Comissário europeu nega que tenha vínculos com petrolíferas
O candidato indigitado para ser comissário europeu da Ação Climática e Energia, o espanhol Miguel Arias Cañete, negou hoje que ele ou a sua família mantenham vínculos com as empresas petrolíferas Dúcar e Petrologis.
© Reuters
Mundo Espanha
"Nem eu, nem a minha mulher, nem o meu filho temos algum cargo ou ações destas empresas ou de outras relacionadas. O meu filho renunciou ao seu cargo no conselho de administração", disse Arias Cañete durante a audiência de hoje no Parlamento Europeu, em Bruxelas.
O ex-ministro espanhol anunciou em 16 de setembro que tinha vendido as ações nas duas empresas de petróleo para evitar qualquer incompatibilidade com o cargo.
Já hoje, o comissário indigitado disse que "não há conflito de interesses" uma vez que essas empresas são pequenas e dedicam-se apenas ao armazenamento de combustíveis e não à exploração petrolífera, explicando que decidiu vender as ações por "transparência" e para dissipar "qualquer dúvida".
Segundo o jornal El País, Cañete foi também questionado sobre se o seu cunhado continua a ser presidente das empresas, mas preferiu não responder.
Miguel Arias Cañete, acrescenta o diário na sua página na Internet, foi presidente da empresa Dúcar entre 2005 e 2011, tendo saído pouco antes de ir para ministro. Já o partido ecologista Equo disse a semana passada que "familiares direto" do candidato continuam a controlar 72% da Dúncar e 79% da Petrologis.
A escolha de Cañete para comissário europeu da energia caiu mal devido aos alegados conflitos de interesses. Hoje, dezenas de pessoas, entre eles vários deputados de partidos de esquerda, manifestaram-se frente ao Parlamento Europeu em Bruxelas contra a nomeação. Foi ainda subscrito um manifesto em que eurodeputados denunciam o "claro conflito de interesses" de Miguel Arias Cañete e as suas "declarações machistas".
Nas últimas eleições europeias, Cañete provocou polémica durante um debate televisivo com a candidata socialista Elena Valenciano ao dizer que é difícil ter um debate com uma mulher porque "se houver abuso de superioridade intelectual" parece que é "machista e que está a encurralar uma mulher indefesa".
Na audição de hoje, em que o tema do sexismo de Cañete foi abordado por vários eurodeputados, o espanhol pediu "perdão" pelos comentários "infelizes" e garantiu estar comprometido "com o valor da igualdade".
Polémicas à parte, quanto à pasta para que foi indicado, Cañete propôs hoje um novo sistema europeu de apoio às energias renováveis, com regras claras e iguais em toda a União Europeia (UE) "para que não haja distorções da concorrência".
O ex-ministro da Agricultura de Espanha defendeu regras "mais baseadas no mercado e com menos peso do dos auxílios estatais", considerando que assim seriam evitados problemas como os défices tarifários excessivos com que muitos países têm de lidar e deu o caso de Espanha.
As energias renováveis, disse Cañete, são também fundamentais na luta contra as mudanças climáticas, o outro setor importante da sua pasta.
Todos os comissários indigitados para a nova Comissão Europeia têm de ir a 'exame' no Parlamento Europeu, onde em audiências de cerca de três horas respondem a dezenas de perguntas dos eurodeputados. O português Carlos Moedas, indicado para a pasta da Investigação, Ciência e Inovação, foi ouvido na terça-feira e mereceu um parecer favorável da comissão responsável pela sua audição.
Apesar de a composição da Comissão Europeia ser votada como um todo (o que sucederá a 22 de outubro próximo, em Estrasburgo), na sequência de cada audição a comissão parlamentar competente (ou comissões parlamentares, nos casos em que as pastas dos comissários são mais transversais) emite um parecer, e, se este for negativo, o presidente eleito da Comissão pode proceder a uma substituição do comissário, para evitar o risco de um "chumbo" do colégio no seu todo.
O ainda presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, viu-se forçado a proceder a mudanças na constituição das suas equipas tanto em 2004 como em 2009.
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