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Chega pode estabilizar-se, mas futuro dependerá de grupo parlamentar

Politólogos consideram que, depois do resultado nas eleições legislativas, o Chega pode "construir uma malha política nacional", mas defendem que a coerência do grupo parlamentar e a atuação do Governo serão determinantes para as suas perspetivas de futuro.

Chega pode estabilizar-se, mas futuro dependerá de grupo parlamentar
Notícias ao Minuto

18:01 - 01/02/22 por Lusa

Política Legislativas

Depois de o Chega ter alcançado, nas eleições legislativas de domingo, 7,15% de votos e 12 deputados -- em comparação com os 1,29% registados em 2019 e a eleição de um único representante --, o investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa António Costa Pinto sublinhou à Lusa que "sempre houve" terreno fértil em termos ideológicos para o partido de André Ventura, relembrando que, desde os anos 1990, há inquéritos que demonstram que "há segmentos na sociedade portuguesa cujos valores são suscetíveis de serem mobilizados pelo Chega".

"O valor da lei e da ordem, o valor do anticomunismo e antissocialismo, o valor da mobilização anticorrupção, anti-classe política sempre existiram e foram expressos por segmentos da sociedade portuguesa. O que é que aconteceu? É que, até aqui, uma parte desses segmentos da sociedade votavam no CDS ou no PSD", frisou.

Considerando que tanto os sociais-democratas como os centristas não conseguiram mobilizar esses segmentos, Costa Pinto sublinhou que eles foram "claramente enquanto voto de protesto" para o Chega, porque André Ventura "conseguiu chegar, numa conjuntura determinada, a esse eleitorado".

"O Chega parece-me que está para ficar. Evidentemente que as conjunturas políticas são fluidas, mas o Chega nos próximos anos tem uma oportunidade de se consolidar e de construir uma malha política nacional", perspetivou.

À Lusa, Conceição Pequito, professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Lisboa, sublinhou que o Chega "vai buscar votos aos abstencionistas usuais, ao PSD, ao CDS" e até à CDU, defendendo, no entanto, que o que mobilizou o eleitorado para votar no partido de André Ventura foi o "voto de protesto, do discurso e da retórica antissistema" e não tanto os "temas do racismo, da xenofobia".

"A oferta que o Chega dá ao eleitorado português não encontra eco nesses temas, não acredito que seja por questões de xenofobia, racismo, um discurso exclusivista, nativista. A sociedade portuguesa não tem uma estrutura política, social e económica que permita ao Chega crescer como um partido radical e de direita à semelhança dos seus congéneres europeus", sublinhou a professora, que vê no "antissistemismo de uma fatia considerável do povo português" a razão que justifica o resultado do Chega.

O investigador da Universidade de Oxford Vicente Valentim indicou que, tanto na Europa como em Portugal, o eleitorado que vota em partidos de direita radical "tem ansiedade em relação a mudanças estruturais que as sociedades ocidentais têm passado no último tempo, como seja a globalização, o aumento da emigração, o aumento da automatização do trabalho".

Perspetivando o futuro do Chega, Valentim salientou que "é preciso alguma cautela em ver o crescimento espetacular do Chega nestas últimas eleições como uma tendência que se mantenha para o futuro", salientando que, nos restantes países europeus, partidos de direita radical "aparecem, crescem bastante no início, mas depois estagnam entre os 10% e 20% dos votos".

Susana Salgado, investigadora do ICS, considerou que a futura trajetória do Chega irá depender "da consistência, da coerência do grupo parlamentar" agora eleito, indicando que, caso haja uma "descoordenação", o próprio partido se pode "auto prejudicar, porque algumas daquelas pessoas que votaram sem grande convicção nas ideias acabam por migrar para outros projetos políticos porque percebem que ali não existe coerência".

Salgado referiu também que, se o PS, por ter uma maioria absoluta, "não responder de facto àquilo que as pessoas entendem que são os principais problemas com que têm de lidar" e "passarem quatro anos e continuarem a faltar as reformas que o país precisa", corre-se o "sério risco de crescer o eleitorado" do Chega.

"Grande parte da possibilidade de um travão desta direita radical populista está, neste momento, naquilo que será a atuação do próprio PS. (...) [Um voto no Chega] é um voto de protesto. Se não existirem outras alternativas credíveis, as pessoas depois acabam por votar naquilo que é a alternativa, naquilo que existe e, neste caso, é o Chega", indicou.

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