Na próxima madrugada, quando o relógio marcar 2h30 (hora portuguesa), do outro lado do Atlântico haverá um português a lutar pelo topo do futebol nos Estados Unidos. A viver o famoso "sonho americano" na Major Soccer League (MLS), Gerso já sonha com o papel de herói em mais um passo que poderá dar-lhe, mais tarde, o título de... 'Campeão América'. O extremo vai tentar ajudar o Sporting Kansas City a vencer o campeonato em terras do Tio Sam. Para já, tem pela frente a segunda mão da final da conferência Oeste, diante do Portland Timbers.

Depois de um empate a zero no primeiro encontro, o ex-jogador de Estoril e Belenenses espera uma partida "complicada", frente a uma equipa "com valor". A poucas horas do pontapé de saída, Gerso conversou, em exclusivo, com o Desporto ao Minuto e revelou as sensações individuais e coletivas antes desse grande desafio da temporada.

"Este clube tem sempre expetativas para ganhar e isso ajuda-te como jogador. Queremos sempre mais, temos essa ambição e isso faz-nos crescer. É isso que queremos para este jogo. Sabemos que não será fácil, aliás, na primeira mão verificámos isso mesmo, mas este já era o nosso objetivo no início da época e vamos dar tudo por ele", começou por dizer o jogador nascido na Guiné Bissau, mas com nacionalidade lusa, sublinhando que, apesar do adversário não dispor de nenhuma grande estrela, como é apanágio da maioria dos clubes na MLS, "tem um grupo forte que vale exatamente pelo seu todo".

Depois de no ano passado ter ficado pela primeira fase dos playoff, o Kansas City apostou forte na equipa e assumiu a candidatura ao título. A cumprir a segunda época no clube, Gerso admite essa mudança de paradigma e considera que atualmente existem mais argumentos para alcançar esse feito. "Nós sabemos que temos qualidade para conseguirmos ser campeões. Demonstrá-mo-la ao longo da fase regular e agora queremos consumar todo um ano de trabalho, esforço e dedicação", assegurou o português, de 27 anos.

"O ano passado correu-me mesmo muito bem. A verdade é que era a minha época de estreia cá e acabou por ser a minha melhor da carreira. Fiz 10 golos, joguei quase todos os jogos, mas esta temporada as coisas mudaram um pouco. Chegaram alguns reforços, no início não estava a ser aposta, mas depois fui entrando aos poucos e as coisas melhoraram. São fases... O futebol é mesmo assim", acrescentou. 

Gerso vai tentar ajudar o Kansas City na conquista da MLS, diante do Portland Timbers.© Facebook Sporting Kansas City

O sonho e a promessa

Com cinco golos em 34 partidas, Gerso admite que já sonhou com uma entrada triunfal no jogo de todas as decisões. "Já sonhei com o estatuto de herói neste jogo, até porque ultimamente tenho entrado a cinco ou 10 minutos do final. É o momento exato para fazer o golo...", atirou, entre risos, deixando um desejo: "Numa época de tantas adversidades, pode ser que a história seja diferente. Seria um grande momento. Se tiver oportunidade, vou aproveitá-la."

Extremo já viveu grandes momentos nos Estados Unidos, mas espera que o melhor ainda esteja para chegar. © Facebook Sporting Kansas City

Rooney, Ibrahimovic e o pequeno génio

Formado na Académica, Gerso chegou ao futebol sénior pela porta do Tourizense, mas foi com a camisola do Estoril que se estreou na Primeira Liga. Depois de uma época no Moreirense, por empréstimo do emblema da Linha, e de meia no Belenenses, o extremo aceitou o segundo(!) convite - já tinha rejeitado um na época anterior - do Kansas City e rumou à MLS, onde encontrou uma realidade completamente distinta.

"O futebol é um pouco diferente. Em termos de qualidade está a crescer... É verdade que jogadores como o Pirlo e o Kaká se retiraram, mas chegaram outros como o Rooney, o Zlatan Ibrahimovic... Além disso, estão a apostar também em jovens com valor e não como antes, onde iam buscar uma ou duas grandes estrelas e depois montavam a equipa à volta delas. Agora não, há mais racionalidade, até porque querem provar às outras ligas que conseguem evoluir e, talvez, quem sabe, daqui a alguns anos, chegar a outro patamar. Nota-se essa vontade e os investimentos provam isso mesmo. Acho que estão no bom caminho", vincou, elegendo um pequeno génio que lhe encheu as medidas: "O Giovinco [Toronto]... É brilhante! Penso que quando chegou ainda tinha muito para dar na Europa. É um jogador fantástico."

Jogador tem contrato com o clube até dezembro de 2019, com mais um de opção.© Getty Images

Uma história de amor e a vida de outro mundo

Além de futebol diferente, Gerso encontrou nos Estados Unidos... o amor. Pouco tempo depois de ter chegado, o extremo conheceu a sua cara metade e casou. "Estou muito feliz! A verdade é que tudo isto, sinceramente, superou as minhas expetativas. Sabia que não ia ser mau, mas não pensava que seria tão bom. É fantástico! Estou a viver o meu sonho americano! A vida aqui é brutal. Quando estamos em Portugal e vemos as notícias ficamos a imaginar, mas depois chegamos aqui e vemos que, de facto, é real. É outro nível, outro mundo, muito diferente do que estamos habituados aí em Portugal", detalhou, antes de abordar o futuro.

"Tenho contrato até dezembro de 2019, com mais um ano de opção. Mas estou tranquilo. Estou bem aqui, já me adaptei, tenho comigo a minha mulher, até já comprámos casa... Claro que no futebol temos sempre a 'mala feita' e não descartamos nenhuma possibilidade, pois nunca se sabe... Tudo depende do projeto, das condições, do destino, do momento... Enfim, vamos ver o que acontece", afirmou.

Gerso já tinha recebido uma primeira oferta do Kansas City, em 2014, mas acabou por rejeitar. © Facebook Sporting Kansas City

A crescente aposta no mercado português

Além de Gerso, o contingente português na MLS conta ainda com Pedro Santos [Columbus Crew], André Horta e João Moutinho [Los Angeles], e, mesmo depois das saídas de jogadores como João Meira [ex-Chicago], João Pedro [cedido pelo LA Galaxy ao Apollon] ou Rafael Ramos [ex-Chicago e Orlando City], a aposta é, ao que tudo indica, para manter.

"Já perceberam que o jogador português tem qualidade e sinto que aqui somos muito bem vistos. Vêem-nos como uma mais-valia e acho que temos que aproveitar isso, olhando para este campeonato de outra forma. Eu sou prova disso! Em 2014 recebi esta mesma proposta, rejeitei por pensar que ainda era cedo para vir para uma liga deste tipo e agora arrependo-me de não ter vindo mais cedo. Está em crescimento e é uma experiência única", finalizou.