"Cavaco vai fazer, mais uma vez, orelhas moucas?"
O histórico socialista dedica o artigo que hoje assina no Diário de Notícias às eleições europeias, à elevada abstenção, à curta vitória do PS, aproveitando para deixar alguns conselhos “de amigo” ao Presidente da República. Soares afirma que “o tempo” de Cavaco para “ainda poder resolver, em parte, o mal que este Governo tem feito a Portugal, é curto”, pelo que questiona se fará “mais uma vez orelhas moucas” e “passar adiante como se nada fosse”.
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Política Mário Soares
Mário Soares lembra hoje, no artigo ‘Dia das eleições’ que assina esta terça-feira no Diário de Notícias (DN), que “na tarde das europeias, o senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, fez um único apelo aos portugueses: ‘não deixem de votar’”.
“Contudo, o povo, de Norte a Sul, respondeu com uma abstenção que foi a maior de sempre: 66%, quase dois terços dos eleitores não votaram. Quer dizer que não o ouviram e desinteressaram-se dos partidos da coligação”, considera o histórico socialista.
Aliás, sublinha, “a ‘vitória’ do PS, infelizmente, foi uma vitória de Pirro… Isto é: que não devia ter sido aclamada como o entusiasmo com que o seu líder o fez. O povo falou claro, não quer a direita que está no poder. Mas também quer que o PS dê expressão política ao descontentamento popular”, refere.
Face a este cenário, Soares coloca algumas questões ao chefe de Estado: “Vai fazer mais uma vez, orelhas moucas? E passar adiante como se nada fosse?”. Na opinião do ex-Presidente da República, Cavaco “não pode deixar de falar e de encontrar uma saída para a terrível crise em que Portugal está e continua com a austeridade que mata”, citando o Papa Francisco.
“O Presidente da República está a pouco tempo de ainda poder resolver, em parte, o mal que este Governo tem feito a Portugal e aos portugueses, só pensado nos mercados e ignorando completamente as pessoas. O tempo de Cavaco Silva para ter possibilidade de decidir é curto”, avisa Soares, frisando mesmo que: “Quem o avisa, seu amigo é”.
Soares pede a Cavaco para que se lembre “que sairá muito mal da cena política, continuando ainda como Presidente, sem ter poder para que possa ajudar ainda a salvá-lo, um pouco, das terríveis consequências da política deste Governo. É preciso que o demita antes”, recupera o histórico socialista, acrescentando que “se o não fizer, terá um péssimo fim”.
Neste artigo de opinião, publicado como habitualmente às terças no DN, deixa ainda um conselho ao PS, no sentido de “contra a direita” ser necessário que “a esquerda se una e que o Partido Socialista, por seu lado, também não fique isolado” e que “tente cooperar com toda a esquerda que o queira, de igual para igual”.
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