Guterres "tem oportunidade para fazer da ONU uma organização relevante"
O antigo secretário norte-americano da Defesa Leon Panetta considera que o português António Guterres "tem a oportunidade para fazer das Nações Unidas uma organização relevante no século XXI", se "levar a cabo algumas reformas necessárias para que se torne efetiva".
© Reuters
País Leon Panetta
"Penso que o novo líder nas Nações Unidas, se estiver disposto a investir a sua liderança e a assumir o risco associado, poderá fazer a diferença", afirmou, em entrevista à agência Lusa, o antigo governante da Administração de Barack Obama entre 2011 e 2013, comentando a eleição do ex-primeiro-ministro português para secretário-geral da ONU.
"Por tudo aquilo que li, acredito que ele [António Guterres] tem o potencial para oferecer essa liderança. É uma pessoa que tem mostrado capacidade para assumir alguns desafios importantes e - acho que digo isto enquanto italiano -, quando os latinos tomam a decisão de fazer alguma coisa, fazem-na", continuou Panetta, que é filho de imigrantes italianos nos Estados Unidos.
"Eu funciono de acordo com o princípio de que, no que diz respeito à democracia e liderança no mundo, ou abordamos as coisas por via da liderança ou da crise. Se houver liderança e disponibilidade para se assumir os riscos associados à liderança, acredito que podemos confrontar as crises. Se não, então a crise toma conta da política", considerou o ex-diretor da CIA entre 2009 e 2011.
"Acontece que, durante demasiado tempo, deixámos que a política fosse conduzida pelas crises, em vez da liderança forte", exemplificou.
Panetta associa-se aos que pensam "que há reformas que deviam ser consideradas no sentido de melhorar a forma de funcionamento das Nações Unidas, em particular, na área da manutenção da paz e da capacidade de se envolver em conflitos e na tentativa de os prevenir".
"Percebo que o Conselho de Segurança tenha sido erguido em cima da capacidade de veto dos seus membros permanentes, e não tenho a certeza de que isso possa alguma vez ser mudado, mas penso também que deveríamos considerar alguns passos para melhorar a forma como as Nações Unidas poderão reforçar a sua capacidade de impor os princípios pelos quais se rege", continuou.
Senão, "a alternativa é recorrermos a outras coligações, recorrermos à NATO, ou a outras alianças que sejam capazes de agir e responder à emergência das crises", acrescentou o ex-governante norte-americano.
"Estamos no século XXI e a testemunhar a manifestação de muitos pontos de crise em todo o mundo: o Estado Islâmico e o terrorismo, o Irão, a Coreia do Norte, a Rússia e a entrada num novo capítulo da Guerra Fria, a China, quando reclama soberania territorial no Mar da China". Hoje "há uma série de pontos de crise que têm o potencial para se tornarem conflitos muito maiores", ilustrou Leon Panetta.
Por tudo isto, considerou, é "mais importante do que nunca que as Nações Unidas assumam a sua liderança na abordagem destes desafios".
"Se a ONU não o fizer -- obviamente, muita gente confia nos Estados Unidos e eu próprio acredito que os Estados Unidos devem também oferecer liderança no mundo. Mas seria preferível que a comunidade das nações do mundo tomasse a responsabilidade de lidar com estas ameaças à paz", concluiu o antigo responsável pela pasta da Defesa de Barack Obama.
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