Carlos Jorge Neto Martins é um caso de sucesso no futebol português. O antigo médio notabilizou-se no nosso campeonato com boas prestações com as camisola do Sporting e do Benfica, mas também pelos seus remates de longa distância e alguma indisciplina.
Natural de Oliveira do Hospital, onde nasceu a 29 de abril de 1982, Carlos Martins começou a dar os seus primeiros toques na bola ao serviço do Tourizense, um emblema da sua terra natal. Vendo as habilidades e o potencial que o filho tinha, o seu pai convenceu o jovem a mudar-se para Lisboa, para jogar na equipa de infantis do Sporting em 1993/94.
A chegada ao emblema de Alvalade confirmou todas as qualidades que se previam. Internacional em todos os escalões das camadas jovens portuguesas, Carlos Martins destacava-se pela capacidade de transportar o jogo de trás para a frente e pelo seu forte pontapé.
O antigo internacional por Portugal evidenciou-se na equipa B do Sporting, mas foi num ápice que passou aos seniores. Atento às atuações do então jovem, Augusto Inácio estreou-o na equipa principal do Sporting no dia 16 de Setembro de 2000, quando ainda tinha idade de júnior, num encontro diante do Alverca. Foi por esta altura que conquistou o Torneio de Toulon com a camisola portuguesa.
Carlos Martins participou em 98 jogos pelo Sporting© Getty Images
Na época seguinte, e sem entrar nos planos do treinador László Boloni, foi emprestado ao Campomaiorense, onde se começaram a manifestar alguns problemas disciplinares que se repetiram ao longo da sua carreira de futebolista e que o levaram a ganhar a fama de menino indisciplinado do futebol português da qual não mais se largou.
O médio haveria de voltar a Alvalade na temporada seguinte, em 2002/03, e alcançou o seu único título com a camisola verde e branca: a Supertaça Cândido de Oliveira. Depois de meia época em Lisboa, onde somou nove jogos, o romeno Boloni voltou a emprestar o jogador, desta vez à Académica. Fez 11 encontros ao serviço dos estudantes.
No final da temporada regressou ao Sporting e fixou-se de vez em Alvalade. Esteve quatro épocas nos verde e brancos, todas elas marcadas por um denominador comum. Os problemas físicos travaram a afirmação de Carlos Martins nos verde e brancos, assim como os sucessivos problemas disciplinares com Paulo Bento. Apesar disso, foi ao serviço dos leões que se estreou pela seleção nacional, onde atuou por 17 ocasiões, e que alcançou o segundo título enquanto sénior: a Taça de Portugal em 2006/07.
Carlos Martins foi internacional em todas as camadas jovens portuguesas© FPF
Depois da polémica em Alvalade, foi sem surpresa, que o médio acabou por sair de Lisboa e rumar ao Recreativo de Huelva. Em Espanha, Carlos Martins anotou sete golos em 35 jogos. Após esta passagem fugaz pelo sul do país vizinho, Carlos Martins voltou a Portugal pela porta do Benfica em 2008 e relançou a carreira ao serviço dos encarnados.
Na sua primeira temporada de águia ao peito, o antigo leão é novamente assombrado pelas lesões que o impediram de começar a época. Apesar de nunca ter sido titular indiscutível na Luz, sobretudo por causa dos problemas físicos, contribuiu para a conquista de três Taças da Liga (2008/09, 2009/10, 2010/11) e de um campeonato (2009/10).
Carlos Martins fez 133 jogos e 11 golos com a camisola do Benfica© Global Imagens
Em 2011/12, Carlos Martins regressa a Espanha e é emprestado ao Granada, que acabara de ser promovido à La Liga, onde fez uma época positiva. Os espanhóis quiseram ficar com ele para uma segunda temporada, mas Martins regressaria à Luz em 2012/13 para um final de ciclo polémico ao serviço do clube da Luz.
A 6 de maio de 2013, o médio caiu em desgraça ao ser desnecessariamente expulso num jogo em que a sua equipa empatou em casa com o Estoril, permitindo a recuperação do FC Porto que acabou por ganhar esse campeonato. Carlos Martins foi 'riscado' por Jorge Jesus para a época seguinte. Colocado na lista de transferíveis, o médio não encontrou clube e foi despromovido para a equipa B dos encarnados.
"Não foi fácil. Foram críticas injustas pela proporção que tiveram. Não quer dizer que sacuda a água do capote, porque errei. Principalmente no primeiro amarelo, porque discuti com o árbitro. No segundo penso que vou chegar à bola, é um lance normal. Tive alguma culpa, mas não para se virarem todos contra mim. Mas sei como é o futebol. Fui render o Enzo, que saiu lesionado, e senti que estava a ser o melhor em campo. Ninguém pode dizer que íamos ganhar se estivesse lá. Mas houve interesses e destruíram-me a carreira. Mandaram-me para a equipa B. Mas não guardo rancor", vincou na altura o jogador, numa entrevista ao Sindicato dos Jogadores.
Em setembro de 2014, Carlos Martins rescindiu o contrato que o ligava ao Benfica e assinou pelo Belenenses, onde esteve duas temporadas. Mas a saída do Restelo também não foi nada pacífica. Depois de 46 jogos com a Cruz de Cristo ao peito, o internacional português rescindiu o contrato com os azuis por causa de desentendimentos com o técnico espanhol Júlio Velásquez. Aos 34 anos, colocou um ponto final na carreira de futebolista.
Carlos Martins teve carreira marcada por indisciplina.© Global Imagens
Depois do ponto final na carreira, Carlos Martins afastou-se por completo do mundo do futebol. Quando resolveu pendurar as botas, o ex-jogador dedicou-se ao ramo da construção civil como gestor imobiliário no setor de luxo. Ainda assim, os dois filhos continuam ligados ao desporto-rei. Martim Martins está nos sub-15 Sporting e Gustavo Martins no Estrela da Amadora. E é precisamente este último que está ligado a uma situação que gerou uma onda de solidariedade em todo o país.
A 15 de Novembro de 2011, após a segunda-mão do playoff de qualificação para o Euro'2012 entre Portugal e Bósnia, foi anunciado que Gustavo, então com três anos, sofria de aplasia medular, cuja cura implicava um transplante de medula. Ultrapassada a doença, o jovem estreou-se no futebol em 2019/20 e não mais parou até aos dias de hoje.
Todas as semanas o Desporto ao Minuto apresenta-lhe uma nova edição da rubrica 'O que é feito de...?', que pretende recordar o percurso de algumas personalidades do mundo futebolístico que acabaram por cair no esquecimento.
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