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Maria Candal: Menina com nome de Vila, fez da maternidade o seu hino

Em criança queria ser bailarina, mas “não tinha talento algum”. Um sonho que acabou por ficar ‘arrumado’, não tendo sido, ainda assim, o motivo para não enveredar a tempo inteiro pelo mundo das artes. Maria Candal “começou a cantarolar” e acabou por encantar todos com a sua voz.

Notícias ao Minuto

08:00 - 22/12/17 por Marina Gonçalves e Sérgio Abrantes

País Artistas

"Fazia umas coisinhas para os amigos e para o padre da localidade, que gostava muito de me ouvir. Entretanto, comecei a cantar a sério. Um cantor humorista gostou muito da minha voz e fez letras apropriadas para a minha idade. Lá cantei”, recordou Maria Odete, conhecida como Maria Candal, referindo que nesta altura tinha uns 12 ou 13 anos.

Começou a cantar no Candal e foi aí que nasceu o seu nome artístico. Uma vez que era reconhecida como a Miúda do Candal, mais tarde – já em Lisboa – decidiu adotar o nome artístico com que ainda hoje se apresenta: Maria Candal.

A partir daí, cantou em concursos, tendo também atuado ao lado Amália Rodrigues. Mas não se ficou só pela música. Fazia também teatro amador e o gosto pela representação começou a crescer de dia para dia.

Aos 15 anos, fez Revista no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, tendo-se estreado mais tarde na capital. “Com 18 anos vim para Lisboa, estreei-me no Avenida, no 'Viva o Homem', com a Mirita Casimiro -  tinha sido a reaparição dela - e com o Camilo de Oliveira - que interpretava o seu primeiro grande papel. Assim foi sucedendo. Fiz opereta, comédia, mais revistas, cantava e gravava, fazia televisão, fui a África com a Beatriz Costa com três Revistas e uma peça infantil, cantava muito em boites dos grandes hotéis, que naquela altura era o mais chique que havia”, lembra.

Os pais acompanharam-na sempre e acabaram por vir trabalhar também para Lisboa. Casou aos 18 anos com o namorado de longa data, que também fazia parte do mundo das artes, mas cedo ficou viúva, aos 22 anos.

“Aí prendi-me um bocadinho. Tive muitas oportunidades nessa altura, até para o estrangeiro. O meu marido morreu muito cedo. Estávamos no Porto a trabalhar no Sá da Bandeira, em tournée. O primeiro ano, principalmente, custou-me muito a aceitar contratos para fora porque tinha medo. Se fosse com colegas, tudo bem, sentia-me amparada. Agora sozinha, tinha muito medo de ser levada. Tive um contrato muito bom para ir fazer uma tournée pela Europa, cantar nos melhores hotéis, e rejeitei. Preferi ir numa companhia de teatro para África ganhar muito menos, mas ia com muita companhia. Depois comecei a aprender a viver sozinha e voltei a casar”, desabafa

Viveu das artes no tempo da ditadura, sentido o regime no seu dia a dia profissional. “Como fazíamos Revista, os autores viam-se e desejavam-se para conseguir dar a volta aos censores. Mas eles também não deviam ter os neurónios muito afinados porque eu percebia que estavam a dar-lhe a volta e eles não percebiam. Às vezes deixavam passar porque não percebiam. A mim não afetou muito porque eu não estava nessa parte. Cantava aquilo que me davam e representava aquilo que existia. Embora houvesse vários problemas com o [escritor] Luís de Sttau Monteiro - de cortes e até ameaças de ser preso - porque ele era do contra. A maior parte dos artistas também era, mas uns davam mais a cara e outros retraíam-se mais”, refere. 

De toda a sua carreira, um dos momentos que mais a marcou foi um espetáculo dado num hotel na Praia da Rocha, no Algarve.

“Já estava grávida da minha filha [aos 32 anos]. Nessa noite estava lá o rei Simeão com a sua favorita, mas eu nem sabia quem é que lá estava. Cantei e tinha um problema com a gravidez. Com as agonias, parecia que tinha sempre uma ‘tripinha’ na garganta, então, custava-me muito cantar. Havia uma canção, muito bonita, que eu interpretava muito bem. Eu só cantava certos números em locais mais intimistas. Acabei de cantar e fui a correr para o camarim para poder limpar a garganta. Chega-me o gerente e diz: ‘Menina Candal, tem de lá ir outra vez porque estão a pedir muito para cantar a última canção [‘Que Saudade’], está aí o rei Simeão...’”, recorda, acrescentando que nessa noite cantou a mesma música mais três vezes.

Na televisão, Maria Candal estreou-se no ‘Café Concerto’, depois veio ‘Melodias de Sempre’, seguindo-se outros programas, incluindo um formato totalmente dedicado ao fado.

Recebeu boas críticas, até de Mário Castrim, que, diz Maria Candal, era “muito severo e as pessoas tinham medo das suas críticas”.

Com todos os altos e baixos, teve, na sua opinião, uma carreira recheada de sucessos, apesar de ter sido curta. Depois de ver a filha nascer, Maria Candal “entregou-se à família”, optando por dedicar-se à maternidade, o que a levou a retirar-se dos palcos.

Agora, com 83 anos, Maria Candal vive na Casa do Artista, onde reencontrou alguns colegas e recordou todo o seu percurso profissional, algo que tinha esquecido ao longo dos anos.

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