Discreto, mas altamente eficaz e com traços de elegância poucos vistos num defesa central. É assim que Ricardo Carvalho ainda hoje é recordado pelos adeptos mais apaixonados. O antigo internacional português, agora com 47 anos, era um patrão silencioso, mas o seu legado no futebol está longe de terminar.
Atualmente a assumir papel de treinador adjunto na equipa técnica de Roberto Martínez, selecionador que está focado em levar Portugal ao Mundial'2026, vale a pena recordar a brilhante carreira de Ricardo Carvalho como jogador.
Decorriam os anos 90 quando um então jovem central começava a dar nas vistas em Amarante, a sua terra natal. Longe de ter um porte físico assinalável, Ricardo Carvalho ia dando alguns sinais de que poderia seguir uma carreira profissional, acabando por chegar ao FC Porto em 1996. Na época seguinte vai para o Leça por empréstimo, antes de ser cedido ao Vitória FC e ao Alverca.
A boa temporada no Ribatejo serviu de último teste antes de se fixar no Dragão, seguindo-se três temporadas de grande protagonismo na equipa principal do FC Porto, fazendo parte da geração que venceu a Taça UEFA e a Liga dos Campeões sob a batuta de José Mourinho.
O comandante silencioso da defesa acompanhou, de resto, o compatriota até terras de Sua Majestade e ainda hoje deixa saudades no Chelsea, clube que representou que mais vezes (210) representou na sua longa carreira e que pagou, à época, 30 milhões de euros pelo internacional luso.
Ricardo Carvalho em plena festa da conquista da Premier League no Chelsea. © Getty Images
Em Inglaterra também somou mais títulos à sua coleção, entre os quais três Ligas inglesas, três Taças de Inglaterra e ainda duas Supertaças. No verão de 2010 voltou a reencontrar Mourinho, desta feita em Madrid.
Ricardo Carvalho chegou ao gigante Real para se impor no onze titular, onde chegou a fazer dupla com Pepe, mas as duas épocas seguintes ficaram longe de ser um sucesso.
O escasso tempo de jogo no Santiago Bernabéu levou-o a procurar uma nova aventura e desta vez o destino passou por França. No AS Monaco, Ricardo Carvalho reencontrou a melhor forma e viveu três épocas de alto nível no clube do Principado.
Ricardo Carvalho em ação em pleno El Clásico, em Espanha, com a camisola do Real Madrid.
© Getty Images
Pelo meio, refira-se, há ainda a participação no Euro'2016, onde apenas jogou na fase de grupos, que lhe valeu o título de campeão europeu, juntando-se aos restantes colegas que fazem, para sempre, parte da história do futebol português.
Em 2017, e ainda antes de colocar um ponto final na carreira, Ricardo Carvalho deu um pequeno salto à China para ser orientado no Shanghai Port.
"Desertou" em 2011
Apesar de fazer parte da história da seleção, e de estar atualmente nos quadros da Federação Portuguesa de Futebol, Ricardo Carvalho foi protagonista de uma das maiores polémicas em torno da seleção. O caso remonta a 2011, quando abandonou abruptamente do estágio da seleção sem aviso prévio e em rota de colisão com o selecionador Paulo Bento.
"O jogador internacional português, Ricardo Carvalho, ausentou-se, nesta quarta-feira, do estágio da Seleção Nacional - Clube Portugal, por iniciativa própria e sem comunicar essa ausência à direção da Federação Portuguesa de Futebol ou ao selecionador nacional", podia ler-se na nota publicada pela FPF a 31 de agosto daquele ano.
Paulo Bento foi mesmo mais longe e chamou "desertou" ao jogador que acabaria por estar vários anos afastado da seleção.
"Ricardo Carvalho desertou e foi à sua vida. Repudiamos o que é um virar as costas à seleção e ao país. Enquanto eu for selecionador, Ricardo Carvalho não jogará mais… Não faz qualquer sentido. A porta está fechada para ele", afirmou o então selecionador nacional em conferência de imprensa.
Em 2014, e já com Fernando Santos ao leme de Portugal, o jogador natural de Amarante, com 36 anos na altura, acabaria por voltar, pedindo desculpa por um ato irrefletido.
"Toda gente sabe que me arrependo do meu ato. Paguei por isso, aceitei o castigo e enquanto jogar futebol vou estar sempre disponível para representar o meu país", vincou, acabando por estar presente na conquista histórica de 2016.
Ricardo Carvalho ergueu o troféu do Euro'2016, dois anos depois de ter regressado à seleção.
© Getty Images
E agora?
A elegância em campo ainda hoje é lembrada, mas o legado de Ricardo Carvalho não se resume aos 22 títulos na carreira de jogador. O experiente defesa cedo começou a preparar o futuro e por esta altura já conta com cinco anos de experiência como treinador adjunto.
Em 2019 voltou a França para reencontrar Villas-Boas no Marseille e 'engordar' o contingente português na equipa técnica.
Em 2023 surgiu a oportunidade de se juntar novamente à seleção portuguesa, desta feita para passar para o lado de fora do relvado, assumindo a função de adjunto de Roberto Martínez.
Ricardo Carvalho continua a cantar o Hino pela seleção, mas desta vez ao lado dos membros da equipa técnica. © Getty Images
E por lá permanece até agora, sendo rosto recorrente nos treinos e nos jogos de uma seleção que foi recentemente vencedora da Liga das Nações. O papel de treinador adjunto agrada-lhe e Ricardo Carvalho não podia estar mias agradecido a Martínez.
"O Roberto é uma pessoa cinco estrelas, deu-me o tempo de que eu precisava para me adaptar, porque só tinha um ano e meio de experiência de clube enquanto adjunto. Felizmente, cada vez mais sinto-me preparado para ajudá-lo e para ajudar a equipa. Isso é importante, como também o foi ele dar-me o tempo de que precisava para melhorar e para me adaptar à nova vida do pós-futebol", afirmou recentemente o antigo internacional luso, em entrevista ao jornal A BOLA.
Ricardo Carvalho está incumbido de passar a sua experiência ao atuais centrais da seleção, que não podiam ter melhor professor. Pelo menos, em termos teóricos.
Todas as semanas o Desporto ao Minuto apresenta-lhe uma nova edição da rubrica 'O que é feito de...?', que pretende recordar o percurso de algumas personalidades do mundo futebolístico que acabaram por cair no esquecimento.
Leia Também: Foi ídolo no pior Benfica e em Roterdão. O que é feito de Van Hooijdonk?
