Em declarações à Lusa, Reis Cabral, de 24 anos, afirmou que a sua escrita não foi uma "catarse de alguma coisa", sublinhou que "é pura ficção, um romance", mas não deixou de questionar, "até que ponto todos os romances não serão catarse de algum aspeto de nós, de alguma coisa".
"Como estou no primeiro romance, não sei, de facto, dizer", afirmou o escritor, para quem concorrer ao prémio foi importante, "para estabelecer limites e um prazo de conclusão", senão, reconheceu, ainda "estaria envolvido nele".
O romance aborda, entre outras, a questão das pessoas com síndrome de Down e o abandono do interior do país, mas o autor alerta: "Essa desolação do interior é vista pelo narrador, que tentei que fosse uma personagem desagradável e difícil".
"Essa desolação é vista por ele, não quer dizer que não seja assim, até pode ser, mas temos de desconfiar, porque o narrador é uma personagem como os outros, mas é ele que interpreta a realidade, daí que algum comentário mais cáustico seja dele".
O autor escusou-se a realçar qualquer aspeto do livro.
"É sempre difícil tentar realçar algum aspeto de um livro que desenvolvi durante algum tempo, e ainda por cima o autor, a partir do momento em que o livro está nas mãos dos leitores, já não tem muita responsabilidade nesse aspeto, não quero induzir numa ou noutra leitura, acho que o leitor tem de ser livre", declarou Reis Cabral.
O escritor afirmou estar a trabalhar num novo romance, sobre o qual nada adiantou, pois "não se sabe ainda no que vai dar".
‘O meu irmão’ trata "um tema delicado que podia suscitar uma visão sentimental vulgar: a relação entre dois irmãos, um deles com síndroma de Down", disse o escritor Manuel Alegre, que presidiu ao júri do prémio, quando anunciou o vencedor, em outubro último.
A obra, no entanto, demonstrou ser "um dos livros mais maduros", entre os candidatos ao prémio, "curiosamente escrito pelo premiado mais jovem até hoje", afirmou o autor de ‘A praça da canção’.
Afonso Reis Cabral publicou em 2005 o livro ‘Condensação’, que reúne poemas escritos entre os 10 e os 15 anos. Em 2008 ficou em 8.º lugar num concurso europeu para estudantes em Língua e Literatura em Grego Antigo.
Mestre em Estudos Portugueses, pela Universidade Nova de Lisboa, trabalhou como revisor em várias editoras e, atualmente, trabalha como editor adjunto, na Alêtheia.
O romance ‘O meu irmão’ foi publicado em novembro do ano passado e é apresentado no sábado, às 17:30, na cooperativa Árvore, no Porto.