Meteorologia

  • 26 ABRIL 2024
Tempo
13º
MIN 12º MÁX 17º

Fernanda Alves estreia nova peça amanhã

A peça ‘Fernanda - Quem falará de nós, os últimos’, de homenagem a Fernanda Alves, uma das maiores actrizes da sua geração, estreia na sexta-feira, no Porto, sendo complementada com uma exposição/instalação.

Fernanda Alves estreia nova peça amanhã
Notícias ao Minuto

12:38 - 21/03/13 por Lusa

Cultura Atriz

A peça, uma co-produção do Teatro da Rainha e do Teatro Nacional São João (TNSJ), parte de textos da própria actriz, de Herberto Helder, mas especialmente do livro ‘Fernanda’, escrito após a morte da actriz em 2000, pelo marido Ernesto Sampaio que viria a morrer pouco depois. Mário Cesariny disse que Ernesto Sampaio era a única pessoa que ele sabia que tinha morrido de amor.

"É um livro completamente passional", afirma à Lusa Mora Ramos, que encena a peça onde contracena com Joana Carvalho.

"Ele está de tal modo abalado pela morte dela, está tão traumatizado que a escrita é uma tentativa de tentar falar com uma ausente e, ao mesmo tempo, uma tentativa de luto não conseguido, porque ele acaba de morrer quase por não suportar viver sozinho, sem ela", declara.

Fazer uma peça a partir daqui foi "muito difícil", reconhece Mora Ramos.

"É quase uma impossibilidade, esta passagem de um universo completamente íntimo e lírico para uma dimensão física e pública, mas a aposta era essa e creio que conseguimos fazer essa espécie de suicídio em forma de escrita que é esta tentativa de fazer um livro que prolongue a vida, que prolongue a existência da Fernanda dentro do Ernesto", diz.

A peça, que será apresentada na sala do Tribunal do Mosteiro de São Bento da Vitória, estará em cena até ao 27 deste mês, dia em que será inaugurada no salão nobre do TNSJ um exposição/instalação do director do teatro, Nuno Carinhas que reúne figurinos, adereços, fotografias de cena, registos áudio e vídeo de recitais, peças e filmes de Fernanda Alves.

Para Mora Ramos, Fernanda Alves, "com a consciência clara do que pretendia", foi uma precursora, alguém que ainda durante a ditadura "quer fazer um teatro que divida o público e não só que produza consensos".

"Ela é talvez a única actriz, pelo menos daquela geração, que afirma politicamente esse desejo, assumindo simultaneamente e de um modo muito radical o carácter artístico do que faz", observa.

No início de 1974, Mora Ramos, jovem aluno do conservatório de Lisboa, viu sete vezes "A grande imprecação diante das muralhas da cidade", de Tankred Dorst, na qual a actriz representa Fan Chin Tin, uma mulher que reclama aos soldados o seu marido levado pelas tropas.

"Esse espectáculo, de alguma forma, disse o que vinha a seguir e era uma crítica directa àquela política de carne para canhão que levava os jovens para África", afirma Mora Ramos, que recorda as longas filas de pessoas, dos milhares de espectadores para ver uma peça que ficou dois meses em cena e que só foi possível porque era "em território estrangeiro", o Instituto Alemão.

Tanto o encenador como Nuno Carinhas tiveram a oportunidade de conhecer Fernanda Alves, que morreu no Porto, num quarto de hotel, antes de poder representar o Anjo das Barcas no TNSJ. E é "essa memória muito forte" que querem preservar contra essa "espécie de tábua rasa, esta espécie de ditadura do presente em que nos encontrarmos".

Fernanda Alves "foi notável, um marco na nossa memória teatral e não se fala dessas coisas, falam de coisas completamente tolas", diz encenador, para quem o desconhecimento sobre a actriz, por parte de quem gosta de teatro, é indesculpável. "É como se os jovens atores alemães não soubessem quem foi a Helene Wiegel ou a Edith Clever".

Para Mora Ramos, "o regresso a esta actriz é uma forma de prolongar e de chamar a tenção para alguém que é preciso recordar tanto do "ponto de vista artístico, como do ponto de vista ético".

Recomendados para si

;
Campo obrigatório