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"Queremos ser aceites". A carta aberta da mãe de um bebé com cancro

Pouco depois de o filho bebé ter sido diagnosticado com cancro, Sónia decidiu “pensar no obstáculo como uma lição de vida”. Precisava de “acordar todos os dias com força” porque o filho necessitava de si. No Dia Internacional da Criança com Cancro, o Notícias ao Minuto divulga uma carta aberta desta mãe que pede: "acima da pena queríamos apenas ser aceites".

"Queremos ser aceites". A carta aberta da mãe de um bebé com cancro
Notícias ao Minuto

08:20 - 15/02/17 por Notícias Ao Minuto

País Cancro

A história de Rodrigo é contada pela mãe, na primeira pessoa, no Dia Internacional da Criança com Cancro. A vida de Sónia mudou radicalmente, em novembro de 2016, quando o filho de 19 meses foi diagnosticado com linfoma linfoblastico de células T (não-Hodgkin).

O pequeno Rodrigo é deste então submetido a tratamentos de quimioterapia. Mas é na perspetiva dos cuidadores que incide a carta aberta escrita por Sónia, uma mãe de 27 anos ciente de que muitos pais se sentem “retraídos” quando vivem situações como a sua e que “a falta de partilha torna tudo mais difícil”.

Ser-se pai ou mãe de uma criança doente oncológica ultrapassa aquilo para que fomos destinados biologicamente. Altera toda uma perspetiva de vida, altera todos os projetos e minimiza todos os outros problemas. Acima de tudo transforma-nos, e mesmo que indiretamente, exclui-nos da sociedade. A sociedade está pronta a adaptar-se a esta realidade mas está desinformada e sem muita educação nesse sentido. Antes de ser mãe de uma criança doente oncológica não tinha um contacto próximo com o cancro infantil. O cancro infantil não é igual ao cancro de um adulto, aliás nenhum cancro é igual. Quando recebi o diagnóstico não houve tempo para existir um ‘porquê’, vieram os ‘como’. Como é que íamos ultrapassar, como é que ia ser? Porque ninguém está preparado, seja mentalmente seja financeiramente, seja o núcleo familiar. E certamente nós não estávamos, mas depressa aprendemos que só há duas hipóteses: ou deixamos que a doença nos consuma e consuma os nossos dias ou aceitamos que temos uma missão, e a nossa missão passa a ser sobretudo ganhar tempo e dedicar tempo. Ganhar tempo e dedicá-lo ao nosso filho para que ele tenha uma oportunidade justa de ter uma vida feliz, ultrapassar isto e sobretudo ultrapassar tudo com o maior conforto possível. Deixamos de ser pais, deixamos de ser só pais. Deixei de ser só mãe, passamos a ser pais e enfermeiros. Deixei de ler simplesmente o jornal e um livro, passei a devorar toda a informação que dizia respeito ao cancro do meu filho e até ao dos outros, e passei a ter uma agenda com os nomes dos medicamentos, as doses, os exames feitos e os por fazer. Ao longo deste caminho somos educados a prestar mais atenção a este problema e aos outros. Poucos dias depois de receber o diagnóstico decidi pensar neste obstáculo como uma lição de vida porque é uma lição, independentemente se necessitamos dela ou não, se a merecemos. Há uma fase por que passei e pela qual todos os pais passam, em que se perguntam se e o que fizeram de mal, se têm alguma culpa, se é um ‘castigo’. É porque ainda não aceitámos e a aceitação é fundamental para chegarmos à cura. Temos de aceitar para poder acordar todos os dias com força porque eles precisam de nós. Eu aceitei porque o meu filho só tem os pais e é deles que necessita 24/7. Os pais nesta situação como nós não têm muitos apoios, por vezes resta mesmo a família e os amigos. Nós tivemos mais ajuda de pessoas inesperadas do que das mais próximas, porque este é um problema delicado e infelizmente muitos pais decidem isolar-se e não partilham nem verbalizam as dificuldades por que passam, por vergonha ou orgulho, isso não sei. Sei que partilhei o problema do meu filho desde o primeiro dia e foi automaticamente um peso que saiu dos ombros, e fi-lo também para ajudar a educar quem está a nossa volta, porque se nós não partilhamos as dificuldades não podemos esperar que nos auxiliem. Nós somos pais como todos os outros, mas com um extra. E acima da pena queríamos apenas ser aceites porque é um processo longo, toma conta da nossa vida, e se não tomamos cuidado é um processo solitário.

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