De um rumor sem fundamento, a uma possível realidade, terminando num impasse quase definitivo. Foi assim o último mês e meio da novela em torno do possível ingresso de Edinson Cavani no Benfica. Um negócio que movia muitos milhões quer para o Benfica, com uma possível campanha de merchandising em massa, quer também para o dianteiro uruguaio. E foram as suas exigências milionárias que deitaram por terra, para já, a possível chegada do ex-Paris Saint-Germain.
Mas vamos por partes, e recordemos todos os capítulos desta novela, quase mexicana, que arrancou ainda antes de oficializado regresso de Jorge Jesus ao Benfica, tal como o treinador português revelou na primeira entrevista oficial após ser confirmado como treinador do clube da Luz para as próximas duas temporadas.
As primeiras notícias do putativo interesse do Benfica em avançar para a contratação de Edinson Cavani datam de meados do mês de julho. Na altura, a imprensa desportiva nacional sublinhou que os encarnados estavam dispostos a fazer um esforço financeiro para garantir os préstimos do internacional uruguaio, de 33 anos, livre de contrato depois de se ter desvinculado do Paris Saint-Germain.
Por ser um jogador da alta roda do futebol europeu e com vários 'tubarões' atentos ao seu processo, os representantes de Cavani fizeram saber que o dianteiro queria um ordenado na ordem dos 12 milhões de euros por época, valor proibitivo para o futebol português e muito acima do teto salarial do clube da Luz.
A juntar a este rumor, acrescentaram-se algumas palavras de Gastón Fernández, representante do craque uruguaio, que deu alento aos adeptos do clube da Luz ao dizer que a ida para o Benfica era uma possibilidade. "O Benfica é uma possibilidade ainda que não exista neste momento nada de oficial, não tenho informações nesse sentido", afirmou o representante ao jornal Record, ainda sem qualquer posição oficial dos encarnados.
Desmentido depois de dez dias de rumores
Apesar de este parecer um negócio improvável, a verdade é que os rumores sobre as negociações entre as duas partes se foram prolongando durante os dias seguintes e sem qualquer desmentido ou confirmação por parte do Benfica. As notícias foram chegando a outros pontos do globo, com jornalistas de, por exemplo, Itália ou Uruguai a darem conta de reuniões de responsáveis do Benfica com representantes do uruguaio.
As primeiras exigências de Cavani estavam nos 12 milhões de euros anuais, mas a imprensa ia dando eco a informações diversas, sublinhando que encarnados tentaram seduzir o uruguaio com um projeto europeu atrativo e com a promessa de continuar a jogar na Liga dos Campeões, mas fontes oficiais dos encarnados iam desmentindo à imprensa qualquer negociação pelo avançado, mas sem a tal posição oficial nos meios das águias.
As suposições foram prosseguindo de dia para dia e foi apenas a 29 de julho, dez dias depois dos primeiros rumores, que o clube da Luz emitiu uma posição oficial sobre o assunto, negando qualquer tipo de negociações com o avançado uruguaio.
"O Sport Lisboa e Benfica repudia e desmente as várias notícias falsas veiculadas por diversos órgãos de comunicação social que publicitam o interesse do Clube pela aquisição de vários jogadores, sem qualquer tipo de fundamento. De entre elas, destacamos particularmente a notícia que dava conta de um suposto direto envolvimento do Presidente Luís Filipe Vieira, que teria chamado a si a condução do eventual processo de aquisição do jogador internacional uruguaio, Edinson Cavani", começa por esclarecer o clube da Luz.
"Essa notícia é totalmente falsa, aproveitando o Clube para esclarecer que eventuais contactos institucionais com vista ao reforço do plantel para a próxima época só terão lugar após a realização da final da Taça de Portugal, do próximo sábado, que assinala o término da presente época, desmentindo qualquer envolvimento do Presidente no processo atrás citado ou em quaisquer outros noticiados", acrescenta o mesmo comunicado.
Prémio de assinatura chorudo e salário diluído em seis anos
Apesar deste desmentido por parte do Benfica, a verdade é que os rumores sobre a possibilidade de Cavani rumar ao Benfica intensificaram-se com a chegada do mês de agosto. E foi mesmo Jorge Jesus no dia da apresentação que deu mais gás a estes rumores, sublinhando que o Benfica tinha capacidade "para entusiasmar os grandes jogadores da Europa". Palavras que deixaram, certamente, Luís Filipe Vieira de mãos e pés atados.
Seguiram-se mais dias de especulação durante os quais se escreveu que Cavani já teria aceitado os três anos de contrato propostos pelo Benfica, ainda que houvesse diferenças quanto aos salários e prémio de assinatura, a parte mais importante da negociação com um jogador sem clube. Pelo meio surgiu a informação de um alegado telefonema de Jesus a Cavani, treinador que na sua primeira entrevista oficial revelou que o processo da contratação do uruguaio já estava a ser tratado antes de confirmado o seu regresso.
A imprensa italiana juntou-se à portuguesa na produção desta 'novela' e por dia eram vários os rumores que davam conta de que Cavani já teria aceite uma proposta milionária do Benfica. Mas a verdade é que este negócio foi sempre feito de avanços e recuos, de possíveis encerramentos de negociações e de problemas, muitos problemas, no que toca à situação salarial.
O que começou por ser um contrato milionário de três anos, passou a ser um vínculo também ele com muitos milhões à mistura, mas diluídos em seis anos para aliviar as finanças do lado do clube da Luz. Nesta altura já se falava de um contrato de dez milhões por temporada, ou seja, 30 milhões pela ligação contratual.
Irmão confirma Benfica, Cavani abre 'portas à Luz'
Enquanto as suposições continuavam quer na Europa, quer na América do Sul, Cavani mantinha-se à margem do processo no Uruguai, de férias com a família, e a manter a forma física depois de largas semanas sem competir devido ao final antecipado do campeonato em França. Quem tratava de tudo era o seu irmão e agente Walter Guglielmone, que, a esta altura do campeonato, já tinha estado em Lisboa para visitar as instalações do Benfica, as quais agradaram sobremaneira quer ao agente que ao seu representado.
Foi pelo início de agosto que Guglielmone deu conta de como estava o negócio com o Benfica, sublinhando que o mesmo estava "encaminhado, mas não está fechado", isto também numa altura em que começaram a surgir notícias de interesse de AS Roma e Lazio em Cavani, clubes com maior poder financeiro do que o Benfica. Mas ainda faltava ouvir o protagonista de toda esta novela. E foi da voz do atacante uruguaio que, a 16 de agosto, se ouviu o interesse em rumar ao Benfica.
"Falámos [com o Benfica], houve reuniões, mas houve também com outras equipas. Mas não há nada definido, por isso não posso dizer nada. Quando houver acordo, quando for real, vão saber", afirmou o antigo jogador do PSG na partida do Uruguai rumo a Espanha, onde agora se encontra a cumprir mais um período de férias em Ibiza.
Negócio suspenso, mas Rui Costa mantém via aberta
A viagem de Cavani para a Europa era um sinal de que as condições que separavam as duas partes, com a imprensa nacional a dar como praticamente fechada a contratação nos últimos dias. Depois de várias semanas de negociações, com admissões de parte a parte de interesse mútuo em 'casamento', o uruguaio esteve, nos últimos dias, na iminência de rumar ao Benfica.
Os rumores deram conta de que o dianteiro já tinha o contrato na mão, de que os fiscalistas envolvidos no processo, franceses, portugueses e espanhóis, tentavam arranjar uma solução para a liquidação dos prémios de assinatura e de direitos de imagem do jogador e de que a ideia era ter o jogador ao serviço de Jesus no início da próxima semana, com um contrato de dez milhões por época. Pelo meio, o diretor para o futebol do Benfica, Tiago Pinto, deu conta que nada ainda estava fechado, e não estava mesmo.
A imprensa nacional deu conta, na sexta-feira, de que o clube da Luz decidiu, para já, colocar um ponto final nestas longas semanas de negociação que deixaram, certamente, ambas as partes cansadas depois de muitas horas e dias de avanços e recuos. Exigências salariais de última hora teriam feito abortar aquela que chegou a ser dada como 'missão impossível' face às exigências financeiras do internacional uruguaio.
Já depois da imprensa nacional ter dado o negócio como perdido, eis que Rui Costa, administrador da SAD do Benfica fez renascer a esperança dos adeptos encarnados ao dizer que, afinal, as águias estão à espera de uma resposta do uruguaio a uma proposta feita.
"O Cavani está na lista dos maiores atacantes do mundo. É verdade que o Benfica fez uma proposta, agora estamos à espera da resposta dele. Não posso falar mais do que isso", atirou o dirigente, à margem de uma conferência de lançamento da final da Liga dos Campeões que se joga este domingo. Mais tarde, e em declarações ao jornal Record, Rui Costa voltou atrás com a palavra e disse que do lado do Benfica, "o tema Cavani está encerrado"
Para já, o que consta é que o Benfica procura outras alternativas ao uruguaio, o que não invalida que o negócio não se possa fazer nas próximas semanas.
