Jerónimo de Sousa falava num hotel de Lisboa, numa audição sobre economia e desenvolvimento, inserida "num quadro de consulta alargado" sobre o programa eleitoral do PCP, que, reiterou, terá entre as suas linhas essenciais "a valorização salarial assumida como emergência nacional" e "um elevado nível de investimento público".
No início da sua intervenção, o secretário-geral do PCP considerou que, com o contributo do seu partido, "o país vive hoje uma conjuntura diferente", em que a "conquista de direitos e rendimentos" se traduziu "na dinamização do mercado interno, com impactos positivos no crescimento económico e na criação de emprego".
Mais à frente, no entanto, sustentou que "não serão os atuais níveis de crescimento económico, realizados em setores sujeitos a grande volatilidade e num contexto externo favorável, que permitirão recuperar os atrasos de muitos anos e, sobretudo, os défices e estrangulamentos estruturais da economia portuguesa".
"Tenta-se fundamentar nesse crescimento, moderado, diga-se, e hoje já em desaceleração, a tese de que é possível resolver os problemas nacionais mantendo intocável o atual quadro de opções políticas e constrangimentos externos. Mas trata-se de uma falsa tese", prosseguiu.
Segundo Jerónimo de Sousa, "os problemas de fundo e estruturais" mantêm-se e "pequenas variações" no período recente "não iludem a natureza estrutural da evolução persistentemente negativa" da economia portuguesa desde o início do século XXI.
"Por muito que se afirme e se queira mostrar que se encontrou a fórmula da solução da quadratura do círculo, ou seja, da compatibilização dos ditames da União Europeia e do euro com a solução dos problemas nacionais, a evolução da situação económica e social nacional está aí a desmenti-lo", defendeu.
Para o secretário-geral do PCP, é preciso "vontade política para ir encontrando uma solução para libertar o país dos constrangimentos de uma dívida pública sufocante e inúmeras e inaceitáveis imposições da União Europeia" e impõe-se adotar "uma política alternativa para o desenvolvimento do país".
Essa "outra política" passa pela canalização do excedente orçamental para o investimento público, em especial nos serviços de saúde e transportes, e pelo apoio aos setores produtivos nacionais, aumento dos salários, com um salário mínimo nacional de 850 euros, referiu.
A regionalização e a recuperação do controlo público de empresas como CTT, TAP e ANA, das redes de telecomunicações e da banca foram outras propostas do PCP mencionadas por Jerónimo de Sousa.
"Portugal não está condenado ao atraso. É possível e necessário realizar outra política. Da nossa parte temos propostas e outras aqui virão, evidenciando a existência de uma política alternativa - propostas estas que teremos em conta, tal como todos os contributos dos convidados presentes", acrescentou.