O médio Vítor Bruno fez parte da formação no FC Porto, saltando depois para clubes de menor dimensão onde conseguiu dar nas vistas. Agora, nos romenos do Cluj, o futebolista de 25 anos lembra que é necessário apostar mais nos jovens, pois o talento existe.

Em entrevsita exclusiva ao Desporto ao Minuto, Vítor Bruno alinha no discurso de Ricardo Quaresma e lamenta a falta de mística no FC Porto. O futebolista analisou os rivais Benfica e Sporting, não deixando de comentar a transferência de Jorge Jesus.

Recuando um pouco no tempo, saiu do FC Porto em 2008/09, numa altura em que se apostava pouco nos jovens. A chegada de Julen Lopetegui fez emergir jogadores como Rúben Neves e já se fala na aposta em jovens como o André Silva ou Gonçalo Paciência. Sente alguma mágoa por nunca ter tido oportunidade de mostrar o seu valor no clube?

Nenhuma. Nem todos os jogadores da formação podem chegar ao plantel principal, obviamente. E, naquela altura, não era o jogador que sou hoje. Logo, foi algo que encarei com normalidade. No entanto, sempre houve jogadores com qualidade e arrisco-me a dizer que nunca houve aproveitamento. Ouço falar e lembro-me de uma entrevista de um dirigente importante do FCP, há alguns anos atrás, em que referia que se eventualmente apostassem nos jovens não ganhariam tanto. É uma opinião legítima. Porém, já tentaram? Já investiram assim tanto para perceber que não resulta?  É gastando milhões em jogadores estrangeiros que se vai ganhar mais? Na minha opinião, é uma falsa questão. Como se pode comprovar pelos resultados das selecções mais jovens, há muita qualidade na formação só não há continuidade nos clubes. Também se pode ganhar jogando com jogadores da formação e Rúben Neves é um claro exemplo de sucesso.

Na altura sentiu que teria de descer um degrau para voltar a vingar como futebolista?

Sim, sem dúvida. A vida foi-me pondo à prova constantemente e felizmente tive a felicidade de saber o que queria. E não desci apenas um degrau, desci vários, porque o meu primeiro ano de sénior foi num clube da extinta III divisão. Jogava pelo amor que tenho a este desporto e pelo sonho que me movia. 

Trabalhou com Vítor Pereira (2004/05), ainda era júnior. O sucesso que teve anos mais tarde na formação principal do FC Porto já se previa à data? Em que é que este mais se destacava?

Sim, desde cedo se percebeu que Vítor Pereira teria sucesso. Era um treinador meticuloso, 'amante' daquele conceito de posse e controlo total do jogo, inteligente na forma como interage com os seus jogadores. E podemos comprovar facilmente as suas faculdades. Repare no investimento actual do FC Porto e no investimento que foi feito na era Vítor Pereira. Só aí percebemos que fez um enorme trabalho de muito mérito. Na minha opinião, É gritante a diferença de recursos. Mas ele não se entregou, lutou e ganhou no último fôlego. Fez um trabalho fantástico.

Conhece o FC Porto por dentro e quando saiu o clube era campeão nacional. Nos últimos dois anos, o FC Porto não tem conseguido ganhar títulos. O FC Porto perdeu a sua mística vencedora?

Honestamente sim. Aliás, já foi anteriormente referido por Ricardo Quaresma. O verdadeiro ADN não está actualmente inserido. Cada vez mais, o futebol tornou-se num negócio, com passes divididos por fundos, alguns interesses e o amor ao clube vai faltando. Falta aquela raça que antes víamos. Anteriormente, falávamos da tal mística portista. E olhávamos para o plantel e havia de facto esse atributo. Jorge Costa, Pedro Emanuel, Quaresma, Lucho Gonzalez, Lisandro López, Deco, Helton são os jogadores que me ocorrem e que, de facto, tinham essa capacidade. Porém, há um jogador no actual plantel que para mim reúne o conceito do ser Porto, que é o André André.

Olhando para o campeonato português, quem lhe parece estar em melhores condições para se sagrar campeão nacional?

Temos um Sporting completamente renovado, motivado e muito mais maduro no seu jogo. Tem talvez o melhor treinador de Portugal, com uma ideia que tem resultado. Um FC Porto com o melhor plantel em Portugal, mas com uma ideia de jogo que não agrada. Um Benfica apostando, por necessidade, na formação, com jovens muito, muito, talentosos e com claras melhorias no seu jogo desde o começo da época. Perante isto, acredito que no Sporting este ano. Até pela clara aposta, amplamente assumida, na conquista do campeonato.

Como viu a mudança de Jorge Jesus do Benfica para o Sporting?

Creio que foi uma surpresa geral. Deixou marcas evidentes no Benfica até pelo seu começo de campeonato e mais concretamente nos jogos contra o Sporting. Foi um golpe excelente para Sporting a todos os níveis.

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