Meteorologia

  • 11 MAIO 2024
Tempo
15º
MIN 15º MÁX 23º

Afinal, foram ou não os indecisos a decidir as eleições?

As legislativas deste ano ficaram marcadas pelo elevado número de eleitores indecisos. Terá o seu voto sido preponderante para o resultado? O sociólogo Pedro Pereira Neto acredita que sim.

Afinal, foram ou não os indecisos a decidir as eleições?
Notícias ao Minuto

13:00 - 06/10/15 por Andrea Pinto

Política Legislativas

Após quatro anos sob uma forte política de austeridade liderada por Pedro Passos Coelho, mas perante um PS de António Costa incapaz de convencer o eleitorado português, houve um tipo de eleitor que este ano se evidenciou perante as propostas dos dois principais partidos portugueses: os indecisos.

A menos de uma semana da ida às urnas, as sondagens davam conta da existência de que mais de 20% dos eleitores ainda não sabiam em quem iriam votar.

António Costa, que seguia em segundo nas intenções de voto, decidiu dirigir o seu discurso para este grupo de indecisos na tentativa de assim conseguir os votos de que precisava para ganhar; Paulo Portas defendia que estes, "por patriotismo", iriam juntar-se a quem estava à frente na disputa eleitoral; e por fimo Bloco de Esquerda ou a CDU que advogavam que, por quererem afastar-se das duas grandes forças políticas nacionais os indecisos acabariam por dar o seu voto aos partidos fora do arco da governação.

O Notícias ao Minuto tentou perceber junto do sociólogo Pedro Pereira Neto de que forma estes indecisos tiveram (ou não) impacto no resultado das eleições deste domingo, que ditaram uma vitória relativa à coligação 'Portugal à Frente'.

Indecisos: o resultado de campanhas "amadoras" e de "literacia política"

"[O elevado número de indecisos é] o efeito combinado de dois fatores: por um lado, um conjunto de iniciativas de campanha eleitoral que parecem ter sido pouco refletidas, raiando o amadorismo em alguns partidos; por outro, as escolhas feitas pelos media e respetivos profissionais quanto às iniciativas às quais deram cobertura [...]; e, finalmente, uma literacia política e prática de pesquisa de informação por parte da população que é, em alguns casos, confrangedora, para não dizer indigna do estatuto de cidadão", começa por explicar o também professor.

E que impacto tiveram então estes indecisos nos resultados destas eleições? As conclusões não são claras mas há vários aspetos a ter em conta. Embora nenhuma delas possa ser confirmada, uma coisa é certa, defende o sociólogo: "a atitude dos indecisos foi extraordinariamente útil para manter a parte do status quo partidário que levaremos para a próxima legislatura".

Vitória do 'Portugal à frente': efeito da desejabilidade social?

Pedro Pereira Neto não acredita, porém, que a vitória da coligação PSD/CDS esteja relacionada com o espírito patriótico, referido por Paulo Portas, destes indecisos mas sim pelo "efeito de desejabilidade social, que faz com que prefiramos fazer parte do grupo de vencedores".

"Em Ciência Política existe um conceito que caracteriza o comportamento do eleitorado que pretende fazer parte da entourage dos vencedores (o chamado free-rider), que procura os benefícios de algo sem ter de prestar-se ao esforço necessário para consegui-los", explica, considerando que nestas eleições "para alguns portugueses, o voto ora se apresentava inútil por não aparentar conseguir qualquer mudança substantiva, ora se apresentava inútil por se antecipar que PSD e CDS venceriam de qualquer modo, e não precisavam do apoio do indeciso". Daí a elevada taxa de abstenção também registada, que o professor considera "provável ter sido composta em grande parte pelos indecisos.

Os 'pequenos' a reboque (ou não) dos indecisos

Outra das teorias dá conta de que muitos indecisos, à boca das urnas, acabam por optar pelos considerados partidos mais pequenos. Para o sociólogo não é possível, porém, confirmar "o sentido de voto daqueles que decidem em cima da data" das eleições.

"Em eleições nas quais o PS se demonstra eleitoralmente fraco, há sempre uma subida do Bloco de Esquerda (BE), particularmente quando é a Direita a vencer as eleições. Por outro lado, sempre que o PS obtém uma votação mais substantiva, vencendo as eleições, tal parece ocorrer à custa da votação do BE. O que significa que parte do sucesso eleitoral do BE pode não depender da qualidade das suas propostas, mas sim da capacidade que o PS demonstra em canibalizar", considera Pedro Pereira Neto.

Influência dos indecisos nas eleições

Pedro Pereira Neto acredita que os indecisos "afetaram" as eleições. No entanto, não acredita que tenham "sido a principal razão para esses resultados".

"Uma coisa é o processo – a indecisão e/ou abstenção – e outra coisa é o conjunto de explicações para a conduta que dele resulta. E nesse plano responsabilizarei sempre mais o cidadão pela informação que tem e procura ter, pela forma como entende envolver-se e excluir-se, e pela forma como se demonstra digno e à altura dos direitos que a cidadania institui e implica", defende, considerando que os mal esclarecidos o são apenas "por culpa própria, dados os recursos hoje existentes para suprir essa necessidade".

"Essa responsabilidade fica com a consciência de cada um, ainda que – infelizmente – produza efeitos sobre todos, incluindo aqueles que estiveram à altura desse desiderato", remata, lembrando ainda que "não podemos ter a melhor República possível quando metade daqueles e daquelas de quem depende pura e simplesmente se excluem de qualquer contributo válido".

Recomendados para si

;
Campo obrigatório