O bicampeão do Mundo de contrarrelógio chamou a si o protagonismo da etapa desde as primeiras pedaladas, ao fugir ainda em Guijuelo, e levou-o até onde não se julgava ser possível. Tivesse esta tirada de 175 quilómetros menos 20 metros e a vitória não escaparia ao corredor da Omega Pharma-Quick Step.

De forma cruel, com a meta bem à vista, Tony Martin viu-se ultrapassado pelos primeiros homens do pelotão, com o campeão dinamarquês à cabeça, seguido pelo italiano Maximiliano Richeze (Lampre), segundo em duas etapas consecutivas, e pelo suíço Fabian Cancellara (RadioShack), num dia sem sobressaltos para os favoritos, em que o italiano Vincenzo Nibali (Astana) manteve a liderança.

O germânico acabou por terminar em sétimo, mas a média final, quase 45 km/hora, demonstra que Tony Martin esteve à beira de um feito de contornos épicos, depois de ter rolado praticamente a ritmo de contrarrelógio ao longo de toda a etapa. Morkov ganhou em 3:54.15 horas e o pelotão cruzou a meta com um avanço de 25 minutos em relação ao melhor horário previsto.

"Tinha pensado atacar à partida, ganhar distância e evitar que os meus companheiros tivessem de trabalhar para controlar a corrida antes do sprint. Pensava que alguns corredores me acompanhassem na fuga, mas ninguém me seguiu. Não acreditava que pudesse estar tão perto de vencer. Até aos últimos quilómetros não pensava em ganhar etapa", confessou Martin, que chegou a andar oito minutos à frente do pelotão.

A 15 quilómetros da meta, tinha apenas 20 segundos de vantagem, mas a sua irrepreensível técnica de contrarrelogista e a ausência de grandes nomes do sprint neste pelotão formaram um binómio que quase o conduziu à vitória. Foi precisamente outro grande especialista mundial do "crono", Cancellara, quem tomou as rédeas nas últimas centenas de metros para negar a vitória ao alemão.

Na roda do suíço, Michael Morkov, um corredor que já brilhou em pista, com uma medalha de prata de perseguição nos Jogos Olímpicos Pequim2008, saiu no momento certo para vencer e amaciar a mágoa de ter ficado fora da Volta a França. "Preparei bem o Tour e não me levaram, mas o meu trabalho nota-se aqui", afirmou o dinamarquês, de 28 anos.

Terminando no seio do pelotão, Vincenzo Nibali, que teve de rolar mais rápido do que esperava devido à "impressionante" atuação de Martin, manteve a camisola vermelha, símbolo da liderança, com três segundos de vantagem sobre Chris Horner (RadioShack) e oito sobre o irlandês Nicolas Roche (Sky).

Os portugueses José Mendes (NetApp) e André Cardoso (Caja Rural) chegaram com o mesmo tempo do vencedor, em 75.º e 32.º, respetivamente, e mantiveram as posições na geral: o primeiro é 34.º, a 1.58 de Nibali, e o segundo segue em 44.º, a 3.45.

Na sexta-feira, o pelotão ruma da Extremadura à Andaluzia, com uma longa ligação de 205,9 quilómetros entre Almendralejo e Mairena del Aljarafe (Sevilha), que pode proporcionar novo final ao sprint.