O líder do Chega, André Ventura, comentou esta terça-feira o caso do dermatologista que ganhou 400 mil euros em dez dias de trabalho adicional em 2024, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e afirmou que em causa está uma "fraude, abuso e desperdício" no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"O Chega várias vezes alertou, denunciou e tocou numa questão que é sensível aos portugueses: a fraude, o abuso e o desperdício no âmbito do sistema de saúde. Os números são chocantes e alarmistas", afirmou em declarações aos jornalistas, na Assembleia da República.
Ventura assegurou que o Chega vai "desafiar o Governo para algo que há muito devia ter sido feito", nomeadamente o "conhecimento da extensão dos números deste abuso, desperdício e fraude", de "forma anual".
"Independentemente das auditorias que venham a existir agora, suspeitamos que estes casos se possam multiplicar um pouco pela globalidade do sistema de saúde em Portugal. Sabemos também que os recursos na Saúde são finitos. Suspeitamos ainda que estes modelos de fraude e de desperdício não são exclusivos da Saúde, mas alargáveis a outros ministérios do país", atirou.
O líder do Chega defendeu a criação de um "relatório anual" e "intensivo": "O Governo deve ser obrigado, antes do Orçamento do Estado, a dizer como foi a execução do orçamento do ano anterior, mas também qual foi o valor de desperdício, da fraude e do abuso que temos em Portugal".
"É uma alteração à Lei de Enquadramento Orçamental que, previamente à Conta Geral do Estado ou à apresentação do orçamento, obriga o Governo a apresentar não só a execução do orçamentado no ano anterior, mas também o valor que estima de desperdício, de desvio e de fraude em cada ministério", anunciou o líder do Chega.
O líder do Chega disse que o objetivo da proposta de alteração à lei, a apresentar no início da legislatura, será perceber quanto dinheiro é gasto "ou em despesas extraordinárias, ou em desperdício ou desvio não fundamentado, ou em derrapagens de obras, independentemente da sua natureza, em cada ministério".
Referindo-se à futura composição do Governo, o presidente do Chega voltou a defender que a ainda ministra da Saúde, Ana Paula Martins, não tem "grandes condições políticas para continuar" no próximo executivo.
Na sexta-feira, a CNN Portugal revelou que um dermatologista do Hospital de Santa Maria terá recebido 400 mil euros em 10 sábados de trabalho adicional em 2024, tendo um dos dias sido utilizado para retirar lesões benignas aos pais. Num só sábado, o médico recebeu mais de 51 mil euros.
Em causa está o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), que permite fazer cirurgias fora do horário laboral, de modo a mitigar as longas filas de espera nos hospitais.
O Ministério Público (MP) e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) já abriram inquéritos ao caso.
[Notícia atualizada às 17h36]
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