Elsa Gomes, ex-assessora da ministra do Trabalho Solidariedade e Segurança Social, que é agora diretora-adjunta do Centro Nacional de Pensões do Instituto da Segurança Social, defendeu que a Comissão de Proteção das Crianças e Jovens (CPCJ) devia intervir nos casos de mães que amamentam depois dos dois anos, em resposta a uma publicação sobre a polémica proposta de reforma da Lei do Trabalho apresentada pelo Governo.
"Nenhuma mulher normal amamenta um filho depois dos 2 anos, quem diz o contrário não pode ser boa mãe! Deve exigir intervenção da CPCJ… As fraudes devem ser combatidas sem qualquer receio", escreveu a ex-assessora de Maria do Rosário Palma Ramalho, num comentário a uma publicação na rede social LinkedIn do secretário-geral da Confederação do Turismo Português, Nuno Bernardo.
As reações a estas declarações não tardaram. Foram vários os profissionais da área e até de saúde que já reagiram às mesmas e criticaram, apontando a falta de informação por parte de quem faz este tipo de afirmações.
Entre elas está Andreia Guerreiro, doula e especialista em amamentação IBCLC. Nas redes sociais a profissional já fez vários stories sobre o assunto. Além de apelar às mulheres que não tenham medo de amamentar os filhos porque as declarações de Elsa Gomes não passam de um "bluff parvo e ignorante" pede que, caso haja incumprimento da licença de amamentação ou horário flexível, as famílias denunciem a situação enviando um e-mail para anguer@gmail.com.
A também doula e especialista em amamentação Lígia Morais fala do recente 'renascimento' da "Pide mamólica" e garante que não se importa de ser uma "anormal" na boca de Elsa Gomes. A profissional partilha ainda vários posts de mulheres que são da mesma opinião.
Mas há mais. Para a advogada especializada em Direito de Menores, Mafalda Bravo Velez a 'silly season' deste ano gerou uma "estupidez em massa" sobre amamentação e direitos das mães. Por isso, está a apelar a uma manifestação, em frente ao ministério do Trabalho, com mulheres a amamentar os seus filhos.
Entretanto, um grupo de mulheres criou também um vídeo onde 'assumem' ser "anormais" por amamentarem os filhos após os 2 anos de idade.
O vídeo, partilhado há poucas horas, já tem centenas de comentários de mulheres a colocar a 'mão no ar' por terem feito o mesmo.
"Segundo as autoridades da normalidade… nenhuma mulher normal amamenta depois dos dois anos [...]. Pois bem… olá, somos oficialmente anormais. E com orgulho. Porque sabemos que a idade natural de desmame da espécie humana ronda os 7 anos (sim, sete, não é gralha). O que é realmente vergonhoso? Não é uma criança mamar depois dos dois anos. É existirem declarações destas, vindas de quem devia proteger e apoiar famílias [...]. O anormal… é não saber o que é normal", atirou Sara Castro, também especialista IBCLC em amamentação.
Já a nível político, até ao momento, não houve muitas reações. No entanto, Inês Sousa Real, líder do PAN, comentou as declarações de Elsa Gomes nas redes sociais, realçando que estas são "demasiado más" para serem verdade.
"É demasiado mau para parecer verdade. É preciso ter mesmo muita falta de noção para achar que uma criança que é amamentada depois dos 2 anos precisa de intervenção da CPCJ, por ter uma mãe que cuida! Onde está o combate aos maus tratos e abuso infantil?! Isso é que era de valor", escreveu a deputada na rede social X.
É demasiado mau para parecer verdade. É preciso ter mesmo muita falta de noção para achar que uma criança que é amamentada depois dos 2 anos precisa de intervenção da CPCJ, por ter uma mãe que cuida! Onde está o combate aos maus tratos e abuso infantil?! Isso é que era de valor. pic.twitter.com/4lVQsGbQm3
— Inês Sousa Real (@InesSousaReal) August 11, 2025
Recorde-se que está já a decorrer uma petição contra a alteração do horário flexível e da licença de amamentação. Quase 46 mil pessoas já assinaram a mesma desde que foi criada, a 26 de julho.
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