Agora com 14 anos, a jovem vai voltar a fazer parte daquela que é considerada a maior montra ao ar livre de trajes e ouro do país, este ano com o fato vermelho de lavradeira da freguesia de Meadela.

"Irei de coração cheio porque é um momento único. Só quem o vive por dentro tem noção da dimensão desta tradição", afirmou hoje à Lusa a jovem, que integra um total de 550 mordomas inscritas este ano para participar num dos momentos emblemáticos das festas da capital do Alto Minho.

A romaria começa, na sexta-feira, com aquele desfile, que a partir das 10:00 percorre as principais artérias da cidade.

A primeira experiência de Margarida, em 2015, aconteceu quando decidiu, por influência de uma amiga, entrar para o grupo folclórico das lavradeiras da Meadela, onde a convidaram para desfilar na mordomia.

"Lembro-me de ter sentido muitas coisas ao mesmo tempo, mas o sentimento mais forte foi o orgulho. O orgulho de ver uma cidade cheia de pessoas, muitas de fora. Senti a força de uma romaria que atrai multidões e emocionei-me com o fado de Amália Rodrigues 'Havemos de ir a Viana', que acompanha o desfile", recordou Margarida Rocha.

A jovem, que toca guitarra na tocata do grupo folclórico e é aluna da escola profissional de música da cidade, disse que a família "sempre teve gosto" em lhe dar a conhecer as festas, mas "só o avô é que chegou a participar no cortejo da romaria".

"A minha mãe nunca desfilou, mas a mensagem que deixou a outras jovens é que devem experimentar. Acho que têm que ser os mais novos a garantir a continuidade da tradição", referiu.

O desfile da mordomia é o momento em que os diferentes trajes das freguesias de Viana se encontram e se mostram em conjunto à cidade.

Trata-se de uma tradição cada vez mais enraizada entre as mulheres de Viana do Castelo e que junta várias gerações, neste quadro único das festas.

O desfile da mordomia é a forma de os organizadores apresentarem cumprimentos às várias autoridades - do Estado, autárquicas e eclesiásticas - presentes na cidade.

Estima-se em cerca de 14 milhões de euros o valor das centenas de quilos de peças de ouro usadas pelas mordomas naquele desfile.

O percurso vai colorir a cidade com os vermelhos, verdes e amarelos dos típicos e garridos trajes das diferentes freguesias.

Não faltam também os fatos de noiva mais sóbrios, de cor preta. Neste número algumas das mulheres chegam a carregar dezenas de quilos de ouro, reunindo as peças de famílias e amigos num único peito, simbolizando a "chieira" (termo minhoto que significa orgulho) e, outrora, o poder financeiro das famílias.

O traje assume-se como um símbolo tradicional da região, nas suas várias formas, consoante a ocasião e o estatuto da mulher.

Em linho e com várias cores características, das quais sobressai o vermelho e o preto, foi utilizado até há cerca de 120 anos pelas raparigas das aldeias em redor da cidade de Viana do Castelo.

As características deste traje, como o seu colorido e a profusão de elementos decorativos, permitem identificar facilmente a região de origem, no concelho, motivo pelo qual se transformou, segundo os especialistas, "num símbolo da identidade local".