Antigo candidato à presidência do Benfica e adepto atento à atualidade do clube da Luz, Bruno Carvalho concedeu uma extensa entrevista ao Desporto ao Minuto. Na conversa mantida, o antigo candidato à presidência das 'águias' mostrou algumas reservas relativamente ao trabalho de Rui Vitória, treinador da equipa 'encarnada'

O Benfica tem tido uma época algo irregular, como analisa o atual momento da equipa?

Eu acho que o Benfica já perdeu um conjunto de jogos este ano que não seria normal perder e acho que tem tido um começo de época muito a baixo daquilo que seria expectável para um bicampeão, até porque nem sequer se mexeu muito no plantel. Saiu o Maxi e o Lima. O Lima foi colmatado pelo Raúl Jiménez e pelo Mitroglou e temos o Nélson [Semedo]. De qualquer maneira, houve aqui uma transição, não de modelo [desportivo do Benfica], mas de treinador. Agora, as coisas continuam difíceis porque estamos a perseguir dois rivais, mas não atiro a toalha ao chão.

O Benfica já jogou com os rivais diretos e agora enfrenta uma série de jogos com equipas de meio da tabela, esta poderá ser a altura chave para a equipa embalar para uma série de bons resultados até ao final da época?

Eu gostava que sim, apesar de não podermos pensar bem assim, porque os clubes mais pequenos causam problemas aos grandes. Basta ver o exemplo do União da Madeira que causou problemas a Benfica e Sporting. Agora, acho que o período de adaptação do treinador ao clube e dos jogadores ao treinador já se concluiu e, neste momento, nota-se algo de positivo. Não se pode ficar indiferente à forma como o Jonas comemorou o golo do 2-1, o que mostra que há ali espírito de equipa e que os jogadores estão com o treinador. Às vezes isso não chega, mas vamos ver se o Rui Vitória tem aquilo que é necessário para ser campeão, até agora não o demonstrou.

Disse que o Benfica moldou o discurso desde o início da época, referindo-se ao facto de o Benfica se ter apresentado como candidato ao título e agora falar ao “ano de transição”. Acha que não foram dadas as 'armas' necessárias a Rui Vitória, ou, pelo contrário, Rui vitória é que é o problema principal?

Eu acho que o Benfica tem plantel para ser campeão. O Salvio e o Nélson Semedo devem estar a regressar, agora acho que o Rui Vitória vai ter de se impor como treinador e dar consistência [à equipa] que ainda não vimos. Rui Vitória tem demorado muito a adaptar-se à realidade do Benfica. Não sei se deveria estar mais apoiado. O Benfica não tinha uma estrutura que permitia a qualquer treinador ser campeão? Portanto, se a estrutura existe ainda é mais difícil perceber a forma como Rui Vitória tem pegado na equipa. A questão é ver o Benfica a ganhar todos os jogos ou quase todos e isso estamos longe de o ver.

Luís Filipe Vieira atacou os rivais depois do jogo com o Rio Ave, queixando-se de penáltis por marcar. Elogiou a atitude do presidente, esta é uma forma do Benfica equilibrar a balança a seu favor e mostrar que está atento?

Claro, é precisa uma reação enérgica do presidente do Benfica. Acho que o presidente do Benfica disse o que tinha de ser dito – o jogo que o Rio Ave é um escândalo, houve três penáltis que não foram marcados -, mas isto acontece depois de uma situação em que estávamos quase sem reação perante os ataques permanentes do presidente do Sporting. Exigia-se uma resposta mais firme e mais forte do presidente do Benfica e acho que veio tarde. Fico contente que o tenha feito agora, porque mais vale tarde do que nunca.

Acha que a estratégia de silêncio da direção do Benfica foi a mais acertada perante os constantes ‘ataques’ do Sporting?

Acho erradíssima. No futebol, o silêncio nunca é positivo nessas situações. O Benfica devia ter reagido, não baixando ao nível do Sporting, porque é um nível que o Benfica não deve ir, mas deveria ter deixado bem clara a sua posição e não remeter o assunto para os tribunais. Já sabemos que aí as coisas nunca são resolvidas em tempo útil.

Não acha que a direção do Benfica está a cair na estratégia do Sporting depois de manter o silêncio no início da época e de vir agora mostrar a sua insatisfação em relação ao futebol e atacar os rivais?

Não, acho precisamente o contrário. A questão do silêncio é que era cair na estratégia do Sporting. Quando se atenta contra a honra e a dignidade, tem que se reagir, se não tornamo-nos no bombo da festa. Neste momento não sei o que é preciso fazer para ser marcado um penálti a favor do Benfica, e contra o Rio Ave viu-se isso.

Afirmou nas redes sociais que “com alguma competência” o Benfica ainda pode chegar ao título. A que é que se referia com esta expressão?

Refiro-me a duas coisas: à competência do treinador e à postura que o presidente do Benfica teve finalmente a seguir ao jogo com o Rio Ave, de lutar e de se bater fortemente na praça pública pela intransigente defesa dos interesses do Benfica.

Leia a parte final da entrevista esta sábado e continue a acompanhar toda a atualidade do Desporto nacional e internacional no site Notícias ao Minuto.