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Fernando Midões: O ex-jornalista que ficará na história do 25 de Abril

Apresenta-se como um homem com garra e orgulhoso de tudo o que viveu. Apesar de se ter licenciado em Direito, os julgamentos ficaram fora da sua vida e preferiu enveredar pelo mundo das letras. Além de crítico de teatro, Fernando Midões foi também jornalista, tendo vivido de perto o fim da ditadura. Teve um papel significativo no 25 de Abril, mas também uma vida de momentos marcantes que traçam agora a sua história.

Notícias ao Minuto

08:00 - 19/12/17 por Marina Gonçalves e Sérgio Abrantes

País Casa do Artista

"Tive uma vida muito ligada às artes”. Foi com esta frase que começou o depoimento de Fernando Midões. Natural de Lisboa, a veia artística do ex-jornalista veio à tona logo em criança, quando fazia das caixas de sapatos o palco para as suas peças de teatro.

Uma brincadeira que era feita quando andava no 2.º ano de escolaridade, em conjunto com Augusto Sobral, dramaturgo, ator, encenador e cenógrafo português, de quem ficou amigo para o resto da vida.

Diplomado em ciências pedagógicas pela Faculdade de Letras de Lisboa e licenciado em direito pela Faculdade de Direito de Coimbra, Fernando Midões estava em estágio de advocacia quando um grande amigo seu, Vasco de Castro - que colaborava num jornal na província de Moura, 'A Planície', onde fazia desenhos e caricaturas – falou com o jornal e o convidou a fazer crítica de teatro. Foi aqui que começou a sua carreira como crítico, vindo mais tarde a colaborar com o Diário Popular e com o Diário de Notícias.

Na altura, a televisão tinha nascido há pouco tempo e era a grande novidade em Portugal. Convencido pelo entusiasmo de um amigo que estava a trabalhar na estação televisiva, Fernando Midões quis tentar entrar no pequeno ecrã para dar seguimento ao seu talento na escrita. Nesse momento, não havia vagas, o que deixou o ex-jornalista desanimado, mas não por muito tempo. Menos de um mês depois da sua primeira investida, acabou por integrar a equipa. Assim começou o seu percurso na RTP, onde esteve durante vários anos.

Aliás, foi na estação televisiva que Fernando Midões marcou a diferença, precisamente no dia da Revolução dos Cravos, tendo sido o responsável por grande parte das notícias dadas no Telejornal logo após o 25 de Abril.

Depois da Revolução que ditou o fim da ditadura, Fernando Midões começou a aparecer em frente às câmaras, a dar as notícias aos portugueses. “Estava tornado uma figura pública”, partilha connosco, em jeito de brincadeira.

Além do talento para as letras, também realizava o Telejornal, o que o levou, anos mais tarde, a fazer um curso de realização. A partir daí, foi responsável por muitos programas de televisão, principalmente ligados a teatro, uma vez que já tinha alguma experiência nessa área.

A televisão levou-o a conhecer quase todos os continentes, menos o americano. Mas de todos os países onde esteve, foi Timor que conquistou o seu coração. “Fiquei apaixonado por Timor, pela maneira de ser daquela gente, a cultura...”, diz com orgulho na voz.

Fez também um programa sobre Cabo Verde. “Fui lá uns dois ou três anos seguidos fazer as mais variadas reportagens em todas as ilhas do arquipélago. Fiquei a gostar muito do país e senti muito o que um dia um cabo-verdiano me disse: ‘Nós somos demasiado europeus para nos chamarem africanos, somos demasiado africanos para nos chamarem europeus. Nós somos cabo-verdianos’”.

O Direito acabou por ficar de parte e hoje teria tomado a mesma decisão. O gosto pelas artes falou mais alto, tendo vivido orgulhosamente a sua carreira.

Aos 84 anos, Fernando Midões vive agora na Casa do Artista, um lugar que conheceu de perto há largos anos por ter sido também a casa da sua sogra, Maria Castelar, que teve um papel de relevo no início do cinema falado. Uma atriz que teve uma curta carreira, uma vez que abandonou os grandes ecrãs após o casamento.

Para o futuro, Fernando Midões espera ver de perto o crescimento dos seus netos, pois a família preenche-lhe o coração.

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