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As homenagens (e os silêncios) no adeus ao "príncipe da política"

Adriano Moreira morreu, este domingo, aos 100 anos. As mensagens foram desde a lembrança do 'grand seigneur' - pela parte de Luís Montenegro - ao silêncio de personalidades de Esquerda, como o caso de, até ao momento, o primeiro-ministro, António Costa.

As homenagens (e os silêncios) no adeus ao "príncipe da política"
Notícias ao Minuto

08:40 - 24/10/22 por Catarina Correia Rocha com Lusa

Política Adriano Moreira

Adriano Moreira morreu, este domingo, aos 100 anos, completados no mês passado. A partida do "príncipe da política", como lhe chamou Paulo Portas, ex-líder do CDS-PP, levou a uma onda de homenagens, em que se salientam os elogios da Direita e o silêncio de parte da Esquerda. 

Foi Nuno Melo quem confirmou a morte de Adriano Moreira ao Notícias ao Minuto, recordando-o como "uma referência maior do CDS".

Já no Twitter, o atual presidente dos democratas cristãos considerou que o "Professor Adriano Moreira foi um português no superlativo", tendo representado "o melhor da Nação em muitos tempos diferentes". 

Também o anterior líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, deixou uma mensagem de homenagem, na rede social Facebook, enaltecendo o legado de Adriano Moreira, que "foi génio e luz", "marcou a academia" e foi "um patriota com um percurso político em encontro permanente com o serviço ao país".

Já Assunção Cristas, destacou o "testemunho de vida dificilmente igualável" deixado por Adriano Moreira, sublinhando a "enorme coerência" e a "grande fidelidade aos princípios em que acreditava". "É o pesar que agora nos une, mas também o sentimento de inspiração e algum sentido de gratidão por uma vida longa, dedicada à causa pública", enalteceu, no Twitter. 

Outro dos ex-presidentes do CDS-PP, José Ribeiro e Castro, recordou Adriano Moreira como um "visionário universal", "democrata cristão" e sublinhou que o seu "legado mais extraordinário" foi uma vida de 100 anos. "É uma pessoa muito preocupada com a paz e creio que, infelizmente, morreu inquieto", declarou, numa referência à guerra na Ucrânia, após a invasão pela Rússia.

Francisco Camacho, atual líder da Juventude Popular (JP), considerou que "um dos nossos maiores partiu." "Foi um privilégio para mim, e seguramente para outros milhares, ter apreendido tanto com as palavras e o testemunho de Adriano Moreira. Toda a sua carreira pública, na política, na ciência e na academia, nos inspira, mas é pelos seus valores humanistas que continuará vivo entre nós", advogou, através do Facebook. 

As reações das altas figuras do Estado (e de alguns partidos)

Mas nem só as mais proeminentes figuras ligadas à democracia cristã recordaram e enalteceram a memória do professor Adriano Moreira. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, agradeceu-lhe por "100 anos de vida, 100 anos de obra, 100 anos de serviço a Portugal". 
 
"Deixou-nos há duas horas Adriano Moreira. Em paz, sereno, na história, mas acima da história, como sempre viveu", começou por dizer, numa declaração feita aos jornalistas no Palácio de Belém. "Durante cem anos foi tudo ou quase tudo. Académico, mestre de civis e militares, lutador pela liberdade e pela democracia. Depois, reformador impossível em ditadura; ainda assim, revogando o estatuto do indigenato, exilado, regressado, presidente de um partido político, vice-presidente da Assembleia da República, conselheiro de Estado", sintetizou. 

A segunda figura do Estado Português, Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, frisou, no Twitter, que "Adriano Moreira ficará como uma grande figura da Democracia portuguesa, que o soube reconhecer e integrar". "Foi a Democracia que o fez deputado e líder partidário, e mestre de várias gerações. Por sua vez, ele ajudou a democracia a situar-se na continuidade histórica de Portugal", adiantou. 

O presidente do PS, Carlos César, classificou Adriano Moreira como "uma referência da vida política portuguesa" com o qual aprendeu sempre, mesmo quando não concordava. "Uma referência da vida política portuguesa e um académico, um especialista em Relações Internacionais, em Segurança e Defesa Nacional que fez escola e deixou obra relevante", escreveu o presidente dos socialistas na sua conta na rede social Facebook.

O Governo apresentou as condolências pela morte de Adriano Moreira, que se destacou "pela sua intervenção política e cívica, com quem a Democracia se soube reconciliar". "Advogado, académico, político, pensador atento ao lugar de Portugal no mundo, às questões de Segurança e Defesa e à realidade internacional, destacou-se pela sua intervenção política e cívica, com quem a democracia se soube reconciliar", lê-se na nota de pesar publicada no portal do Governo.

O presidente do PSD, Luís Montenegro, expressou este domingo "profundo pesar e solidariedade" pela morte de Adriano Moreira, que classificou como "um 'grand seigneur' da academia e da política portuguesa". Numa publicação partilhada no Twitter, o líder do PSD escreveu que o antigo presidente do CDS "deixa-nos um legado riquíssimo de pensamento sobre valores e princípios sociais".

O presidente do Chega, André Ventura, anunciou que vai apresentar na Assembleia da República um voto de pesar pela morte de Adriano Moreira, que considerou ser "um verdadeiro senador" da política portuguesa e um "pensador incomparável". "A morte do Professor Adriano Moreira deixa-nos a todos mais pobres. [...] Esteve dos vários lados da barricada e a todos enriqueceu tanto. Vamos apresentar no Parlamento um voto de pesar", escreveu André Ventura na sua página pessoal da rede social Twitter.

A Iniciativa Liberal (IL) destacou o "exemplo de serenidade na política" que foi Adriano Moreira, uma postura que manteve "quando incompreendido e quando consensual". "Adriano Moreira, tanto para dizer e seria sempre pouco. Um exemplo de serenidade na política, quando incompreendido e quando consensual", enalteceu, através de uma mensagem na rede social Twitter, o líder parlamentar, Rodrigo Saraiva.

Já o Livre lamentou a morte de Adriano Moreira, aos 100 anos, representante de "um campo político muito diferente" do partido, mas considerando que a sua memória é "merecedora do maior respeito", pelas "qualidades de intelectual, democrata e humanista". "Foi, nos últimos anos, presidente da Academia de Ciências. Pelas suas qualidades de intelectual, democrata e humanista, a sua memória é merecedora do nosso maior respeito", acrescentou o partido no Twitter. 

Por fim, a dirigente do partido PAN, Inês Sousa Real, recorreu à rede social Twitter para recordar uma "das personalidades históricas da política do nosso país". "À sua família e amigos, as minhas mais sentidas condolências", pode ler-se na mesma publicação. 

De notar, até o momento da publicação deste artigo, os 'silêncios' de, entre outros, Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português e do primeiro-ministro, António Costa, a título individual, nas homenagens a Adriano Moreira. 

Exéquias começam no Mosteiro dos Jerónimos

O velório de Adriano Moreira está marcado para esta segunda-feira no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, a partir das 20h00. Fonte oficial do CDS-PP adiantou à agência Lusa que as cerimónias fúnebres do antigo presidente do partido começam hoje e prolongam-se até terça-feira, dia em que terminam com o funeral reservado à família.

Isabel Moreira, filha de Adriano Moreira e deputada pelo PS, recorreu ao Facebook para partilhar um texto emotivo onde recorda o pai. "Querido pai, meu amor, amor da minha vida". "Todas as palavras são, agora, sobras. Porque as dissemos todas. Porque escreveste que 'a palavra tem de ser pronunciada. Certa palavra. Dita a tempo, na ocasião apropriada. Riscos, consequências, perdas, tudo é um preço irrisório para a plenitude de ter dito'”, salientou.

Adriano José Alves Moreira nasceu em Grijó, Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, em 6 de setembro de 1922, filho de António José Moreira, que foi subchefe da Polícia de Segurança Pública (PSP) no porto de Lisboa, e de Leopoldina do Céu Alves.

Foi ministro do Ultramar no período da ditadura (1961-1963) e deputado e presidente do CDS-PP já em Democracia, mantendo sempre ligação à universidade e à reflexão em matéria de Relações Internacionais. Em 2014, foi uma das 70 personalidades que defenderam a reestruturação da dívida pública como única saída para a crise.

Com 100 anos completados em 6 de setembro passado, foi condecorado pelo Presidente da República em junho com a Grã-Cruz da Ordem de Camões.

[Notícia atualizada às 09h38]

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