Fadista Ricardo Ribeiro tem novo CD e afirma-se mais confiante

O fadista Ricardo Ribeiro, que se afirmou mais confiante para arriscar em termos artísticos, disse à Lusa que o poema "Orfeu rebelde", de Miguel Torga, inspirou o seu novo disco, que é editado na sexta-feira.

Fado Carlos do Carmo José Maria Nóbrega

© Global Imagens

Lusa
30/03/2016 09:26 ‧ 30/03/2016 por Lusa

Cultura

Risco

"Eu já não tenho nada para provar aos fadistas nem ao fado. Podem considerar prepotente e arrogante este discurso, mas já não tenho nada para provar, já o provei; eu tenho o fado dentro de mim de tal maneira, que posso entrar e sair dentro dele, cada vez que me apetecer", disse o fadista em entrevista à agência Lusa.

Ricardo Ribeiro acrescentou: "Portanto faço o que quero e o que gosto e aconteceu-me fazer este disco assim. Se me apetecer, o próximo disco é só com melodias fadistas, dos anos 1920 e 1930".

O álbum intitula-se "Hoje é assim, amanhã não sei", tem produção e direção musical de Carlos Manuel Proença, e é constituído por 14 temas, sendo apenas "três deles fados tradicionais", disse o fadista, que chamou à atenção para "Eu sei que sou demais", letra e música de Joaquim Pimentel, que conheceu na voz da fadista Natércia da Conceição, porque "nos coloca a interrogação onde começa e acaba o fado canção".

Um CD feito de "motivação e inspiração - e devo isso ao poema do grande Miguel Torga 'Orfeu rebelde'", afirmou.

"E, não me querendo comparar à figura da mitologia [grega] mas eu sou um 'Orfeu rebelde'", prosseguiu Ricardo Ribeiro.

No álbum, editado pela Warner Music, há uma "crítica atenta e mordaz ao quotidiano", reconheceu o fadista, que referiu os temas "Nos dias de hoje", com letra e música de Tozé Brito, "Portugal", que interpreta no Fado de João Maria dos Anjos, um poema de Mário Raínho, autor que canta desde sempre, e também o "Soneto de mal amar", de José Carlos Ary dos Santos, musicado por João Paulo Esteves da Silva, que o acompanha ao piano.

Quanto às melodias tradicionais, além do Fado de João Maria dos Anjos, Ricardo Ribeiro canta no Fado Licas, de Armando Machado, "Nos gestos, nos sentidos", de Vital D'Assunção, e reivindicou o estatuto de melodia tradicional - "porque se pode cantar em qualquer decassílabo sáfico [com a acentuação tónica em todas as sílabas pares]" - para o fado da autoria do guitarrista Manuel Mendes, falecido em 2009, no qual canta "Último poema", de Vasco de Lima Couto.

Entre as escolhas, inclui-se "Chanson d'autonne", de Paul Verlaine, também musicado por Esteves da Silva, uma recriação de "Malaventurado", de Bernardim Ribeiro, com música de Alain Oulman, que foi buscar ao repertório de Amália Rodrigues, e uma composição de sua autoria, para o poema de Joaquim Pedro Gonçalves, "Canção das águas claras" ou a "Serenata do adeus", letra e música de Vinicius de Moraes, que interpreta apenas acompanhada à viola, por Carlos Manuel Proença e, ao trompete, por Diogo Duque, e ainda um tema em espanhol, "Voy".

"Escolhi Verlaine porque gosto de poetas malditos", justificou o fadista, que respondeu a um desafio do pianista que compôs a música.

"O 'Bernardim Ribeiro' ["Malaventurado"] é uma criação da Amália, mas eu cantei-o de uma maneira diferente, só acompanhado ao piano, tal como outro tema, também dela, que canto, o 'Rondel do Alentejo', de Almada Negreiros e Fernando Guerra", disse o fadista que aponta Amália Rodrigues (1920-1999) como uma referência, "mas as referências servem para alimentar, não para copiar", sublinhou.

Uma das participações especiais é dos Ganhões de Castro Verde, com quem interpreta "Fadinho alentejano", com letra e música de Paulo de Carvalho.

Um tema, defendeu, que "nem atenta contra o cante alentejano, nem contra o fado". "É uma coisa muito simples, popular, irónica e com mensagens subliminares, e que dá riso, e eu gosto de rir".

"Eu não sou um sofredor profissional, nem como disse Fernando Pessoa, não tenho olhos de tristeza", afiançou.

Para o fadista "este disco não tem um conceito, é uma inspiração", realçando "a magia dos músicos" e a direção de Carlos Manuel Proença, e com o qual pretende exprimir o que escreveu Miguel Torga no "Orfeu rebelde": "Canto sem perguntar à musa se o canto é de terror ou de beleza".

 

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