Após ter vivido um dos períodos mais conturbados da sua história, o Sporting ressurgiu esta temporada com objetivos teóricos de um grande, com a vontade de um leão fatigado por falta de troféus e castigado pela imprudência dos adeptos. 

Com José Peseiro ao leme, técnico que agarrou uma equipa desfeita, o discurso era positivo, mas parecia apontar-se para a medianidade. A atitude era forte na teoria, mas com falta de elementos práticos que pudessem dar aos adeptos algo com que sonhar. Agora, com uma mudança de treinador operada há menos de um mês, começa a ver-se na equipa de Alvalade uma vontade  de renascer.

Keizer, que facilmente se confunde com Kaiser, título dado pelos alemães ao imperador, parece ter trazido consigo a vontade de um futebol mais positivo, uma liderança mais distante do peso do falhanço passado, mas também um modelo de jogo que parece privilegiar o espetáculo, a agressividade no momento da perda de bola e o ataque rápido com tempo de posse de bola curto.

Num conjunto de duas partidas, ainda que contra adversários teoricamente mais fracos, o treinador verde e branco soma dois golos sofridos, dez marcados, um recorde europeu - equipa portuguesa, a par do Benfica, com maior número de goleadas com mais de cinco golos -, mas também ainda incerteza quanto ao que será capaz de oferecer e fazer.

Mas vamos ao filme dos acontecimentos

Sporting começou a rugir cedo, assustou-se, mas já aprendeu a reagir

Diante do Qarabag, com o apuramento ainda por resolver, o Sporting teve uma entrada que dificilmente podia ter sido melhor. Com um golo logo aos 5 minutos, com a equipa azeri controlada, os verde e brancos pareciam ter caminho aberto para uma travessia calma.

Porém, aos 14 minutos, na melhor jogada da formação da casa, aproveitando uma desatenção defensiva de Diaby, que deixou Bruno Gaspar sozinho no flanco direito, o Qarabag fez um empate 'penalizador'. A reação, contudo, desta vez, foi rápida, demorando apenas seis minutos. Apesar da ajuda do guardião adversário, Bruno Fernandes, após uma recuperação de bola no meio campo ofensivo, com um remate forte, voltou a devolver a vantagem no marcador. 

Vantagem essa que seria ampliada 13 minutos depois por Nani. O capitão verde e branco, na melhor jogada do encontro, com a bola a circular por vários jogadores num momento anterior, entrou dentro da área adversária, 'partiu' os rins a vários jogadores e deu uma tranquilidade pouco conhecida esta temporada pelos verde e brancos (margem de dois golos de vantagem ao intervalo).

Com o 'descanso' por perto e vantagem segura no marcador, o leão deixou-se embalar para um segundo tempo de calmia. Diaby, logo aos 65 minutos, após grande desmarcação, fez o quarto dos verde e brancos, sentenciando o resultado... mas dando espaço para se mostrarem aspetos que ainda não tinham sido vistos esta temporada.

Controlando o ritmo do jogo e a maioria das incidências da partida, o quinto golo surgiu com naturalidade. Wendel isolou Bruno Fernandes que dez minutos depois de Diaby voltou a marcar. Porém, o maliano haveria de deixar marca novamente. Aos 82 minutos o extremo que chegou esta temporada a Alvalade voltou a fazer o gosto ao pé e fechou o marcador.

O renascer de um felino que ainda não tinha reaprendido a sorrir

O regresso de Nani a Alvalade foi um dos grandes trunfos jogados por Sousa Cintra para trazer alguma alegria aos adeptos do clube de Alvalade. Porém, se é certo que o capitão leonino já tinha sido determinante em algumas ocasiões este ano com Peseiro, com Marcel Keizer o experiente jogador parece ter voltado a ter um sorriso maior. Ontem, Nani marcou, deu o mortal que o caracteriza, fez jogar, foi substituído e sorriu... Num patamar de mais agrado para quem gosta de futebol, o extremo voltou a dar mostras, aqui e ali, de todo o perfume que continua a ter nos pés. Mas não foi o único.

Wendel, crónico candidato aos estrelato com estatuto por confirmar, atleta que raramente tinha oportunidade de somar minutos com Peseiro, tem sido titular. O jovem jogador brasileiro tem vindo a ganhar confiança e, frente ao Qarabag, também ele mostrou outra fragrância. Foi motor no meio campo, continuou a cometer alguns erros, ainda lhe falta alguma intensidade, mas até a fazer jogar se notou a sua presença. Novo treinador, nova vida? Só o tempo o confirmará.

Mas se o brasileiro tem sido uma agradável surpresa, também Nemanja Gudelj parece ter ganho um outro fôlego. Com um meio-campo para ser mandado apenas pelos pés do sérvio, o centrocampista tem vindo a subir de rendimento, com nítidas melhorias no seu posicionamento defensivo e ofensivo. Está mais solto, já se lhe consegue ver em campo os argumentos que o fizeram tornar-se esta temporada reforço muito precisado e agora parece querer reconfirmar-se como jogador de alto calibre. 

Num cômputo geral, boas notas para uma exibição gorda, onde fica latente o muito trabalho que ainda há para fazer, mas onde se consegue vislumbrar um leão capaz de sorrir... no final da temporada.

Qarabag	vs	Sporting
45%	Posse de bola	55%
5	Remates	11
2	Remates para fora	2
1	Cantos	3
11	Faltas	12
2	Foras de jogo	1
6/0	Cartões amarelos/vermelhos	1/0