Depois de falar com a diretora do PaRK International School, Bárbara Beck de Lancastre, e de perceber o conceito por trás desta escola localizada no Restelo, estivemos à conversa com um dos responsáveis pelo posicionamento tecnológico da escola.
Kyriakos Koursaris está à frente da educação tecnológica (e também é professor de música) no PaRK International School e explicou ao Notícias ao Minuto como é que se preparam nesta escola os alunos para o futuro digital.
Desde a utilização de iPads, passando por ‘Minecraft’ e até ao ensino de programação, o PaRK International School assume-se como uma das escolas melhor preparadas para incutir capacidades de relevo para o futuro.
Enquanto escola 'amiga' de iPads, qual é a vossa política relativamente a smartphones?
A partir do 5.º também podem trazer mas fica na mochila, sem som, e podem usar depois das aulas.
Nem enquanto ferramenta de pesquisa?
Não, para isso temos o iPad. Noutras escolas há esse projeto, ‘Bring Your Device’, mas é para alunos mais velhos.
E é tudo Apple, tudo iOS. Os problemas são sempre os mesmos. Não temos de nos preocupar. Quando começámos com o programa dos iPad One to One nos nossos 6.º anos, introduzimos o Bring Your Device mas uns tinham iOS, outros Android, e percebemos que era um ambiente muito difícil de controlar
Porquê a escolha do iOS?
Basicamente porque na época que se teve a ideia de introduzir os iPad houve muito ‘hype’ à volta disto. Especialmente nos EUA, com muitas escolas a introduzir [o tablet da Apple]. Foi um dos dispositivos que achámos mais atrativos, o sistema operativo mais simples e a que estávamos habituados com iPad, iPhone e Mac.
Com o projeto a longo prazo, sempre a pensar no futuro, quisemos eventualmente entrar no programa Apple Distinguished School, que reconhece escolas do mundo inteiro onde as tecnologias da Apple estão disponíveis 24h/dia para todos os alunos e funcionários da escola.
Transmite atenção e reconhecimento da comunidade educativa mundial e estamos a trabalhar para pouco a pouco montar a nossa história e comunicar à Apple para sermos uma ‘lighthouse school’. Ainda está em fase de processamento. Tem a ver com o programa da escola, começar a ver os resultados e compilar estes resultados num documento que depois partilhamos. Estamos a avaliar e para ter estes resultados é preciso alguns anos para poder comparar.
Temos sessões de segurança na internet dadas pela polícia, há eventos internacionais, também temos formação para os professores e paisPorquê o interesse no programa? O que é preciso?
É um reconhecimento que esta escola está a usar estas plataformas e tecnologias e tem bons resultados. Ser uma escola ‘featured by Apple’ implica ter um livro publicado na App Store em que qualquer pessoa no mundo pode descarregar o programa, ver os projetos. Estamos a fazer isto porque queremos influenciar e chegar ao resto do mundo. A candidatura é este iBook, que fala da nossa história.
Também publicam conteúdos.
Publicamos tanto da parte dos professores como dos alunos. Os professores publicam cursos na plataforma iTune U – plataforma de cursos educativos do mundo online. Também é um processo de seleção, há uma candidatura para entrar nesta plataforma. São cursos que têm o currículo estruturado do ano e as matérias que vão ser dadas naquela idade e disciplina. Qualquer pessoa pode consultar. É muito fácil para nos mostrar o que estamos a fazer. Seguimos o programa nacional nas disciplinas principais mas os professores têm muita liberdade para trabalhar por projetos.
Têm alguma vertente de segurança e de responsabilização digital?
Sem dúvida. É uma das nossas primeiras e principais preocupações. Temos sessões de segurança na internet dadas pela polícia, há eventos internacionais - Dia da Password, por exemplo-, também temos formação para os professores e pais. Na segurança do próprio dispositivo existe a ‘firewall’.
A gestão dos iPad numa escola – neste momento temos 400 dispositivos – implica a utilização das plataformas MDM - Mobile Device Management. Eu próprio sou administrador e nesta plataforma são introduzidos todos os iPad e são supervisionados. Não é nenhum Big Brother mas ajuda na gestão do dispositivo e nas aulas os professores podem ver o que os alunos estão a fazer através de aplicações que a Apple desenvolveu.
A Apple lançou este ano o Apple Classroom, que permite ao docente aceder à sua turma. Posso ver o que ele está a fazer, posso bloquear a app ou dispositivo. Dá um poder de IT ao professor. Posso mandar um aluno, ou todos ao mesmo tempo, para um site específico. Ou posso ver o ecrã. Neste caso o aluno recebe uma notificação, ele tem de saber que está a ser visto. Só os professores têm acesso a esta plataforma. O MDM permite impor algumas restrições, filtro de conteúdo inapropriado, acesso a determinadas apps, atualizar os dispositivos. Como somos uma escola pequena vou acumulando funções.
Uma coisa que este programa incentiva e a até a própria Apple é que a criação dos conteúdos não é só para nós. A geração de hoje em dia tem esta necessidade, de partilhar com alguém. Esta partilha pode facilmente sair da turma através das chamadas Skype com uma escola ou num blogue.
Têm alguma vertente de programação?
Temos. No próximo ano vai fazer parte do novo currículo de 'competitional thinking' que estamos a desenvolver. Para os mais velhos vai ser o Python, uma linguagem mais complexa. Os mais novos utilizam Scratch. Há dois anos a Apple introduziu o Playgrounds para quem estava a aprender o Swift…
Estamos aqui para dar apoio aos alunos e pais porque é uma grande mudança e mesmo para quem tem iPad em casa a vida deles é cheia de regrasAdotam do ponto de vista criativo ou do ponto de vista de programação?
De tudo. O ‘Minecraft’ é extraordinário. Os professores conseguem desenvolver atividades com base no currículo do ministério através do ‘Minecraft’ e os alunos adoram.
Em janeiro entrei no programa chamado ‘Minecraft Global Mentors’ em que 50 professores do mundo inteiro que estão a ajudar escolas e professores a perceber a potencialidade do ‘Minecraft’. A nossa escola foi selecionada para fazer o ‘beta testing’ do ‘code builder’. Tivemos sempre suporte direto total da Microsoft.
E como é começar com os as crianças mais pequenas com o iPad?
No jardim de infância as professoras têm um iPad e fazem trabalhos de grupo para eles se ambientarem. No 1.º, 2.º e 3.º anos temos os iPad da escola e qualquer pessoa pode requisitar para atividades em grupo, que são mais pensadas no currículo. Nestas idades ficam desejosos de pegar no iPad então vamos deixá-los um bocadinho dentro das atividades mais livres. No 4.º ano é quando cai a ficha porque todos têm de usar e há sempre um período mais difícil de eles perceberem acima de tudo que o iPad é uma ferramenta de trabalho.
Estamos aqui para dar apoio aos alunos e pais porque é uma grande mudança e mesmo para quem tem iPad em casa a vida deles é cheia de regras. Temos três formações para os alunos – as apps para usar na escola, como usar ipad em casa e segurança na internet e isto já os ajuda para até ao Natal perceberem que é uma ferramenta de trabalho acima de tudo. Os professores sabem que não vão entrar no 4.º ano e ter projetos espetaculares no iPad
Os iPad vão para casa ou ficam cá?
Vão para casa porque são dos alunos. Nós decidimos como escola que queríamos seguir este caminho, falámos com os pais, apresentámos o nosso case study e os pais concordaram e compraram os iPad, alguns com maior resistência porque era algo novo.
E como é a comunicação com os pais?
Temos plataformas específicas para cada tipo de comunicação. Todos os alunos têm email onde recebem a newsletter e comunicações gerais. Depois há a plataforma do Google Classroom, que é onde os professores partilham projetos e trabalhos de casa para os alunos fazerem com instruções e entregam na plataforma.
Há o calendário onde estão os testes, visitas de estudo, feriados e eventos escolares. Eles também têm o seu caderno, sabem que vão receber no Google Classroom mas também vai para o livro, queremos manter os dois mundos. Enquanto escola temos uma série de aplicações que são obrigatórias para todos e que instalamos no iPad assim que o aluno o recebe. De resto, depende do projeto, depende da atividade, depende do professor, mas a comunicação é feita desta forma. O Apple Classroom é gestão do professor.
Que outros projetos têm aqui no Park?
O TED Talk e o ‘Minecraft’ são apenas dois dos projetos oferecidos na escola. O TEDx tem uma vertente de educação, o TED-Ed. Neste momento temos 15 alunos que estão a preparar as suas próprias Ted Talks. A pergunta que os alunos estão a trabalhar é ‘What makes your heart beat faster?’ [O que faz o teu coração bater mais depressa?] e têm de se filmar a falar e enviar para a Ted-Ed.
Pode acontecer e alguns deles podem ser tão bons que são convidados a fazer uma apresentação em Nova Iorque no próximo ano. Uma aluna, por exemplo, está a falar sobre a importância da família e como é crescer numa família com muitos irmãos e irmãs. Há de tudo e estão a adorar.
Há limite de crianças?
Há lugares limitados. Em ‘Minecraft’ só posso ter 20 alunos e o TED é igual, mas o limite é 15.
Estamos a falar de educação e TED por isso é inevitável não falar no Ken Robinson...
Sim. É o Ted mais visto.
Alguma vez pensaram em apresentar-lhe a escola?
Nunca lhe mandámos email. Ele é muito ocupado, critica imenso a educação, embora seja referencia neste assunto, ele critica imenso, mas também oferece soluções. Vou ser sincero, nunca pensámos em mandar-lhe email, mas vamos fazer. Tivemos uma sessão com a Jane Goodall, do National Geographic, projeto que só conseguimos implementar porque temos o Big Idea e levámos 100 alunos a conhecê-la.