A menos de um mês de distância das tão badaladas eleições presidenciais, o clima que se vai vivendo no Benfica é de tensão máxima. Por entre trocas de acusações entre candidatos e até uma 'mexida' no banco de suplentes (Bruno Lage foi demitido, dando o lugar a José Mourinho), as exibições tardam a convencer... e, na ótica da direção, as arbitragens também.
Feitas as contas, com apenas 13 jogos oficiais disputados desde o arranque da presente temporada de 2025/26 (nos quais se registaram nove vitórias, três empates e uma derrota), o clube da Luz já veio a público por um total de oito vezes para se demonstrar insatisfeito para com as exibições dos juízes. As queixas foram exclusivamente feitas no plano nacional, onde foram realizados, precisamente, oito partidas.
A primeira manifestação de desagrado surgiu logo no primeiro encontro da época, a 29 de julho, quando o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou Fábio Veríssimo, da Associação de Futebol de Leiria, como o eleito para apitar o dérbi lisboeta da Supertaça Cândido de Oliveira, no qual as águias levaram de vencida o eterno rival, o Sporting, no Estádio do Algarve, por 0-1, graças a um golo de Vangelis Pavlidis.
Na altura, o meio utilizado foi a rede social X, onde o emblema recordou que este "foi o quarto classificado na temporada passada, entre os 24 árbitros da I Liga", tendo estado presente em jogos dos leões por "seis vezes", ficando "célebres os erros em Famalicão e na Vila das Aves". "Apenas por duas vezes apitou o Benfica, que perdeu os dois jogos em questão", nomeadamente, a deslocação ao Estádio José Alvalade, na primeira, volta, quando "ignorou um penálti evidente sobre Álvaro Carreras".
"Vamos estar atentos e vigilantes"
Seguiu-se um 'hiato' de pouco mais de um mês, até que, a 31 de agosto, o então técnico encarnado, Bruno Lage, visou a atuação de José Bessa, no triunfo alcançado perante o Alverca, por 1-2: "Fizemos 12 faltas e levámos seis cartões amarelos. O [Amar] Dedic fez três faltas e levou dois cartões amarelos. O que retiro desta partida é que, enquanto estava 11 contra 11, fomos, claramente, a melhor equipa".
Instantes depois, foi a vez de o diretor-geral para o futebol profissional, Mário Branco, dar a cara: "Uma coisa que nos preocupa, à qual vamos estar atentos e vigilantes, se este tipo de critérios de arbitragem se vai manter durante a temporada. Nós tivemos o cuidado de, no início da época, estar na Cidade do Futebol e tentar perceber que tipo de recomendações a nova comissão de arbitragem tinha. E não percebi que houvesse um critério tão rigoroso como aquele que foi utilizado neste campo".
O Conselho de Disciplina da FPF acabaria por instaurar um processo de inquérito a estas palavras, ao passo que o presidente do Conselho de Arbitragem, Luciano Gonçalves, defendeu, em declarações prestadas à Antena 1, que esta arbitragem "foi muito positiva": "Cada um saberá a sua estratégia. O importante para nós é seguir a nossa linha".
Mourinho só precisou de... dois jogos
José Mourinho teve uma estreia 'arrasadora' no banco de suplentes do Benfica, ao sair da Vila das Aves com um categórico triunfo sobre o AVS, por 0-3. O segundo jogo deu-se três dias depois, a 23 de setembro, e culminou num (surpreendente) empate a uma bola com o Rio Ave, em pleno Estádio da Luz, com queixas por parte do Special One, fruto do (polémico) golo anulado a Vangelis Pavlidis, à passagem dos 61 minutos, devido a uma falta de Nicolás Otamendi.
"Se se anula um golo por um dedinho ter sido pisado ou uma camisolinha ter sido puxada, não gosto do futebol de hoje. O protagonista do jogo é o senhor que estava na Cidade do Futebol. Chamar o árbitro para ver o que todos vimos, e o árbitro não ter a personalidade para não ir na sequência do que o VAR diz... E não somos equipa com presença na área, que pode cruzar, mas fizemos um bom golo. Perdemos dois pontos importantes", apontou.
"Não sou obrigado a gostar, não gosto deste tipo de golo anulado, para um lado ou para o outro. É o futebol atual, foi chamado ao VAR e decidiu. Honestamente, não acho que seja golo para ser anulado. E um jogador que, eventualmente, simula falta fora da área ao quinto minuto leva amarelo? Quem deve levar amarelo? Quem simula ou jogadores que levam todo o jogo a retardar? Há critérios, mas este empate, neste caso, é derrota, não gosto de ir por aí", acrescentou.
De resto, estas declarações de Mourinho caíram mal junto da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, que terá apresentado queixa, junto do Conselho de Disciplina da FPF, contra o treinador das águias.
Duas 'rajadas' em dois dias
Ao terceiro jogo da 'era José Mourinho', o Benfica recebeu e bateu o Gil Vicente, por 2-1. No entanto, desta feita, as críticas partiram da própria direção, que, em forma de comunicado emitido através das plataformas oficiais, desafiou o "Conselho de Arbitragem a uniformizar os critérios que regem a atuação dos árbitros".
"No último jogo com o Rio Ave, o Benfica viu um golo anulado por um pretensa faltinha, sem significado. Hoje, o primeiro golo do Gil Vicente tem, na sua génese, uma entrada de sola no tendão de Aquiles de António Silva e nada foi assinalado. Que consequências vai o Conselho de Arbitragem retirar desta dualidade de critérios em apenas três dias? Estas atuações que têm sido de um sistemático prejuízo para o Benfica não podem continuar impunes", pôde ler-se.
Critérios.
— SL Benfica (@SLBenfica) September 26, 2025
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No dia seguinte, as queixas subiram de tom, com os encarnados a alegarem "benefícios reiterados para o Sporting", devido a "um golo em claro fora de jogo" por parte de Luis Suárez, na vitória sobre o Estoril, por 0-1, assim como a "um penálti evidente" contra os bicampeões nacionais em título que teria "ficado por assinalar".
Nesta nota, o Benfica defendeu, ainda, que "Gonçalo Inácio deveria ter sido expulso", no Famalicão-Sporting, ao passo que, no Nacional-Sporting, Pablo Ruan foi expulso, ainda na primeira parte, "de forma unanimemente considerada injusta e exagerada, uma vez que o primeiro cartão amarelo não tinha fundamento".
"O Benfica sente-se extremamente desrespeitado"
A mais recente 'tirada' partiu do próprio presidente (e também candidato) do Benfica, Rui Costa, esta segunda-feira, numa extensa entrevista concedida ao jornal Record, prometeu que o clube "estará vigilante em tudo e sente-se extremamente desrespeitado em relação às arbitragens", após uma série de "casos demasiado flagrantes".
"Não sou a pessoa que quer que o futebol português seja a peixeirada total. Venho de dentro do campo. Mas não quero ser pisado. O Benfica adotou uma estratégia, que considera ser a mais benéfica. Não se sente respeitado e manifesta-se. O que se passou no jogo do Sporting é mais uma evidência. Percebemos que há dualidades. Não foi só depois da final da Taça. Aí, explodi a seguir ao jogo, porque aquilo foi tão flagrante... Temos sido mais fortes e mais ativos nesta situação, porque estamos a alertar para os problemas", lamentou.
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