"Há uma enorme desarticulação do sistema de acolhimento de refugiados"
Mariana Mortágua e Adolfo Mesquita convergem na ideia de que o Governo está a falhar no que diz respeito à fiscalização e à articulação que existe no sistema de acolhimento de refugiados.
© Global Imagens
Política Refugiados
Mariana Mortágua e Adolfo Mesquita debruçaram-se esta segunda-feira à noite, no programa Linhas Vermelhas da SIC Notícias, sobre a polémica que envolve o acolhimento de refugiados ucranianos, e em particular o caso de Setúbal, e ambos concordam que existe falta de fiscalização e desarticulação no sistema de acolhimento.
A deputada bloquista considera que esta será a ponta do iceberg e que este iceberg "diz respeito à falta de fiscalização que existe e controlo, neste momento, no acolhimento de refugiados" e que a desorganização no que diz respeito ao controlo das informações destes refugiados gerará um problema maior.
"É uma situação muito grave que as associações têm vindo a denunciar", salienta Mariana Mortágua.
A par das considerações de desorganização no acolhimento destes ucranianos e no controlo sobre quem entra através de associações que se voluntariaram, está a opinião de Adolfo Mesquita que admite um "descontrolo nas pessoas que vão sendo colocadas em famílias de acolhimento sobre as quais ninguém fez nenhuma triagem".
Relativamente à situação da Câmara de Setúbal, "é óbvio que a acusação é grave e não podemos ter a acolher refugiados, a recolher dados dos refugiados e a encaminhar refugiados ucranianos de uma situação em que estão a fugir de uma ocupação da Rússia, membros e organizações com essas proximidades políticas [organizações pró-Putin]", defende Mariana Mortágua.
Para a bloquista, "a grande questão é por que é que não foram sinalizados [casos como o de Setúbal] e que tipo de fiscalização estava a ser feita".
"Segundo o que nos foi dito, essa avaliação [da idoneidade das associações de imigrantes] não foi feita nem a base de dados atualizada e por isso encontramos quatro casos. Não sabemos se há mais", sublinha Mortágua indicando que a gestão de que associações acolhem estes refugiados não foi devidamente feita.
Adolfo Mesquita sublinha "a enorme desarticulação do sistema de acolhimento" e que era necessário uma articulação central para que tudo funcionasse melhor.
"É preciso recordar que há quase um mês a embaixadora da Ucrânia fez esta acusação de que existiam organizações pró-russas que estavam a colaborar com autarquias no acolhimento de refugiados e que estas podiam estar a receber dados para poder dar ao exército russo ou sistemas de informações russos", começa por lembrar.
Mesquita sublinha ainda que "a Rússia é perita na guerra híbrida, na guerra da informação e propaganda, tem espiões em Portugal, que supostamente já foram expulsos" e que, por isso, "a acusação [da embaixadora da Ucrânia em Portugal] era plausível, podia haver espaço para averiguações".
O ex-deputado do CDS defende que o Governo falhou em toda esta situação por falta de centralização.
"Aquilo que se esperava das Câmaras e do Governo era que houvesse diligência total e imediata. Acho difícil de explicar por que é que o Governo só pede explicações ao Alto Comissariado depois da notícia do Expresso", aponta o comentador da SIC Notícias.
Relativamente à polémica que envolve a Câmara de Setúbal, “o caso é mais paradoxal ou paradigmático porque estamos a falar de uma Câmara que trabalha com esta associação há muito tempo e portanto é uma associação que a câmara conhece e sabe que é com russos e com simpatias com o regime", começa por afirmar.
"À falta de sensibilidade de colocar russos a acolher ucranianos, neste particular momento, soma-se a circunstância da Câmara ter ficado de braços cruzados e disse que pediu informações ao Governo e como entretanto não houve informações deixou-se andar", detalha ainda.
Mariana Mortágua lembrou que apesar de esta ser uma situação que carece de mais fiscalização, é preciso questionar também por que motivo o mundo se organizou tão rapidamente para receber estes refugiados e não outros.
Recorde-se que esta segunda-feira foram abertos dois inquéritos sobre o caso dos refugiados ucranianos recepcionados por russos pró-Putin em Setúbal, um por parte da Inspeção Geral das Finanças e outro pela Comissão Nacional de Dados.
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