conhece sabe isso, eu quero ganhar os jogos todos. Não gosto de perder nem a feijões, tenho muito mau feitio (risos)… Não suporto perder, esse é um grande defeito que eu tenho e é óbvio que quero ganhar todos os jogos. Também tem o seu lado bom, porque contagio os meus colegas. Quando cheguei não acreditavam muito que era possível sermos campeões, ou estar a lutar por esse objetivo, e hoje ainda na palestra falaram que é muito possível e que a vontade de ganhar, minha e dos meus companheiros estrangeiros, contagia. Ajuda bastante termos mais personalidades assim no plantel, porque ajuda muito o grupo. Contagiamos os outros com a nossa mentalidade.

O objetivo principal passa então por conquistar o campeonato?

Para mim, sempre foi esse o meu objetivo pessoal. Apesar da maioria das pessoas não acreditar, eu estou habituado a jogar para ganhar todos os jogos e ser campeão. É óbvio que temos de ser realistas e ver que existem equipas como o Kashmia ou o Osaka, equipas que estão na Liga dos Campeões e que lutam para ganhar essa competição e o campeonato japonês. É como digo, existem equipas muito fortes, mas o Yokohama é uma delas e quem tem as condições que nós temos, só tem de lutar para ser campeão.

Como é a relação entre os jogadores estrangeiros e os jogadores japoneses?

A maioria não fala inglês. Nós, estrangeiros, comunicamos em inglês e temos tradutores 24 horas por dia, qualquer coisa que precisemos é assim que comunicamos. Muitas vezes não é fácil mas nós tentamos fazer o melhor…

E já dá uns toques na língua japonesa?

Sim, o básico já sei. Nós temos aulas e estamos a aprender…

O que ajuda na comunicação….

Sim, sem dúvida nenhuma! Agora já consigo comunicar melhor e claro que as coisas ficam mais fáceis.

"Praticamente abdiquei do futebol e as coisas foram por outro caminho"

Também passou pela Rússia, apesar de ter sido uma estadia muito curta. Como descreve a experiência?

Foi muito boa. Infelizmente os problemas financeiros do clube [Torpedo] tornaram as coisas complicadas, e foi difícil por essa razão. Mas a verdade é que as coisas correram bem na Rússia… Ainda hoje recebo muitas mensagens de adeptos de lá. Olhe ainda ontem, fizeram-me uma homenagem num canal desportivo. As coisas de facto, correram bem, e eles também sentem que demos tudo pelo clube.

E um regresso a Portugal, Hugo? Está em equação?

Não vou ser hipócrita. É óbvio que adoro estar no meu país mas é quase impossível alguém me pagar o que eu ganho aqui. Ainda no outro dia ligaram ao meu agente, a perguntar por mim, e o que ele teve de responder foi que o orçamento de uma equipa aí [em Portugal] é quase o que eu ganho aqui num ano. Ou talvez superior. É muito difícil eu voltar aí, porque felizmente as coisas estão a correr muito bem e é impossível ganhar em Portugal o que eu ganho aqui. Aqui dão-me condições que é quase impossível ter na Europa, por isso é que eu também vim e agora vejo que não é só isso que conta. Eu vim pelo apelo monetário, não foi por outra coisa, gosto de estar aqui mas claro que o nosso país é o nosso país. Gostava muito de voltar mas não vai ser por agora porque aqui [no Japão] tenho condições fantásticas.

Talvez mais à frente?

Sim, mais à frente é uma hipótese. Fico muito feliz por todos os anos se lembrarem de mim e por receber chamas e propostas de Portugal, mas por agora é impossível.

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Em Portugal passou pelo Benfica. Sente que podia ter dado mais na Luz?

Sem dúvida que podia ter dado muito mais no Benfica, mas as coisas não aconteceram… Acabaram por não acontecer. Não sei se foi erro deles, se foi erro do treinador, a verdade é que as coisas não rolaram, e acabei por pedir para sair porque queria jogar. E depois toda a gente sabe o que aconteceu na minha vida pessoal, que era o mais importante na altura, e eu praticamente abdiquei do futebol e as coisas foram por outro caminho. A verdade é que se fosse hoje, sentia-me perfeitamente capaz de jogar no Benfica ou noutro clube grande daí, porque já o mostrei noutros lados e continuo a mostrar. O futebol é isso mesmo. São coisas que já passaram, e o caminho é para a frente.

E a seleção? Ainda sonha em chegar lá?

Não… Eu já respondi a essa pergunta muitas vezes. Claro que é sempre bom vocês [jornalistas] perguntarem isso porque é sinal que acompanham o meu trabalho e que consideram que talvez merecesse uma oportunidade.

Mas a resposta é 'não' por um motivo simples: não depende de mim. Eu estou focado naquilo que depende de mim, que é marcar seja em que campeonato for. Muita gente dizia que o campeonato da Sérvia era fraco e a verdade é que o campeonato japonês é o melhor da Ásia e eu continuo a marcar golos na mesma. É assim que eu quero continuar e o resto não me diz respeito. Não sou eu quem tem de decidir isso. Eu estou focado naquilo que posso controlar, que é continuar a jogar bem, a marcar golos e a deixar o nome de Portugal muito bem referenciado.

O que lhe falta atingir na carreira?

Depois do que eu vivi… Costumo dizer que vivo o hoje, não penso no amanhã. Mas quero continuar neste ritmo, a marcar golos a ganhar campeonatos e a levar o nome de Portugal bem longe. Sou português e orgulho-me disso. Aquilo que mais me enche de orgulho, é olhar para a bancada no outro lado do mundo e ver bandeiras do meu país. É inacreditável o que acontece no estádio do Yokohama. É único, são sensações que o dinheiro não pode comprar.

Do que sente mais falta de Portugal?

Sem dúvida que é a comida da minha mamã mas felizmente que ela agora está cá comigo (risos) para me ajudar a cuidar da minha filha. Mas sem dúvida, sinto falta da minha família e dos meus amigos, que é isso que me move. Sem dúvida, são aquilo que sinto mais falta.

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